A coisa aconteceu no tempo da “outra senhora” e foi um susto, embora agora a minha mãe se ria ao contar os pormenores. O polícia a apanhá-los “na marmelada” e a ameaçar com uma ida à esquadra, ela em pânico porque era menor e os pais não sabiam daqueles encontros com “o senhor de Coimbra”, a choradeira que havia de resultar num “Vão-se embora e não tornem a fazer o mesmo”.
Sim, nos anos 50 era proibido andar aos beijos em público. E se a Estufa Fria parecia – e parece – perfeita para namorar, nessa altura namorava-se de mão dada e, ouçam lá, já não era nada mau. Nós ouvíamos e abríamos a boca, meio-encantadas a imaginarmos os nossos pais nos melos, a outra metade horrorizadas com a ideia de eles terem crescido num Portugal atrasado.
Quase 60 anos depois, a minha irmã Bárbara (Assis Pacheco) inspirou-se no Jardim das Delícias para gravar uns espelhinhos que espalhou pela “gruta dos namorados” para a exposição Percurso(s), a meias com o ceramista António Vasconcelos Lapa, que ocupou a Estufa Fria durante vários meses (terminou em abril). Sempre que regresso, olho as mensagens inscritas nas pedras e, é inevitável, lembro-me de como os amantes de Hieronymus Bosch ficavam ali tão bem.
Sejam bem-vindos os namorados
Crónica Por Lisboa