As obras no Ulisseia, um armazém de Marvila transformado em apartamento, ainda não terminaram, mas já é possível ver os círculos de vários tamanhos que interagem uns com os outros, em constante tangência. Uma opção arquitetónica arriscada, que simboliza bem as mudanças que estão a acontecer um pouco por toda a cidade, em especial a oriente. Com projeto de reabilitação do atelier João Quintela + Tim Simon, este é apenas um dos 84 lugares públicos e privados, 38 dos quais novidades, que poderemos ver com outros olhos nesta sétima edição da Open House, organizada pela Trienal de Arquitetura e pela EGEAC. “Quisemos fazer uma espécie de raio-X à Lisboa de hoje e introduzir de forma muito clara uma dimensão urbana”, explicam quase em uníssono os comissários deste ano, o professor Luís Santiago Baptista e a investigadora Maria Rita Pais, na apresentação à imprensa. As visitas são conduzidas por voluntários ou especialistas, em horários predefinidos (as inscrições para os poucos espaços que necessitam de marcação fazem-se online, no site oficial da Open House).
Lisboa é uma cidade em evolução, e a organização quis que isso se refletisse na programação. “Procurámos evidenciar os desafios e as problemáticas que se enfrentam e salientar a importância da arquitetura e dos arquitetos para pensar o agora e o futuro lisboetas”, acrescenta Maria Rita Pais. É também por isso que estamos em Marvila, num lugar ainda em adaptação, efeito de um centro histórico a transbordar para novos bairros e formas de os viver. “Este é um caso muito especial da evolução urbana, porque, ao contrário do que acontece noutras zonas, não está apenas centrada no turismo, tendo equipamentos culturais, comerciais e de cowork”, salienta José Mateus, presidente da Trienal de Arquitetura. “Há muito que se esperava que se consolidasse a ligação entre o centro e o oriente; muitos achavam que tal não aconteceria e estamos finalmente a vê-la andar para a frente.”
A diversidade é traço comum aos diferentes pontos de um imenso mapa que o público poderá descobrir – ao longo destes dois dias, tanto se entra no atelier Cecílio de Sousa, espaço de trabalho do arquiteto Manuel Aires Mateus, como se percorre a habitação coletiva conhecida como Pantera Cor-de-Rosa, em Chelas, ou se descobre a Arquitetura ao serviço da Ciência na Fundação Champalimaud ou, então, se entra numa casa renovada no Restelo. Para José Mateus, a Open House “é e continua a ser uma iniciativa para lisboetas, que lhes dá a oportunidade de satisfazer várias curiosidades, mas também é um programa preparado para especialistas”, sublinha.
Este ano, pode ainda escolher-se uma terceira possibilidade de visita, que também não implica marcação: a realização de nove percursos urbanos a evidenciar as constantes alterações na paisagem urbana, conduzidos por especialistas de várias áreas, entre a História e a Arquitetura, como Ana Vaz Milheiro, que andará por Santos, Príncipe Real e Campo de Ourique; José Manuel Fernandes, numa viagem pelas Avenidas Novas, ou Michel Toussaint, que conduzirá o trajeto pelo Parque das Nações, entre a juventude dos seus edifícios e a relação com o Tejo.
São várias as iniciativas integradas na Open House, como workshops, concertos e programas para as crianças.
Open House Lisboa > vários locais > 22-23 set, sex-sáb > www.trienaldelisboa.com/ohl > grátis