No renovado Mercado do Bairro de Santos (ao Rego), os tradicionais vendedores de peixe, charcutaria, hortícolas, pão e flores estão lado a lado com novas lojas (lavandaria, barbearia, centro de cópias, roupa de bebé).
Arlindo Camacho
Enquanto vai picando a salsa para polvilhar o bacalhau à minhota, no fogão, atrás de dona Isabel fervilha um coelho à caçador, em que só apetece passar um pouco de pão no molho. Aos 68 anos, a cabo-verdiana, nascida na ilha de Maio, é uma das nove estreantes do Mercado do Bairro de Santos, mas com uma aura de veterana e um espírito de missão impressionantes. A morar em Portugal desde 1975, há 35 anos que trabalha como cozinheira de mão-cheia, mas só agora, graças à revitalização de 25 mercados, resultante do Plano Municipal dos Mercados de Lisboa 2016-2020, surgiu a oportunidade de se estabelecer por conta própria. Acreditamos que a sua cachupa (aos sábados e segundas), feijoada, dobrada e mão-de-vaca vão dar que falar.
Inaugurado há 30 anos, no Rego, ali para os lados da Praça de Espanha, este era o mercado mais degradado da cidade, como descreveu Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal, durante a sua reabertura no passado dia 14. Mas desengane-se quem pensa que a praça voltou a ter as bancas de fruta, de legumes, de flores ou de charcutaria. No interior, existe um supermercado Minipreço Family (igual a tantos outros…), enquanto uma vintena de vendedores ficaram distribuídos por uma série de lojas, numa verdadeira galeria comercial, como lhe chama Aníbal Teixeira da churrasqueira no andar de cima (onde está a padaria, a lavandaria, a barbearia, o centro de cópias e de roupa de bebé). Há 18 anos que Aníbal vende frangos para fora e, sem revelar truques, diz que o segredo está “em saber assá-los”. Para isso, todas as manhãs, anda ali a mimar as brasas de carvão, pelas quais também passa o entrecosto, as febras, as costeletas, a picanha, o coelho e o bacalhau.
Dá gosto ver a banca da peixaria de Carla e de Paulo, com tantas variedades de peixes frescos, todos eles com o olho bem vivinho. Há 24 anos ali, são dos mais antigos vendedores do mercado e concordam que este está mais bonito, “mas não funcional”. Com a junta de freguesia, ainda precisam de rever alguns problemas, como as torneiras que são poucas e, o mais gritante, o quiosque de jornais e de revistas a tapar-lhes a entrada. Esperamos que, na nossa próxima visita, todos os percalços estejam resolvidos.
Dá gosto ver a banca da peixaria de Carla e de Paulo, em Santos, com tantas variedades de peixes frescos, todos eles com o olho bem vivinho
No novo restaurante do Mercado do Bairro de Santos, há comida portuguesa e cabo-verdiana
Arlindo Camacho
Já no Mercado do Lumiar, agora dedicado aos produtos biológicos, Paula Piedade, da Horta do Adão, é um dos seis novos produtores presentes
Arlindo Camacho
Logo no início da Alameda das Linhas de Torres, perto da estação de metro, também o Mercado do Lumiar sofreu obras de renovação e se apresenta agora como o primeiro mercado português especializado em produtos de origem biológica. É verdade que não voltou a ser a céu aberto, como nos anos 1960, mas, além da parceria com a Agrobio – Associação Portuguesa de Agricultura Biológica, ganhou novas prateleiras para os produtos do supermercado Miosótis (com morada na Rua Latino Coelho). Lado a lado, chás, cafés, gelados, congelados, iogurtes, vinhos, cervejas, leites, massas, farinhas e até detergentes partilham espaço com os peixes e a charcutaria. Muitos foram os vendedores que quiseram ir embora, mas Mário Brito preferiu continuar a vender os queijos de Sousel, da serra da Estrela e da Beira Baixa, bem como os enchidos de porco preto de Arcos de Valdevez, temperados com vinho verde tinto, que há 23 anos são da preferência dos clientes. Na banca da Horta do Adão (Loures), um dos seis novos produtores biológicos presentes no mercado, ninguém fica indiferente ao rechonchudo tomate coração-de-boi, aos molhinhos de ervas aromáticas, às frescas alfaces ou às maneirinhas ameixas de São João. Carlos e Paula Piedade dedicam- -se sobretudo à produção hortícola, mas também têm 40 figueiras pingo-de-mel. A ver se provamos os figos na próxima visita.
Mercado do Bairro de Santos (ao Rego) > R. Cardeal Mercier, Lisboa > seg- -dom 7h-20h (restauração até 22h) > Mercado do Lumiar +Bio > Al. das Linhas de Torres, Lisboa > ter-dom 9h-14h, 17h-20h (a partir de set. 8h-20h)