Há 22 anos que o antigo Cinema Batalha deixou de exibir filmes. Desde 2010 que o edificio modernista projetado pelo arquiteto Artur Andrade em plena Segunda Guerra Mundial, e inaugurado em 1947 na Praça da Batalha, no Porto, se encontrava devoluto. Mas a partir de 9 de dezembro – a data foi finalmente anunciada em conferência de imprensa nesta quarta-feira, 28 – um dos ícones da cidade, classificado como Monumento de Interesse Público, reabrirá requalificado e com as valências de um Centro de Cinema.
As obras de restauro do edificio, cujo projeto foi entregue aos arquitetos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez (Atelier 15), duraram três anos (começaram a 18 de novembro de 2019) e ultrapassaram os cinco milhões de euros, um número superior aos 3,9 milhões previstos inicialmente.
A “derrapagem” financeira da empreitada ficou a dever-se, em grande medida, aos custos de aumento dos materiais motivados pela pandemia e ao trabalho de recuperação dos frescos de Júlio Pomar – em 1940, o artista pintou dois painéis alusivos às festas de São João que resistiram à tinta da censura da PIDE.
Propriedade da família Neves Real, o Batalha foi arrendado pela Câmara Municipal do Porto por um período de 25 anos (que pode vir a ser prolongado) e será um Centro de Cinema com uma equipa multidisciplinar própria dirigida pelo investigador e programador Guilherme Blanc.
“Não pretendemos promover um déjà vu dos anos dourados do Batalha”, reforçou o autarca do Porto, Rui Moreira, na conferência de imprensa. “Do passado, queremos, sobretudo, recuperar a centralidade urbana e cultural do Batalha. Mas vamos fazê-lo abrindo esta sala de cinema ao futuro e às dinâmicas da contemporaneidade”, sublinhou.
DO CONTEMPORÂNEO AO CLÁSSICO
“Ter uma programação através da qual as pessoas possam aceder a cinema contemporâneo, mas também a uma oferta programática que ligue o público ao cinema clássico e de arquivo”, eis como Guilherme Blanc, o diretor artístico do Batalha Centro de Cinema, resume a agenda dos próximos meses.
De dezembro a julho, o Batalha Centro de Cinema organizará dez retrospetivas de realizadores, a começar pela exibição de 17 longas-metragens da francesa Claire Denis (em dezembro e janeiro). Seguem-se os ciclos dedicados a Agnieszka Polska (dezembro), Melvin Van Peebles (fevereiro), ao português André Gil Mata (fevereiro), Zacharias Kunuk (março), Riar Rizaldi (abril), Luísa Homem (abril e maio), Joanna Hogg (abril), Lorenza Mazzetti (maio), Fátima Al Qadiri (maio), e, entre outros, Basil da Cunha (junho).
“Políticas do Sci-Fi” será o nome do primeiro ciclo temático inaugural que propõe “discutir o modo como o género ficção cientifica vem absorvendo a discussão de questões que marcaram debates politicos e culturais do século XX e do nosso tempo”.
Até julho, seguem-se mais três ciclos bimensais que abordam questões sociais, culturais e politicas: “Domesticidade(s)”, em março, “El Futuro Ya No Está Aqui”, em maio, e “Contra-Fluxos”, em julho. Mensalmente, o programa “Luas Novas” destaca a prática fílmica de novos nomes do cinema português: Tomás Paula Marques, David Pinheiro Vicente, Alexandra Ramires e Laura Gonçalves, são alguns dos primeiros cineastas nacionais.
Quinzenalmente, aos domingos de manhã, serão recuperadas as Matinés do Cineclube do Porto com a exibição de alguns dos filmes marcantes do mais antigo cineclube português no ativo – Berlin: Symphony of a Great City (1927), de Walter Ruttmann, será um dos primeiros.
A ligação do cinema à música e à performance, cursos de crítica de cinema, workshops, oficinas de realização e visitas guiadas ao edifício, fazem também parte da programação. Para além da exibição de filmes relacionados com efemérides – um deles, que estreará daqui a um ano, em dezembro de 2023, será Os Amigos do Gaspar: Uma Reunião na Cidade, a partir dos temas do álbum de Sérgio Godinho Canta com Os Amigos do Gaspar (1988) com uma nova encenação que irá trazer os personagens dos anos 80 até à atualidade. A bilheteira do Batalha Centro de Cinema abre no dia 17 de novembro.
OS NÚMEROS DO BATALHA CENTRO DE CINEMA
- 5 milhões, 170 mil euros foi o custo final das obras de requalificação
- 2 salas de projeção: a Sala 1 (299 lugares) e a Sala 2 (126 lugares)
- 1 biblioteca (sala de leitura com 14 lugares, com postos de visionamento dos filmes da filmoteca)
- 1 filmoteca dedicada ao património fílmico do Porto (o catálogo inclui filmes de ficção, animação e documentário, registos audiovisuais ou séries de televisão…)
- 1 livraria (especializada em cinema e imagem em movimento)
- 1 cafetaria e bar (resulta da recuperação do antigo salão de chá onde nos anos 70 foi construida a Sala Bebé)
- 7 sessões de cinema exibidas por semana (em horário pós-laboral, de quarta a sexta, e todo o dia ao fim de semana)
- €5 o valor de cada bilhete de cinema (€2,50 com descontos)
- 148 sessões (de dezembro a julho), 53 das quais para escolas e 33% dedicadas ao cinema português, algum do qual sobre o Porto