Não há como fugir à sensação de que Lisboa é uma aldeia e à certeza de que a vida é um imenso ciclo. Interesso-me por umas chaminés que entrevejo diariamente à passagem pelo Bairro do Caramão da Ajuda e agora venho a saber que a Nossa Senhora que dá nome à rua onde elas se erguem, gorduchas e brancas, é a mesma que levou à edificação da igreja de que apenas continua de pé a Torre do Galo (sobre a qual já escrevi).
Passo a explicar por partes. A Rua de Nossa Senhora da Ajuda deve o seu nome à lenda que põe dois guardadores de cabras quinhentistas a descobrirem uma imagem da Virgem numa gruta natural ali perto. Pouco tempo depois, dois frades erguiam uma ermida e nascia uma Irmandade, mas as romarias eram tão concorridas que haveriam de precisar de uma ermida maior, onde mais tarde seria construída a tal igreja.
Tão inusitadas como o campanário, estas chaminés, típicas da fase final do período barroco, dão jeito para indicar onde funciona habitualmente o Centro de Aconselhamento e Orientação de Jovens da Fundação Portuguesa A Comunidade Contra a Sida (por estes dias noutro local porque o edifício vai para obras). A graça é que pertenciam a hospedarias setecentistas, numa altura em que os estrangeiros tanto gostavam de cá vir.