A lula-gigante, com 207 quilos e 8,20 metros de comprimento – capturada em 1972, no banco Flemish Cap, no Atlântico Norte, a cerca de 130 metros de profundidade –, é um dos monstros marinhos do Aquário Vasco da Gama e uma das espécies mostradas na renovada Galeria dos Invertebrados. É neste corredor, onde a madeira escura deu lugar a um profundo azul, que se inicia a visita ao Aquário Vasco da Gama e se descobrem os primeiros 19 aquários, entre os quais uma fábrica de plâncton, que alimenta parte das espécies que aqui vivem. Com novos painéis informativos, alguns com QR Code para se poder ouvir os sons dos peixes, este é o primeiro sinal da evolução tecnológica em curso nesta casa da Ciência, inaugurada, em 1898, pelo rei D. Carlos, para expor a coleção de espécies recolhidas nas suas campanhas oceanográficas.
A transformação continua e, já na zona central, o grande tanque que alojou tartarugas (a última foi reintroduzida no mar em novembro de 2017) tem agora esturjões-siberianos e vigias nas paredes laterais, à medida dos mais pequenos. Nesta zona, dedicada à vida na água doce, mostra-se, por exemplo, o ruivaco-do-oeste, espécie que vive ameaçada e que o aquário “recolheu no local e trouxe para reprodução e posterior repovoamento, uma das missões do aquário”, justifica o diretor Nuno Leitão que, desde que tomou posse como diretor, há cerca de um ano e meio, ainda não parou de fazer melhorias no aquário.
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Perto dos ruivacos, um novo aquário está apetrechado por forma a alojar enguias-elétricas, cuja intensidade da descarga libertada será medida e visível num painel informativo. Uns passos mais à frente, a zona do tanque das otárias (esvaziado em novembro de 2016, quando Olívia, o último exemplar, morreu de velhice) deu lugar à Janela Virtual para o Oceano, a sala mais tecnológica. O entusiasmo das crianças com o chão interativo (permite chapinhar na água e ver tartarugas a multiplicarem-se, assim que se pisa numa delas) e a parede digital de 20 metros quadrados, um megaecrã tátil interativo, que recria o fundo do mar em vários cenários 3D, mostram que o objetivo da instalação foi cumprido. “Temos uma missão educativa. A tecnologia ajuda a tornar a visita mais atrativa às novas gerações e a passar a mensagem de preservação e de conservação da vida marinha”, explica o diretor. Nesta nova sala, há ainda uma mesa interativa em que os peixes personalizados pelos visitantes viajam através da tecnologia para um aquário virtual.
É preciso subir até à área museológica para se continuar a explorar as mudanças. O belíssimo Salão Nobre é como um gabinete de curiosidades, “com muitas espécies já extintas, este é um legado único no mundo”, diz Nuno Leitão, que criou numa sala ao lado a Biblioteca do Rei. Envidraçada e climatizada, guarda parte dos volumes da biblioteca científica do rei, bem como diários de bordo, manuscritos e ilustrações das suas 12 expedições – obras que pertencem ao espólio deixado pelo monarca e expostas no aquário. Em breve, esta informação poderá ser consultada numa mesa interativa colocada em frente da biblioteca. “Os visitantes vão poder folhear virtualmente estes volumes, admirar as ilustrações feitas pelo rei que, além de naturalista e pioneiro da oceanografia em Portugal, era um artista”, diz o diretor. Entre estas e outras curiosidades, há sempre mais para (re)descobrir no aquário.
Aquário Vasco da Gama > R. Direita do Dafundo, Dafundo, Algés > T. 21 420 5000 > seg-dom 10h-18h (última entrada às 17h30) > €5, €2,50 (3-12 anos), grátis (0-3 anos)
A não perder: Alguns destaques do espólio do Aquário Vasco da Gama
1. Eider de Steller (Polysticta stelleri)
O casal de patos Eider está exposto no museu e foi oferta de Eduardo VII a D. Carlos, aquando da sua visita a Portugal, em 1903. O diorama com exemplares naturalizados foi criado por James Gardner, taxidermista da Casa Real Inglesa.
2. Peixe-farol (Himantolophus groenlandicus)
Espécie rara, vive preferencialmente entre mil e dois mil metros de profundidade. A fêmea apresenta o único raio da primeira barbatana dorsal transformado num filamento com um órgão luminoso na extremidade, que agita diante da boca, atraindo as presas com os movimentos e luz. O exemplar exposto foi capturado em 1896, na costa da Nazaré.
3. Pata-roxa (Scyliorhinus canicula)
Vivem em águas costeiras, alimentam-se de invertebrados e pequenos peixes. Ovíparos, depositam grandes ovos protegidos por uma cápsula córnea com filamentos nos quatros vértices, através dos quais se fixam a algas e a rochas. Num dos aquários, há uma maternidade desta espécie.
4. Uma biblioteca viva
O rei D. Carlos cresceu rodeado de livros, no seio de uma família profundamente ligada à história das bibliotecas reais do País e que fez da coleção e divulgação de livros o pilar de uma política de conhecimento. Desenvolveu o seu trabalho científico a partir de um conjunto extenso de publicações, mais de 600 livros da Europa, África, Ásia, do Extremo Oriente e Japão, bem como de manuscritos de trabalho e ilustrações originais que formam a biblioteca científica aqui exposta.