No número 723 da Estrada de Benfica, em Lisboa, a pequena estrutura forrada a vidro preto do Cineteatro Turim mais parece uma caixinha de surpresas, com tanto que lá vai caber: cinema, teatro, música, workshops, retrogaming, exposições e o Camada – um restaurante com francesinhas como especialidade. “Tinha este compromisso comigo: fazer o possível e o impossível para reabrir este lugar emblemático, que faz parte da memória coletiva deste bairro”, diz Ricardo Marques, presidente da Junta de Freguesia de Benfica. Inserido na iniciativa municipal Um Teatro em Cada Bairro, o antigo cinema é agora devolvido à população, com um programa gratuito, já neste fim de semana.
“Esta é uma sala multifacetada e multidisciplinar, onde vamos acolher diferentes propostas artísticas, apoiar artistas emergentes, coletividades e associações locais, com uma grande versatilidade de conteúdos”, sublinha.
No sábado, 16, vai reviver-se o espírito dos jogos Arcade, assistir à peça de teatro infantil Trilogia do Lobo, pela Associação Juvenil de Animação Artística O Tártaro, e ao filme Os Caça-Fantasmas, na matiné, tal como quando o Cinema Turim abriu em 1984. De seguida, Nuno Markl conversará com o público sobre esse clássico, realizado por Ivan Reitman, e Dino D’Santiago vai subir ao palco para um concerto do seu projeto Lisboa Criola. O dia encerra com um DJ Set de Rui Pregal da Cunha, eterno vocalista de Heróis do Mar, banda nascida no Grupo Desportivo do Calhariz de Benfica. Já no domingo, 17, destaca-se a sessão de cinema de animação Os Demónios do Meu Avô, seguida da conversa com o realizador Nuno Beato e uma sessão de stand-up comedy, com Liliana Marques, que convida Joana Gama, David Cristina e Dagu.
Programar para o futuro
O projeto de reabilitação da sala de cinema e da antiga estrutura do centro comercial não lhes retirou o charme que tinham nas décadas de 80 e 90 do século passado. Em todo o edifício, foram mantidos elementos originais. No piso da entrada, temos o quiosque da bilheteira, por exemplo, enquanto no de baixo, no Auditório Afonso Moreira, se mantiveram as cadeiras estofadas a veludo e as paredes; no vizinho Cine-Bar, as vitrinas são as mesmas de sempre. Gerido pela Associação Cultural Menino da Lágrima, o Cine-Bar é uma espécie de Arcade café, com consolas antigas e máquinas para jogar, finger food e bebidas, programação paralela e até um cantinho vintage, decorado a preceito com napperons, sofá, tapete e, claro, o quadro O Menino da Lágrima.
“Preparámos uma exposição para a inauguração a partir deste quadro. Pedimos a vários artistas que o interpretassem e produzissem uma obra”, explica Francisca Morais da Silva, presidente da associação. Tal como ela, também Miguel Ponces de Carvalho, Patrícia Ameixial e Diogo Andrade, presentes no dia da visita da VISÃO Se7e, “têm uma ligação umbilical e afetiva a Benfica e ao Turim.” O mesmo acontece com caras conhecidas do grande público, como a cantora Ana Bacalhau e o radialista Nuno Markl, também membros constituintes da associação e ativos nas atividades do Cine-Bar.
“Falávamos há algum tempo sobre criar pequenos eventos culturais em Benfica, mas estava tudo muito no ar… Com a realização dos Open Days do Turim, em outubro do ano passado, isto ganhou força, e a oportunidade de virmos para aqui deu-nos o impulso para avançarmos”, lembra Francisca. “Queremos que seja um espaço agradável, que atravesse gerações, mostre os jogos de infância dos pais ou filmes antigos, numa experiência de cinema que não se esgote quando se exibem os créditos finais”, diz Miguel Ponces de Carvalho. “Mas não queremos ficar presos à nostalgia”, acrescenta.
Aberto quase há 40 anos, pela mão de Afonso Moreira, pai das atrizes Anabela Moreira e Margarida Moreira, o Turim destacou-se enquanto sala de cinema e ponto de encontro de várias gerações. No futuro, quer ser um polo cultural de referência, um trabalho alimentado por iniciativas e artistas tão diferentes como Cifrão, que, com o Arcade Dance Center, ali realizará workshops e outras atividades, ou o Lisboa Criola de Dino D’Santiago, cujo projeto terá apresentações regulares. Também a Associação Cultural Meia Palavra Basta terá presença assídua com espetáculos teatrais. E, claro, a Menino da Lágrima, que, além das atividades do Cine-Bar, terá as quartas-feiras no auditório por sua conta.
Para Ricardo Marques, o compromisso terminará quando o quarteirão da cultura agregar o centenário Auditório Carlos Paredes, a Biblioteca António Lobo Antunes (em obras, ainda sem data prevista de finalização), o Palácio Baldaya, o Turim e, futuramente, a Alameda da Música – onde se costuma realizar o Arraial de Benfica e que será o primeiro espaço expositivo da cidade com 30 múpis digitais. “A descentralização dos espaços culturais é fundamental para a proximidade com as pessoas”, acredita o presidente da Junta de Freguesia de Benfica.
Cine-Teatro Turim > Estr. de Benfica, 723, Lisboa > Reabertura: 16 e 17 set, sáb-dom a partir 10h > grátis
O que aí vem
Cinema, teatro e música, para ver e ouvir até ao final do ano
Setembro
Sessões de stand-up comedy Dinamizadas pela Byfurcação – Associação Cultural > Algumas quintas e domingos
Concertos Lisboa Criola Com curadoria de Dino D’Santiago > Sextas
Outubro
Não Fui Eu Peça de João Ascenso, com Margarida Moreira, Ricardo Barbosa, Francisco Beatriz e Luciano Gomes. É a primeira produção da Associação Meia Palavra Basta > De quinta a domingo
Novembro
LEFFEST A partir deste ano, o LEFFEST – Lisboa Film Festival, organizado por Paulo Branco, fixa-se em Lisboa e tem passagem garantida pelo Auditório Afonso Moreira > 10 a 19 novembro
Dezembro
Ciclo Clássicos de Natal Sessões de cinema para toda a família, com filmes como o Sozinho em Casa, Música no Coração ou Die Hard > Sábados