1. Loucos Anos 20
Tudo começou na década de 1920, em torno de um edifício de modelo parisiense, ao fundo da Rua do Salitre. Tratava-se do palacete do industrial têxtil Adolfo de Lima Mayer, desenhado pelo italiano Nicola Bigaglia e distinguido, em 1902, com a primeira edição do Prémio Valmor. Por razões de partilhas, o prédio seria vendido, em 1920, à Sociedade Avenida Parque, do empresário de espetáculos Luís Galhardo. A ideia, que não foi por diante, era adaptá-lo ao teatro. Em vez disso, foi vendido, em 1930, à Espanha, que ali instalou os serviços consulares de Lisboa, enquanto os jardins, nas traseiras, se transformavam em parque de diversões.
2. Tirinhos, comes e bebes
A Feira Popular de Lisboa apenas nasceria em 1943, por iniciativa do jornal O Século. Antes disso, “a feira” era o Parque Mayer. Feira, mesmo, com as atrações do tiro ao alvo, dos matrecos, dos combates de boxe (Belarmino engraxava sapatos na Rua do Salitre), dos restaurantes, dos cafés, dos teatros de revista e do cinema – estando votado à Sétima Arte o modernista Capitólio (inicialmente, El Dorado), concretizado, em 1930, por Cristino da Silva, no mesmo estilo de art déco com que concebeu as quatro colunas que balizam a entrada do Parque. Lá para trás, ficava o guarda-roupa Paiva, que fornecia os teatros e alugava trajes de fantasia.
3. Teatro e cinema
Em 1955, inaugurava-se um novo teatro no Parque Mayer. Era o ABC, que ia juntar-se ao pioneiro Maria Vitória, de 1922, e ao Variedades, de 1926. Mais para cima, perto do Jardim Botânico, ficavam o Pavilhão Português e a Esplanada Egípcia, onde eram projetados filmes ao ar livre.
4. Fazer rir o pagode
De uma ou de outra forma, o Parque Mayer era uma componente importante do modo de vida lisboeta. Excursões vindas da província (como então se dizia) tinham ali ponto de paragem obrigatório, tal como os monumentos de Belém e a Fonte Luminosa da Alameda. A revista fazia rir todos os portugueses, num tempo em que a televisão preenchia mal as medidas da capacidade humana de divertimento, tanto mais que bastava uma referência ao “nosso santo Antoninho” – obviamente Salazar – para fazer a plateia estalar em gargalhadas.
Todos ao Parque
O programa do centenário inclui várias iniciativas grátis, ao longo deste mês
Parque Mayer 100 Anos – O Esplendor da Revista A exposição evoca as origens e transformações que aquele pedaço de cidade, entre a Avenida da Liberdade e o Jardim Botânico, sofreu ao longo de décadas. Pç. dos Restauradores > até 31 jul
Itinerários São dois os passeios guiados: um sobre a história do Parque Mayer (19-22 jul, ter-sáb 10h30), outro sobre os anos de ouro do cinema português – grande parte das salas de exibição concentrava-se em redor da Avenida da Liberdade (9 jul, sáb, 13 jul, qua 10h30). Inscrições T. 21 817 0742
Tertúlias As memórias do Parque Mayer são contadas na primeira pessoa numa série de conversas com artistas, trabalhadores e espectadores. Pavilhão Português > 6, 13, 20 e 27 jul, qua 16h