1. Cantar a “Grândola”
A viver em Aveiro, Elisabete Figueiredo deslocou-se muitas vezes a Lisboa para descer a Avenida da Liberdade no 25 de Abril. Este ano, ainda em março, começou a pensar como iria celebrar a Revolução dos Cravos, estando confinada e o País em estado de emergência. “Pensei que poderia ser à janela ou à varanda e que podíamos cantar a Grândola às 3 da tarde, que é a hora a que habitualmente começa o desfile. Criei um evento no Facebook, convidei alguns amigos e contactos”. A palavra espalhou-se e o evento conta agora com mais de sete mil utilizadores do Facebook que confirmam que “vão” ou “estão interessados”. Elisabete explica que cada pessoa deve organizar-se para às 3 da tarde estar à janela a cantar Grândola Vila Morena, mas sublinha: “é tudo muito espontâneo, espero que sejamos muitos!”.
2. Cravos à janela
Foi depois de tomar conhecimento da iniciativa “Cantar A Grândola às 3 em Ponto da Tarde”, de Elisabete Figueiredo, que a jornalista Marie-line Darcy pensou que gostaria de acompanhar o momento. E lembrou-se de decorar a janela de casa com um cravo. “Inicialmente, pensei fazer um grande desenho numa colcha, mas com as lojas de bricolage todas fechadas, faltavam-me os materiais. Acho que vou acabar por usar batôm para pintar as pétalas”.
Na página de Facebook “Um Cravo à Janela”, além de confirmarem a adesão à iniciativa, os participantes podem descarregar a imagem de um cravo desenhado pela designer Isa Silva. Depois, basta imprimir no tamanho e material desejados, colorir o cravo e colá-lo à janela. “A janela é uma fronteira à qual eu não estava habituada. Talvez com este gesto a possamos abrir um pouco mais”, nota Marie-line. A viver em Portugal há quase 30 anos, a jornalista francesa desce, todos os anos, a Avenida da Liberdade. “Perceber o que significa o 25 de Abril é perceber muita coisa sobre o povo português”. Cravos à Janela > 25 abr, sáb 15h
3. Erguer um cartaz
Bárbara Assis Pacheco, as irmãs Margarida e Teresa Dias Coelho e Piedade Gralha são As Toupeiras, que, desde 2014 descem a Avenida da Liberdade no 25 de Abril, em Lisboa. Munidas de cartazes e faixas, as quatro amigas têm-se debruçado sobre temas atuais: do Governo de Passos Coelho às grandes revoluções mundiais, passando pelos despejos na cidade de Lisboa, pelas verbas baixas disponibilizadas para a Cultura ou pela presidência de Donald Trump. “Este ano, era difícil fugir ao tema do vírus, sobretudo às questões éticas, sociais e políticas que esta pandemia levanta”, diz Piedade Gralha, a professora de História deste grupo (Bárbara Assis Pacheco e as irmãs Margarida e Teresa Dias Coelho são artistas plásticas).
No Facebook de As Toupeiras, lê-se a frase de Joseph Beuys: “A única força revolucionária é a força da criatividade humana”. E será preciso criatividade, num ano em que a liberdade se festeja entre quatro paredes. Além de disponibilizarem todos os cartazes no Facebook, a partir das 15h deste sábado, 25 de abril, quando a manifestação da Avenida da Liberdade teria início, As Toupeiras prometem ainda outras surpresas. As Toupeiras > Facebook > 25 abr, sáb 15h
4. A música vai ser uma arma no Lux
Não nos deixam sair à rua num dia assim? Fiquemos em casa então, mais ou menos livremente, a combater este vírus, para que o País possa um dia voltar a erguer os cravos vermelhos com toda a propriedade, no Parlamento, na Avenida, onde nos der na gana. Por estes dias estranhos, vale-nos ter um Lux que toma nota disto tudo e que nos põe a pensar enquanto dançamos. Por isso, para celebrar a liberdade, adaptou o seu streaming semanal de sábado à noite para nos fazer companhia depois do almoço e de entoarmos o Grândola à janela, de cravo em punho.
Só quem nunca foi a uma matiné desta discoteca é que pode desdenhar de a coisa esta semana ser à tarde. Com o bom tempo que se espera, a festa do 25 de Abril será no magnífico terraço, com vista sobre o Tejo, e sob o lema “uma máscara não é uma mordaça, nunca”. A música, essa arma que não nos tem falhado na quarentena, será o prato forte da tarde, a cargo dos DJ Tiago Miranda, DjAl e Rui Vargas, sob a batuta do incontornável Pedro Ramos. Desta vez, haverá também conteúdos-surpresa, como a projeção dos cartazes d’As Toupeiras, para ir descobrindo ao longo de quatro horas de emissão em direto, no sítio do costume, que é como quem diz, na nossa casa. L.O. www.facebook.com/luxfragil e canal Lux Frágil no YouTube > 25 abr, sáb 15h30-19h30
5. A liberdade segundo Vhils

Após ter coberto as empenas e muros de Lisboa com obras de arte urbana, ao longo dos últimos anos, a Underdogs decidiu celebrar o 25 de Abril levando à letra a ideia que não é preciso estarmos juntos para estarmos perto. A plataforma cultural fundada por Vhils (Alexandre Farto) quer pôr em contacto artistas e público, de modo a que o segundo possa terminar o trabalho desenvolvido pelos primeiros. Underdogs Projecta é uma iniciativa que convida todos os portugueses a projetar, num edifício perto de si, obras de ±MaisMenos±, Add Fuel, AkaCorleone, Shepard Fairey, Tamara Alves e Wasted Rita.
As obras, desenvolvidas especificamente para este dia, serão entregues pela Underdogs em formato digital a todos os que quiserem tomar parte na acção coletiva. Os participantes têm de ter mais de 18 anos, um projetor vídeo em casa, uma parede de um edifício junto de casa, na qual consigam projetar com visibilidade as obras, e disponibilidade para tirar fotografias e gravar vídeos para partilhar nas redes sociais. É ainda possível acompanhar as projeções em tempo real, através do Instagram @underdogs_gallery. Underdogs Projecta > 25 abr, sáb 21h-23h > transmissão em direto em @underdogs_gallery > incrições pelo email info@under-dogs.net
6. Memórias de Abril
O Museu do Aljube – Liberdade e Resistência também comemora a Revolução dos Cravos a partir de casa. Após um apelo ao público para que se gravasse e enviasse pequenos vídeos com relatos de memórias do 25 de Abril de 1974, o museu uniu alguns desses registos a outros que tinha em arquivo, criando um vídeo que será transmitido na sua página no Facebook, bem como no Facebook e no Instagram do Cultura na Rua. Memórias de Abril > 25 abr, sáb > Facebook Cultura na Rua e Museu do Aljube – Liberdade e Resistência
7. Música portuguesa com DJ Vibe
Este ano, o 25 de Abril calha a um sábado, aquele dia que até há dois meses reservávamos para sair e dançar até o sol nascer. Ainda assim, em honra desse tempo e ao som de DJ Vibe, pode celebrar-se a liberdade de fazer festa onde se quiser. Movimento Português é uma iniciativa que, através de dois lives no Instagram, dará voz à música eletrónica nacional. “Nesta data tão importante, decidi homenagear os DJ, produtores e produtoras nacionais”, afirmou António Pereira (DJ Vibe), num vídeo publicado no Instagram e no Facebook, deixando um desafio. “Aproveito para fazer um apelo aos novos talentos. Podem fazer-me chegar os vossos trabalhos, por mensagem privada, no Instagram. Selecionarei um vencedor ou vencedora que será incluído neste set”. Movimento Português > Instagram @djvibeofficial > 25 abr, sáb 19h e 21h
8. Rir é preciso

Nesta sexta e no sábado, 24 e 25, às 22h, pode ver ou rever o espetáculo Isto só Neste País que Hugo Van Der Ding apresentou, em 2019, durante o Festival Política. Isto só Neste País > 24-25 abr, sex-sáb 22h > Facebook e Instagram
10. O Teatro Viriato também faz a revolução
A arte possui a liberdade de reinventar-se e renasce melhorada. É com este espírito que o Teatro Viriato, em Viseu, abre, neste sábado, 25, o SubPalco, uma nova sala de espetáculos, no Youtube. “É uma janela que se abre, para que muitos possam ver através dela. Até os que antes, por diversas razões, não tinham acesso ao teatro”, afirma Patrícia Portela, que assumiu a direção artística do Viriato pouco antes do início do estado de emergência.

Tal como há 46 anos, a revolução põe-se em marcha na sexta, 24, com Senha e Contrassenha poéticas, pela fadista Aldina Duarte (10h) e pelo encenador Jorge Silva Melo (22h55). Sábado, 25, o dia começa às 7h, na Antena1, e às 10h, na Rádio Jornal do Centro, com a transmissão de um fragmento de cinco minutos do espetáculo Um Museu Vivo de Memórias Pequenas e Esquecidas, de Joana Craveiro. Um excerto maior do espetáculo passará às 10h, nos canais digitais do Teatro do Viriato.
Além da rádio e da internet, a liberdade chega também à rua. Joana Craveiro andará pela cidade de Lisboa (8h-20h), a pé, numa performance que poderá ser apreciada por quem a for à janela, varanda ou terraço de casa, mas também em direto no canal SubPalco. Joana conta com a ajuda de Alexandra Freudenthal, Estêvão Antunes e Tânia Guerreiro que vão descrever o que vêem das janelas e do Cristo Rei, a quem lhes ligar. “É o teatro à distância de um telefonema. Uma oportunidade única de assistir a um espetáculo em que o ator está literalmente a falar ao espectador”, explica Patrícia Portela. “Tal como antes da pandemia, tem de se ligar para a bilheteira, receber a hora do telefonema e o número para o qual ligar. E não se pode atrasar, ou perde o espetáculo.”.
No domingo, 26, as celebrações encerram com dois Consultórios Telefónicos Revolucionários. Seguindo a lógica do dia anterior, o público terá de marcar hora para poder telefonar a Joana Craveiro, ouvindo crónicas do dia da libertação dos presos políticos de Caxias, em 1974, e a Jorge de Andrade, que lerá um texto de Chris Thorpe, em inglês.
A inexistência de um palco físico e o deambular dos artistas representam a liberdade de cada ator escolher em que palco representar. “Entrei no teatro quando ele fechou, mas Shakespeare dizia que o mundo inteiro é um palco”, refere Patrícia Portela. E conclui: “um artista é sempre um artista, reinventar-se, criar algo novo é inevitável”.
11. Na companhia de Zeca Afonso

Olhar Fraterno é um espetáculo tributo a Zeca Afonso, com autoria e encenação de Armando Luís e Roberto Moreira. Estreado em 2012, no Centro de Teatro da Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto, o espetáculo é agora reinventado e adaptado a um formato online, tornando-o acessível à distância de um ecrã. Quarenta atores em quarentena foram desafiados a ensaiar, a partir de casa, em videoconferência.
O resultado é uma peça de teatro montada em vídeo, com cenas gravadas em casa de cada ator, contando uma história sobre liberdade e a falta dela, sobre o medo e a coragem de o cantar a pleno pulmões. Em comunicado, os encenadores asseguram: “Queremos que o público olhe para o homem, para os seus fantasmas; que conheçam o José, o Zeca e o Zéquinha. Uma pessoa simples que só desejava ter o seu tamanho real”. Olhar Fraterno > sala online CTCMCB > 25 abr, sáb 21h30