As filas à porta fazem parte do dia-a-dia da Lello. Já ninguém tira à livraria centenária do Porto, nascida em 1906, o mérito de ser um dos ícones da cidade, visitada diariamente por milhares de turistas (são, em média, 3000 a cada dia, a maioria estrangeiros). E, por estes dias, os curiosos têm sido mais do que muitos. Cá fora, a frase de Frank Zappa (“Há tantos livros, mas há tão pouco tempo.”) salta à vista no pano que tapa a fachada restaurada desde abril, e que só será destapada na manhã deste sábado, 30, por dois alpinistas, ao mesmo tempo que o historiador Joel Cleto recordará a história da livraria.
A expetativa é grande, dizíamos, porque se, por um lado, não se conhecem as cores da nova fachada (sabe-se apenas que serão as mesmas de 1906 e andarão entre o azul, amarelo e bordeaux), por outro, o facto de ser uma das livrarias do mundo a lançar o novo livro da saga Harry Potter (precisamente à meia noite deste sábado, 30, para domingo, 31) está a dar-lhe ainda maior visibilidade.
A recuperação da fachada do edifício de estilo neogótico, da autoria de Francisco Xavier Esteves, cujas obras se iniciaram em abril, revelaram que a cor original não seria o ocre amarelado que a livraria sempre apresentou desde a época da I Guerra Mundial. Ora, consultadas as fotografias do Album Descriptivo (publicado aquando da inauguração, em 1906), percebeu-se que a fachada, onde sobressaem duas pinturas de José Bielman, não era monocromática e tinha, afinal, outras cores. “No fundo, estamos no futuro a perceber como seria o passado”, compara Mariana Peres, diretora de marketing da Lello. Mas, no sábado, 30, os nossos olhos também estarão expostos no enorme vitral (com oito metros de comprimento e três metros e meio de largura) do interior que, pela primeira vez ao longo deste século, foi retirado para limpeza e restauro, permitindo “ter a mesma luminosidade que a livraria tinha na altura”, constata Mariana Peres.
As obras de recuperação deste ícone do Porto – a segunda fase será o interior, ainda este ano – só foram possíveis depois de a Lello ter começado, há um ano, a cobrar bilhete de entrada (€3, descontados na compra de livros). O valor do custo da empreitada não foi divulgado, mas a Lello garante que, desde essa altura, passou a vender mais livros (cerca de 5000 por semana), um número que quase triplicou em relação aos 1400 que vendia antes de ter bilheteira. O fenómeno Harry Potter não poderá, obviamente, ser dissociado destes números. Diz Mariana Peres que a Lello “é a livraria de rua portuguesa que mais vende os livros” da saga escrita por J. K. Rowling. O facto de a escritora inglesa se ter inspirado na escadaria carmim e nesta livraria para imaginar a escola de magia de Hogwarts também contribuirá, claro.
Livraria Lello > R. das Carmelitas, 144, Porto > T. 22 200 20 37 > seg-sex 10h-19h30, sáb-dom 10h-19h > €3