ROTEIRO DE ARTE PÚBLICA
Rui Chafes, João Louro, Dalila Gonçalves e outros artistas plásticos saíram às ruas da cidade
A criação de um roteiro de arte pública na cidade foi uma das (muitas) ambições de Paulo Cunha e Silva, vereador da Cultura do Porto, falecido em novembro. Queria, dizia, “dotar a cidade de uma rota de arte pública através de um conjunto de intervenções” que ocupassem artérias desde a Avenida dos Aliados à zona ribeirinha. E conseguiu-o. Em meados de 2016, deverá ser lançado o Mapa de Arte Pública, em versão impressa e digital, sugerindo percursos de um museu ao ar livre, que ganhará, também nessa altura, uma peça de Alberto Carneiro junto ao Largo de S. Domingos. Será a quinta obra incluída neste Programa de Arte Pública, lançado a 25 de fevereiro, aquando da inauguração do painel À Cidade, com 875 azulejos, do pintor e arquiteto Fernando Lanhas, colocado junto ao Túnel da Ribeira. A obra, doada pela família do artista, reproduz um quadro a óleo pintado por Lanhas em 1993. Um mês depois seria João Louro a surpreender quem passava pela Avenida D. Afonso Henriques, próximo à Estação de S. Bento, com Dead End # 15, da série Dead Ends-Highway Panels, uma superficie metálica a lembrar os sinais de trânsito. Em maio, seriam as pedras artificiais em betão de Dalila Gonçalves, Kneaded Memory, cobertas com azulejos pintados e moldadas artesanalmente pela artista, que, depois de terem estado na Avenida dos Aliados, se instalaram na Praça Almeida Garrett, junto à Estação de S. Bento. A última desta série de quatro obras de arte, inaugurada em meados de julho, tem a assinatura de Rui Chafes, o escultor português vencedor do Prémio Pessoa 2015. Quem passa pela fachada principal do novo Museu da Misericórdia, na Rua das Flores, não fica indiferente à escultura O Meu Sangue é o Vosso Sangue, inspirada na pintura flamenga do século XVI Fons Vitae, que parece romper as paredes do museu para o exterior.
R. das Flores, Pç. Almeida Garrett, Túnel da Ribeira, Av. D. Afonso Henriques e, em breve, Lgo. S. Domingos, Porto
TERMINAL DE CRUZEIROS DE LEIXÕES
Um edíficio/escultura que marcou a marginal de Matosinhos
Será um caracol? Uma rosa? Uma tira de papel a desenrolar-se em várias direções? Visto de longe, o edifício escultórico, a 800 metros da linha da costa, deixa uma forte marca na paisagem da marginal de Matosinhos. Inaugurado a 23 de julho, o novo terminal de cruzeiros do Porto de Leixões, desenhado pelo arquiteto Luís Pedro Silva, tem merecido rasgados elogios. Quem se aproxima, fica igualmente impressionado pelo revestimento com azulejos hexagonais, dispostos de forma irregular, brilhando com os reflexos do sol como se fossem as escamas de um peixe. Os motivos de deslumbre sucedem-se e culminam no anfiteatro exterior, no topo do edifício de oito pisos, com uma vista arrebatadora de toda a costa.
Enquanto não for construído o passadiço de ligação à praia do Titan (um acesso provisório estará a funcionar no primeiro trimestre de 2016), o terminal acolhe apenas quem chega de navio, exceção feita aos curiosos que se inscrevam em visitas de grupo organizadas (este ano tiveram mais de 2500 visitantes). Para o próximo ano, será dada sequência ao processo de concessão do restaurante, assim como à instalação do Parque de Ciência e Tecnologia do Mar gerido pelo CIIMAR – Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental.
O investimento foi considerado decisivo para a promoção do setor dos cruzeiros na Região Norte de Portugal, com o objetivo de entrar para o mapa das principais rotas de cruzeiro da Europa. Segundo dados da APDL – Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo, até final de 2015, 85 escalas de navios de cruzeiro e 79 mil passageiros terão passado pelos terminais de Leixões, representando um crescimento de 9% e de 22%, respetivamente, face ao período homólogo do ano anterior. Foi um ano de recordes, portanto. E a obra ainda foi uma das três finalistas mundiais ao prémio Seatrade Cruise Awards na categoria de Melhor Porto do Ano.
Av. da Liberdade, Leça da Palmeira, Matosinhos > T. 22 999 0700
Coliseu do Porto
Uma identidade renovada, um circo novo e uma companhia residente atraíram um público mais alagardado e diversificado
A abertura de algumas salas do Coliseu do Porto a uma série de bandas que provavelmente nunca iriam ocupar aquele espaço, no FLIC – Festa Lotação Ilimitada Coliseu, em abril, foi o primeiro sinal de que um novo ritmo estava a chegar ali. “O Coliseu não podia continuar fechado sobre si próprio, preso à rotina do aluguer”, afirma Eduardo Paz Barroso, presidente da direção, que procurou novas parcerias e coproduções para chegar a outros públicos. Mantém-se o acolhimento e a venda de bilhetes como argumento principal, mas o Coliseu do Porto deixou de ser apenas paragem ocasional para assistir a espetáculos. No palco principal, organizou-se o ciclo Concertos Conversa Coliseu, em colaboração com a Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo, que, de caminho, trouxe mensalmente jam sessions protagonizadas por alunos.
Com a instalação do Balleteatro como companhia residente, em setembro, mesmo em dias de palco vazio, o silêncio abandonou o Coliseu, com um entra e sai constante de alunos, burburinho das aulas e vozes nos corredores. A entrada na rota do D’Bandada, que levou cerca de 12 mil pessoas ao Coliseu, o regresso do Portugal Fashion e o circo novo, mais contemporâneo e sem animais enjaulados, contribuíram também para ali chegarem novos espectadores. E não só. Ainda sem números definitivos (falta contabilizar os dados da temporada de circo que termina em janeiro), estima-se um aumento de 50% de receitas no acolhimento, tendo passado por ali 218 mil espectadores. Muito devem contribuir para ampliar estes números, em 2016, o espetáculo da Glen Miller Orchestra e os cinco concertos de António Zambujo e Miguel Araújo, que deverão esgotar. Para o próximo ano aponta-se ainda o regresso da ópera, em novos moldes numa co-produção que subirá ao palco em setembro. E, numa vertente mais corporativa, abrem-se portas a congressos, jantares de empresas e visitas guiadas.
R. Passos Manuel, 137, Porto > T. 22 339 4940
Museu da Misericórdia do Porto
Cinco séculos de história e muitos tesouros de arte num só edifício
Instalado num edifício de três andares, na zona histórica do Porto, o Museu da Misericórdia do Porto (MMIPO) abriu portas a 15 de julho e já recebeu mais de dez mil visitas. “É um espaço aberto à cidade, muito além da arte sacra”, descreve a diretora Paula Aleixo, salientando que “a instituição foi espectadora e protagonista da vida da própria cidade nos últimos 516 anos”. Cruzando histórias, pessoas e conteúdos, o MMIPO não se fecha na exposição permanente, onde acomoda obras maiores da pintura europeia, escultura, paramentaria, documentos e emblemáticos trabalhos da ourivesaria nacional. A ocupar todo o pátio central, um exemplar bem recuperado da arquitetura do ferro, com iluminação natural, está a fantástica galeria de mostras temporárias aberta às artes contemporâneas e assumida como “disruptiva em relação à arte sacra”. Atualmente, a galeria está ocupada por 14 peças, numa reinterpretação do singular Jarrão D. João V, assinadas por nomes como os de Vhils, Joana Vasconcelos e Nuno Baltazar. Também na galeria do Benfeitor, onde se exibem exposições organizadas pelo museu ou outras instituições, é visível o corte com a coleção de arte sacra. Até 20 de janeiro, a sala está ocupada pela Santa Maria Madalena, de Josefa de Óbidos, que vai integrar a coleção de pintura do Museu do Louvre, em Paris. “A exposição temporária de peças únicas é uma linha de trabalho para manter”, garante Paula Aleixo. No próximo ano, além do acompanhamento regular por técnicos da casa, o MMIPO vai organizar visitas de autor, com especialistas em diferentes áreas como Joel Cleto e Germano Silva, em percursos que podem abranger outros edifícios com histórias ligadas à instituição. “Não somos um museu de nicho, queremos esclarecer e informar”, sublinha a diretora.
R. das Flores, 5, Porto > T. 22 090 6960 > seg-dom 10h-17h30 (exceto 24-25 dez, 1 jan) > €5
ANTIQVVM
A estreia do chefe Vítor Matos no Porto
A inauguração do Antiqvvm, no início de outubro, reuniu duas boas novas: devolveu à cidade o antigo Solar do Vinho do Porto, encerrado durante três anos; e deu ao chefe de cozinha Vítor Matos a oportunidade de mostrar os seus dotes culinários a um público mais alargado, depois de ter conquistado uma Estrela Michelin no restaurante Largo do Paço, em Amarante. Adivinha-se a ambição de alcançar outras estrelas, agora no Porto, com a construção de um menu divertido e sofisticado, de inspiração mediterrânica. O espaço está à altura das aspirações. A casa do séc. XIX, cercada pelos jardins e bosques da Quinta da Macieirinha, e com uma vista admirável do rio Douro e da ponte da Arrábida, teve uma reconversão feliz, assinada pelo arquiteto Pedro Macedo. O design de interiores, de Francisco Neves, quis-se cosmopolita, confortável e requintado, com pormenores que remetem para o antigo solar, como os toldos verdes com parras desenhadas. A ligação ao passado também se vê na garrafeira, exposta à entrada do restaurante, com uma seleção de vinhos nacionais de todas as regiões (com os do Douro em evidência) e das maiores casas de Vinho do Porto. Uma mesa alta corrida será destinada às provas de vinhos. A cozinha promove um lado lúdico, com Vítor Matos a protagonizar sessões diárias de live cooking na sala de jantar, onde revela a sua mestria no cruzamento de técnicas clássicas e contemporâneas. Sabores muito bem definidos e frescura irrepreensível são as notas dominantes de pratos como o tártaro de novilho com tomate e mostarda de Dijon, o linguado da nossa costa grelhado com molho de espumante e limão, as vieiras coradas com ravioli de camarão e carabineiro, o robalo selvagem escalfado com algas, o lombo de vitelão com molho de vinho do Porto LBV ou a coxa de pato confitada com molho de citrinos algarvios. O Antiqvvm tem procurado promover cumplicidades gastronómicas, jantares a quatro mãos, com Vítor Matos e outros chefes de renome (por lá já passaram, por exemplo, Rui Paula e o holandês Michel van der Kroft). Em 2016, a carta terá novidades.
R. de Entre Quintas, 220, Porto > T. 91 478 5760 > dom-qui 12h30-14h30, 19h30-22h30, sex-sáb 12h30-15h, 19h30-23h > almoços executivos €25, média jantar €40/€50
PALÁCIO DO BOLHÃO
A escola “mais bonita do mundo”
Pouco antes da abertura do Palácio do Bolhão, a 27 de março, dia mundial do Teatro, o ator António Capelo passeava radiante pelas salas, contando episódios da história do edifício do séc. XIX e da saga de 14 anos que constituiu a sua reconversão. “É a escola mais bonita do mundo e acredito que as pessoas vão ficar deslumbradas”, dizia o diretor da ACE Escola de Artes e também da companhia ACE Teatro do Bolhão. A fachada austera do edifício classificado passa despercebida, mas os interiores são uma montra da riqueza do primeiro proprietário, o comerciante António Sousa Guimarães. Veja-se o exemplo da Sala D. Maria, um tratado das artes decorativas do séc. XIX, com as pinturas, talhas, estuques, painéis de seda e madeiras trabalhadas. O imóvel estava ao abandono quando, em 2001, a Câmara Municipal do Porto o adquiriu e o cedeu em regime de comodato à ACE, durante 50 anos, sonhando com propósitos como a reabilitação e a dinamização cultural da Baixa. O financiamento do projeto foi, contudo, um longo calvário. Além das salas destinadas aos cursos profissionais da ACE Escola de Artes, o Palácio dispõe de um salão nobre com um pequeno auditório, um outro auditório moderno com 150 lugares (construído de raiz), salas de ensaios e um bar aberto ao público. A programação tem sido intensa, com a apresentação de nove produções teatrais e o acolhimento de oito espetáculos de música e teatro e de exposições. O serviço educativo realizou workshops e visitas guiadas e dramatizadas ao Palácio, aos sábados. Em 2016, comemora-se o 25.º aniversário da ACE Escola de Artes e o 1.º aniversário do Palácio do Bolhão. O programa estará à altura da ocasião.
R. Formosa, 342, Porto > T. 22 208 9007, 91 793 9020 > visitas guiadas: €3, visitas dramatizadas: sáb 14h30, 15h30, 16h30, €5 a €10
TORRE E IGREJA DOS CLÉRIGOS
Quase meio milhão de pessoas visitaram o ícone do Porto, só no último ano
Chamam-lhe, carinhosamente, “a nossa Torre Eiffel”. E este foi, sem dúvida, o seu ano. A Torre dos Clérigos, construída em 1763, recebeu em 2015 o maior número de visitantes: quase meio milhão de pessoas (450 mil até final de dezembro), numa média de 1800 por dia, 90% das quais estrangeiras. Depois de obras de renovação que dotaram o monumento nacional, desenhado por Nicolau Nasoni, de outras valências, a Torre e a Igreja dos Clérigos mostraram-se definitivamente à cidade – havia (e ainda há) muitos portuenses que nunca a tinham subido. Ao público abriram-se, pela primeira vez, alguns espaços situados no edifício central onde, outrora, funcionou uma enfermaria: a sala do cofre, a sala de Nasoni (com mobiliário do arquiteto italiano), as exposições permanentes Coleção Christus e Acervo da Irmandade, apoios multimédia, elevador e percursos acessíveis, como a Sala A+ onde é recriada a experiência de visita ao topo da Torre, em tempo real, sem ter de subir os mais de 200 degraus. Todos os dias do ano, ao meio-dia, houve concertos na Igreja (serão 365, portanto, a 31 de dezembro). O carrilhão tocou por diversas vezes, assim como os órgãos de tubos, recuperados pelo organeiro espanhol Federico Acitores. De julho a setembro, organizaram-se as visitas noturnas, até às 23 horas, que regressaram agora em época natalícia e continuam até 9 de janeiro.
2015 foi também o ano em que os Clérigos entregaram 100 mil euros de donativos a instituições, resultantes de ações de solidariedade. Mas o expoente máximo do barroco na cidade quer chegar mais longe. E unir-se, como já fez este ano, através de uma viagem solidária de bicicleta entre o Big Ben, em Londres, e o Porto, com outras torres europeias. A ideia será fazer parcerias com a Torre Eiffel (Paris, França), Torre de Pisa (Pisa, Itália) e La Giralda (Sevilha, Espanha), que podem passar pela criação de um bilhete único, edição de livros e partilha de exposições. Na programação para 2016, já estão previstas as Conversas dos Clérigos, que, entre janeiro e dezembro, promovem debates com o público sobre algumas peças do espólio.
R. de S. Filipe Nery, Porto > T. 22 014 54 89 > seg-dom 9h-19h > €3, €5 (visitas noturnas)