1. Material Girl, de Madonna
Quando Madonna surgiu, no início dos anos 80, a cantar sobre férias, rapazes e danças, toda alegria e independência, não houve adolescente que não pensasse: “Eu quero ser assim.” A música importava, a imagem também – foi a época das rendas, das pulseiras nos braços, das luvas sem dedos, dos tops de rede e dos crucifixos –, mas havia igualmente a mensagem, a pose, o discurso, a sexualidade in your face, a provocação, a opinião. Em 1985, a cantora alourou-se e pintou os lábios de vermelho para o teledisco de Material Girl, em tudo inspirado na interpretação de Marilyn Monroe de Diamonds Are a Girl’s Best Friend, no filme Os Homens Preferem as Louras. Esta canção tirada do álbum Like a Virgin (lançado no final do ano anterior) espelhava a Nova Iorque yuppie dos anos 80, num tom irónico e crítico, mas nem todos a ouviram assim e Madonna nunca se livrou da alcunha: Material Girl.
2. Take on Me, de A-Ha
Ainda hoje, seria um fenómeno notado e comentado: um grupo de jovens noruegueses a invadirem os tops habitados por estrelas ou artistas emergentes norte-americanos e britânicos. A verdade é que Magne, Morten e Paul, de Oslo, conseguiram esse feito em 1985, e logo no álbum de estreia, Hunting High and Low. O single Take On Me teve uma primeira versão em 1984, mas chegou aos ouvidos de todo o mundo em 1985, muito ajudado por um teledisco que dava nas vistas (com desenhos a carvão a ganharem vida e interagirem com a realidade). Certo é que Take On Me ainda é, hoje, uma canção muito ouvida em pistas de dança um pouco por todo o mundo (com todos a tentarem alcançar aqueles agudos impossíveis do refrão). A entrada na banda sonora da série Glee (em 2015) e, sobretudo, do jogo The Last of Us (em 2020) fez muito para aproximar o tema de novas gerações.
3. Everybody Wants to Rule the World, de Tears for Fears
Oriundos da cidade de Bath, no Sudoeste de Inglaterra, os Tears For Fears (ou de outro modo, Roland Orzabal e Curt Smith) nasceram como um grupo pop, fascinado com sintetizadores, apostado em fabricar canções que os ouvidos não deixassem fugir. O segundo LP da banda, na linha do álbum de estreia (The Hurting, de 1983), surpreendeu sobretudo através de dois temas: Shout e Everybody Wants to Rule the World. Songs from the Big Chair, esse álbum, vendeu nove milhões de cópias e confirmou a ascensão de uma banda que, à cabeça, havia assinado um contrato de três singles com a Mercury Records. Em 2013, a cantora neozelandesa Lorde fez uma versão desta canção para a banda sonora do filme Os Jogos da Fome: Em Chamas.
4. Raspberry Beret, de Prince and The Revolution
Não é, certamente, a mais (re)conhecida canção da carreira de Prince. Mas basta olhar para o videoclip de Raspberry Beret para percebermos que talvez nunca tenha estado tão sintonizado com a iconografia dos anos 80 como neste primeiro single do álbum Around the World in a Day (o terceiro com a sua banda, The Revolution): gente que dança, com roupa garrida de cores primárias e cabelos exuberantes, à volta de Prince, a estrela, que ostenta um fato azul com nuvens brancas. No ano anterior, Prince tinha lançado o mega-hit Purple Rain e a rivalidade com Michael Jackson estava no auge. O registo é pop, hedonista, sexy. A canção fez parte dos alinhamentos de praticamente todas as digressões de Prince.
5. You Spin Me Round, de Dead Or Alive
Dê um passo à frente quem conseguir dizer o título de outra música dos Dead or Alive que não seja You Spin Me Round (Like a Record). Da banda formada em Liverpool, sobrevive na memória o ar andrógino de Pete Burns, muitas vezes comparado a Boy George dos Culture Club. Num tempo em que não havia banda que não se anunciasse através de um teledisco (graças à popularidade da MTV), Burns surgiu com o seu longo cabelo carregado de laca, maquilhagem irrepreensível, pala no olho esquerdo, enquanto bandeiras douradas iam sendo agitadas pelos restantes três membros da banda. O cantor ainda experimentou uma, pouco memorável, carreira a solo e, em 2006, foi concorrente do Big Brother Celebridades britânico. Morreu em 2016, irreconhecível pelas operações plásticas a que se submeteu.
6. Money For Nothing, de Dire Straits
Brothers in Arms, dos Dire Straits, está na lista dos álbuns mais vendidos de sempre, com vendas estimadas de mais de 30 milhões de cópias. Passou, ainda, à história como o primeiro a superar um milhão de cópias vendidas no formato CD (então novíssimo, e ainda raro). Em Portugal, foi, também, um grande sucesso, tendo sido, de longe, o álbum mais vendido do ano. Dele saíram vários temas populares, como So Far Away (o primeiro single) e Walk of Life, mas Money for Nothing destacou-se, não só pelo viciante e inesquecível riff de guitarra inicial mas também pelo sedutor teledisco, misturando animação (a fazer pensar na tecnologia 3D) e realidade. Esse vídeo foi o primeiro a ser transmitido pela MTV Europe, em agosto de 1987. Para isso terá pesado o facto de a canção começar com a frase “I want my MTV…”, cantada em falsetto pela voz de… Sting. Os Dire Straits já editavam desde 1978, e Brothers in Arms foi o seu penúltimo, e mais bem sucedido, álbum.
Rock in Rio e Live Aid
Estava o Brasil ainda em ditadura, quando Roberto Medina arriscou fazer o que nunca ninguém tinha feito no país: um grande festival de música, que juntava os melhores artistas locais e estrelas internacionais. A obstinação do empresário em pôr de pé o festival era tanta que começou a construir a Cidade do Rock em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, sem ter nenhum artista assegurado. A 11 de janeiro de 1985, os portões abriram-se para 1 milhão e 380 mil pessoas e estas avançaram para o maior palco alguma vez construído (5 600m2). Foram 10 dias de música e nem a chuva torrencial que caiu naquele verão carioca, transformando o recinto num lamaçal, demoveu a plateia de assistir às atuações de Queen, AC/DC, Yes ou Ozzy Osbourne.
Antes de Roberto Medina enveredar “Por um Mundo Melhor” (deixando o Rock in Rio de ser apenas um grande evento musical, para passar a prometer ajuda aos mais desfavorecidos), alguns músicos descobriram que tinham poder suficiente para fazer a diferença em áreas que, à partida, nada tinham que ver com a música. Foi isso que aconteceu em 1984/85, com o projeto Band Aid/Live Aid, lançado por Bob Geldof, com o objetivo de angariar dinheiro para combater o surto de fome na Etiópia. A 13 de julho de 1985, o concerto Live Aid estabeleceu um novo patamar. O espetáculo decorreu no Estádio de Wembley, em Londres, e nos EUA, onde o cenário foi o JFK Stadium, em Filadélfia – e uma cobertura televisiva sem precedentes permitiu que o concerto chegasse, em direto, a milhões de espectadores de todo o mundo. A lista de estrelas participantes é interminável: de Madonna aos Beach Boys, dos Dire Straits aos Queen, de Bryan Adams aos The Who, de Tina Turner a Paul McCartney…
7. Running Up That Hill, de Kate Bush
As regras dos revivalismos são assim no século XXI. Depois de ter sido escolhida para a banda sonora da quarta temporada da série Stranger Things, esta canção de 1985 da britânica Kate Bush (saída do seu quinto álbum, Hounds of Love) foi ouvida, muito provavelmente, por mais gente do que quando foi lançada. Invadiu o TikTok, teve milhões de audições no Spotify e chegou ao primeiro lugar do top das canções mais ouvidas em vários países. Os seus argumentos continuam a ser os mesmos, e é preciso dar destaque às notáveis capacidades vocais de Kate Bush. Sobre este surpreendente regresso de Running Up That Hill, a cantora escreveu, no seu site, em 2022, que nunca tinha experienciado nada assim, agradecendo o entusiasmo de tantos jovens em todo o mundo.
8. Don’t You (Forget About Me), de Simple Minds
Com um início ligado ao punk e à new wave, os Simple Minds abraçaram a pop, típica de uma banda que cresceu nos anos 80 com a ambição de chegar a todos os públicos. Depois de Empires and Dance (1980), que muitos ainda consideram o grande disco de Jim Kerr e seus cúmplices, os escoceses começaram então um percurso de popularidade ascendente, que se afirmou, em 1982, com o sucesso de Promised You A Miracle, do álbum New Gold Dream (1982). Os Simple Minds eram já, nesta altura, bem conhecidos, mas foi Don’t You (Forget About Me) – gravada para a banda sonora do filme The Breakfast Club – que os lançou para o estrelato planetário. Estava-se em 1985, e o disco Once Upon a Time consolidaria o estatuto de grupo mainstream, para as massas.
9. Close to Me, de The Cure
Com a sua batida nervosa, e solo de saxofone lá mais para a frente, é uma canção que ainda hoje é fácil de (re)encontrar nas pistas de dança de algumas discotecas. Quando lançaram Close to Me, segundo single do seu sexto álbum, The Head on the Door, (o primeiro single foi In Between Days), os The Cure conseguiam ser, ao mesmo tempo, uma banda de culto (referências da cena “vang”, com uns toques de gótico) e afirmar-se comercialmente (mas havendo já, certamente, por essa altura, quem dissesse que nos primeiros tempos, no fim dos anos 70, é que eles eram bons…). Em tom de despedida, a banda de Robert Smith lançou em 2024 o álbum Songs of a Lost World, e muitas das suas canções mais antigas são reconhecidas e dançadas por quem ainda nem tinha nascido em 1985…
We Are the World
Quem, em 1985, não ficou com esta música no ouvido, mesmo contra sua vontade, vivia certamente numa bolha, bem protegido da cultura de massas. Escrita por Michael Jackson e Lionel Richie, e produzida por Quincy Jones e Michael Omartian, foi criada para a campanha USA for Africa, para angariar apoios contra a fome na Etiópia. No ano anterior, a Band Aid, projeto de Bob Geldof, tinha feito o mesmo a partir da Europa com a canção Do They Know It’s Christmas?
No dia 28 de janeiro de 1985 uma verdadeira parada de estrelas juntou-se para interpretar esta canção a várias vozes (resultando, claro, num poderoso teledisco). Em estúdio juntaram-se, entre muitos outros, Ray Charles, Billy Joel, Diana Ross, Cyndi Lauper, Bruce Springsteen, Stevie Wonder, Dionne Warwick, Willie Nelson, Al Jarreau, Tina Turner, Bob Dylan, Paul Simon… Com mais de 20 milhões de cópias, We Are the World entraria para o oitavo lugar na lista dos singles mais vendidos de sempre. Quarenta anos depois, na América de Trump e Musk, dificilmente imaginamos este coro dizendo “nós somos o mundo” em nome de uma campanha humanitária de ajuda para vítimas em África.
10. One More Night, de Phil Collins
O músico dos Genesis aproveitava uma pausa no trabalho do grupo (um dos mais populares da época, vindo do universo do rock progressivo dos anos 70) para afirmar a sua carreira solo. Missão cumprida: o seu álbum No Jacket Required, de 1985, resultou em dois singles que se espalharam rapidamente por todo o mundo, vendendo milhões de cópias: Sussudio e esta balada, One More Night, que conseguiu o feito de chegar ao primeiro lugar no top dos singles mais vendidos nos EUA – o que o britânico Phil Collins já tinha conseguido, em 1984, com Against All Odds (Take a Look at Me Now). No teledisco via-se Collins a interpretar a canção, ao piano, num pub londrino.
11. Nikita, de Elton John
Típica canção (e teledisco) do tempo da Guerra Fria, com o Bloco do Leste a surgir entre o exotismo, a ameaça e o sentimentalismo. Elton John, num inesquecível Rolls-Royce descapotável vermelho, símbolo de opulência e do capitalismo, fala-nos da sua atração por uma guarda da fronteira que dividia as duas Alemanhas, num mundo dividido (Elton John confessaria, em entrevistas, que sabia bem que Nikita era um nome masculino na cultura russa). Nos coros da canção, que trepou nos tops de todo o mundo, pode ouvir-se a voz de outra figura icónica dos anos 80: George Michael.
12. Burning Heart, de Survivor
Não foi apenas The Power Of Love, dos Huey Lewis and the News, que ficou famosa, sobretudo, por estar na banda sonora de um filme (O Regresso ao Futuro). Um pouco de história, então, para refrescar memórias e criar outras. Também Burning Heart se tornou um dos maiores sucessos dos Survivor, na voz de Jimi Jamison, ao integrar a lista de canções do blockbuster Rocky IV, com a icónica personagem interpretada por Sylvester Stallone. Três anos antes, em 1982, já o tema Eye of the Tiger, também dos Survivor mas cantado por Dave Bickler (e não por Jamison), se tinha ouvido em Rocky III.
13. Saving All My Love For You, de Whitney Houston
Há um número que impressiona na biografia artística de Whitney Houston (1963-2012): 170 milhões de discos vendidos. Filha de uma cantora de gospel (Cissy Houston), sobrinha de Dionne Warwick, afilhada de Aretha Franklin, e dona de uma voz que começou a brilhar quando ainda era criança, em coros de igreja, em Newark, Whitney parecia destinada a ser uma estrela de primeiro plano. E esse destino cumpriu-se, depois de ter sido “descoberta” pelo produtor Clive Davis a cantar num clube noturno de Nova Iorque. O álbum de estreia, intitulado Whitney Houston, lançado a 14 de fevereiro de 1985, colocou-a, quase de imediato, sob os holofotes. Dele resultaram três singles que atingiram o primeiro lugar no top da revista Billboard: How Will I Know (mais pop e dançável) e as baladas The Greatest Love of All e Saving All My Love for You, um original dos anos 1970 cuja versão lhe valeu o seu primeiro Grammy na categoria de Melhor Performance Pop Feminina.
14. The Power of Love, de Huey Lewis and the News
Ter feito parte da banda sonora do filme Regresso ao Futuro, de Robert Zemeckis, um sucesso de bilheteira em todo o mundo, ajudou, e muito, a catapultar The Power of Love para o primeiro lugar do top norte-americano. Reza a lenda que foi o próprio Zemeckis que convidou Huey Lewis a escrever uma canção para este filme de 1985 (o músico acabaria até por aparecer em Regresso ao Futuro, no papel do professor que rejeita a banda de Marty/Michael J. Fox por tocar muito alto). Huey Lewis and the News contribuiriam ainda com outra música, Back In Time, embora seja dos sintetizadores a abrir The Power of Love que nos lembramos de cor. Curiosamente, em 1984 tinha havido um outro hit com esse mesmo título, interpretado pelos britânicos Frankie Goes to Hollywood.