Era ideia que estava em embrião, esta de recolher a fruta que existe nas árvores da cidade e aproveitá-la. Desde a altura em que Adriana Freire abriu a Cozinha Popular da Mouraria, em 2013. “Foi maturando ao longo destes anos”, conta a fotógrafa. A escolha do Muita Fruta como um dos projetos vencedores do BIP/ZIP, o programa municipal que financia propostas com vista à revitalização das chamadas zonas de intervenção prioritária de Lisboa, veio dar o empurrão. “O objetivo primeiro é lutar contra o desperdício porque a verdade é que há imensos quintais em Lisboa com árvores de fruto, mas que cai e apodrece no chão”, defende Adriana Freire. E é aqui que entra a equipa de voluntários do projeto a dar uma ajuda aos proprietários, avaliando, por exemplo, o estado da árvore (para melhorar a qualidade da fruta) ou dando uma mão na apanha, assim chegue o tempo dela. “Em troca ficamos com parte da produção para ser distribuída por quem precisa ou transformada em produtos para serem vendidos”, explica Adriana.
Nada disto seria, no entanto, possível sem parcerias, salienta a fotógrafa, “tanto mais que são estas que permitem colocar o Muita Fruta noutro patamar”. A Associação Locals Approach, constituída por um grupo de arquitetos, está encarregue de fazer o mapeamento das árvores, identificando-as e avaliando o estado em que estão, nas freguesias de Santa Maria Maior, São Vicente e Arroios. Em preparação está ainda uma aplicação para que as pessoas possam identificar limoeiros, laranjeiras, romãzeiras, nespereiras e o que mais se encontrar na rua, em terrenos abandonados ou no seu próprio quintal. “E depois entramos em contacto para saber se querem colaborar connosco.”
A parceria com Colégio F3 (Food, Farming and Forestry) da Universidade de Lisboa, e que é transversal a 12 faculdades, dá o apoio técnico e científico. O Instituto Superior de Agronomia, por exemplo, contribui com os conhecimentos necessários ao tratamento das árvores, à produção e preservação dos alimentos. É no Cooking Lab deste instituto na Ajuda que vão ser produzidas as compotas, chutneys e demais conservas que, através de uma marca social, dará sustento financeiro ao projeto. Já uma equipa do Instituto Superior Técnico vai andar, para já, por Alfama, depois na Mouraria, a identificar nascentes, cursos de água ou antigas cisternas que podem ser aproveitadas para a rega. “A pouco e pouco, vamos fazendo o caminho”, ressalva Adriana, porque este é um projeto em construção.
Para este domingo, 29, está agendado o primeiro workshop dado por Sylvain, responsável pela horta da Cozinha Popular, e por Mariana Mota, do Colégio F3, que vão ensinar a podar e a fazer a manutenção das árvores. Mas haverá outros – sobre citrinos, combate às pragas, por exemplo –, e ainda jantares com chefes de cozinha, anunciados a seu tempo na página do Facebook do Muita Fruta. E quem se quiser inscrever como voluntário também o pode fazer no site do Muita Fruta.
Em fevereiro, nos dias 11 e 12 (sábado e domingo), decorre a iniciativa Amor às Árvores, inserida no programa Enamorados Por Lisboa. No pomar do Jardim da Cerca da Graça, a equipa do Muita Fruta vai estar a recolher poemas de amor às árvores e o vencedor, eleito por votação, ganha um cabaz de compotas feitas já com fruta recolhida.
A grande ambição, para Adriana Freire, é conseguir “sensibilizar as pessoas através destas ações” e criar, no futuro, uma plataforma que junta quem tem estes interesses, “colocando as pessoas em rede a trocar experiências”. Transformar Lisboa num pomar, portanto, e quem sabe outras cidades também.
Muita Fruta > Cozinha Popular da Mouraria > R. das Olarias 5, Lisboa > T. 92 652 0568