Na entrada da fortaleza, o memorial aos presos políticos lembra aqueles que por aqui passaram entre 1934 e 1974. À inscrição inicial, inaugurada a 25 de abril de 2019, foram acrescentados agora mais 160 nomes, num total de 2 626. “No memorial, constam os presos que foram identificados, mas a investigação histórica continua”, diz Aida Rechena, diretora do Museu Nacional Resistência e Liberdade (MNRL) e guia da nossa visita.
A data de abertura do museu, com o projeto de musealização concluído, não foi escolhida ao acaso. A 27 de abril de 1974, eram libertados os presos do Forte de Peniche. “Logo nesse dia, a população começa a reivindicar o forte para si, colocando uma faixa que dizia ‘Peniche exige forte para visitar e não para ficar’”, conta Aida Rechena. Neste sábado, 27, está programada uma série de atividades, desde a leitura de um texto inédito do historiador e investigador António Borges Coelho (um dos presos políticos de Peniche) a música e intervenções de quem se viu privado de liberdade.
As cores ajudam a situar-nos dentro do pano da muralha. Pintados de amarelo estão, hoje, os edifícios que faziam parte do velho Forte de Peniche; de branco, as construções da penitenciária mandada edificar por Salazar, a partir de 1953, à imagem das prisões de alta segurança dos EUA.
Quem aqui vier poderá visitar gratuitamente a Capela de Santa Bárbara, na qual se conta a história da Fortaleza de Peniche; o Fortim Redondo, conhecido como “segredo” pelos prisioneiros, génese da fortaleza e onde ficavam as celas para castigos disciplinares; e o tal memorial.
A partir daqui, rapidamente se chega ao Parlatório (inaugurado em 1967), paredes e azulejos brancos asséticos, onde decorriam as visitas. Nesta zona, encontram-se ainda duas salas contíguas: numa, serão exibidos filmes com testemunhos de filhos de presos; na outra, a que chamam sala dos casamentos, por servir para essas cerimónias (só os casados podiam receber visitas), fala-se de Peniche enquanto terra de resistência e solidariedade.
Visitáveis, pela primeira vez, estão os tais blocos da penitenciária que Salazar mandou construir, considerada, na altura, a prisão de alta segurança mais moderna do País. Entre os muitos acontecimentos e as memórias que estes edifícios encerram estão as fugas, um dos conteúdos tratados na exposição de longa duração. De Peniche evadiram-se, entre outros, António Dias Lourenço, dirigente do PCP, a 17 de dezembro de 1957, e Álvaro Cunhal, o histórico líder comunista, a 3 de janeiro de 1960.
No Bloco C do complexo da prisão, zona designada de museu, ficam a cafetaria (ainda por abrir), o pátio da cisterna e a livraria especializada, também de acesso livre. O restante percurso expositivo, dividido em quatro temas – As Celas de Alta Segurança; Exposição Resistência e Liberdade; Galeria da Liberdade e Celas Individuais –, tem entrada paga e vale cada euro.
Piso a piso, bloco a bloco, encontram-se as celas de onde fugiram Álvaro Cunhal e oito companheiros, como era o quotidiano dos presos e ao que estavam sujeitos. Já na Exposição Resistência e Liberdade, através de documentos e objetos, abordam-se temas como o regime fascista; o sistema repressivo e policial, incluindo a PIDE e as prisões, com destaque para o Tarrafal; o colonialismo e a guerra; e, por fim, a resistência em todas as frentes e a clandestinidade.
O percurso expositivo continua na Galeria da Liberdade, centrada no 25 de Abril e no 1º de Maio já em liberdade com passagem pelas celas de castigo do “novo segredo”, onde se veem as únicas paredes com inscrições feitas no pós-25 de Abril.
Museu Nacional Resistência e Liberdade > Fortaleza de Peniche > Campo da República, 609 > T. 262 798 028 > ter-dom 10h-18h > €8, dom grátis