Livros, sol e sombra. Mais de 30 sugestões de boas leituras para as férias grandes

Ilustração: Maria Judas

Livros, sol e sombra. Mais de 30 sugestões de boas leituras para as férias grandes

FICÇÃO

1. Dedico-lhe o Meu Silêncio
Mario Vargas Llosa

Para um leitor, não há melhor forma de encarar o fim de um percurso literário do que ler uma nova obra. E é isso que Mario Vargas Llosa proporciona a todos os que, durante décadas, acompanharam as suas narrativas, intervenções públicas, combates políticos e crónicas (no El País, durante 33 anos, a que também pôs um ponto final). Dedico-lhe o Meu Silêncio foi anunciado, em 2023, como último romance e chega agora a Portugal, pela mão da Quetzal. Nele encontramos algumas das linhas de força que fizeram a fortuna do escritor peruano, Prémio Nobel da Literatura em 2010, uma voz sempre ousada e controversa, independente e livre. Dedico-lhe o Meu Silêncio é, ao mesmo tempo, um ensaio sobre a música crioula e uma investigação sobre um músico, da mesma forma que também é um livro sobre um livro que se quer escrever, uma reflexão sobre o ato criativo. No centro, duas figuras: Toño Azpulcueta, apaixonado por música, e Lalo Molfino, guitarrista de exceção. À sua volta, a história de um país dividido. Quetzal, 256 págs., €18,80

2. A Fúria
Alex Michaelides

Formado na arte do guião cinematográfico, Alex Michaelides é um autor de thrillers que sabe agarrar o leitor, como provou, com êxito mundial, no seu primeiro romance, A Paciente Silenciosa. Além das habituais reviravoltas no enredo, o escritor de ascendência grega e inglesa envolve as personagens numa teia de simbolismos que acrescentam camadas a uma história aparentemente simples. Em A Fúria, sua terceira ficção, regressamos ao clássico ambiente fechado dos policiais. Um grupo de amigos numa ilha, sem redes sociais nem outro acesso ao exterior. Alguém morre (uma estrela de cinema). Quem a matou? Presença, 304 págs., €17,90

3. Abril em Espanha
John Banville

Ainda andamos a estranhar e a entranhar este gosto do autor em exercitar a mão no thriller, desde Neve, quando o criador do inspector St. John Strafford sacudiu o pseudónimo Benjamin Black com que assinara uma dúzia de tomos. Banville protege-nos da banalidade do whodunnit e do ritmo crime-polícia-pista-patologista-prisão com o desencanto humanista e as neuroses católicas que assediam os seus personagens irlandeses. Aqui, é a vez do patologista Quirke tentar desfrutar (sem sucesso) de umas férias em Donostia até tropeçar numa mulher que devia ter conhecido um destino fatal há uns anos. O resto é investigação, resmunguice, e um tipo chamado Terry Tice, que, anuncia, gosta de matar pessoas. Minotauro, 374 págs., €19,90

4. A Palavra que Resta
Stênio Gardel

Não é coisa pouca: A Palavra que Resta, de Stênio Gardel, é o primeiro romance de língua portuguesa a ser distinguido com o National Book Award (para melhor tradução publicada nos EUA), um dos principais prémios literários da língua inglesa. No enredo e no estilo, esta primeira obra do autor brasileiro é uma surpresa constante e um extraordinário trabalho da linguagem e das personagens. Passados 50 anos, um homem continua sem conseguir ler a carta que o terá afastado do seu grande amor. Por isso, decide aprender a ler e a escrever. Com isso, navegando entre a oralidade e a escrita, tenta resgatar mágoas do passado. Dom Quixote, 176 págs., €16,60

5. Augusta B.
Joana Bértholo

É um dos episódios mais singulares e românticos da literatura portuguesa. Em 1944, Agustina Bessa-Luís colocou um anúncio n’O Primeiro de Janeiro à procura de uma pessoa culta com quem pudesse corresponder-se. O resultado foi um casamento, com Alberto Luís, que durou 72 anos. Depois de uma residência literária na Póvoa de Varzim, Joana Bértholo publica uma novela que evoca esse momento, pensando, como o subtítulo indica, nos desafios das “jovens instruídas 80 anos depois”. Uma narrativa que navega pelas aplicações de encontros e das atuais páginas de jornais para descobrir o que realmente une duas pessoas. Caminho, 104 págs., €14,90

6. Emídio e Ermelinda
Sandro William Junqueira

Eis um livro que inventa o seu próprio género literário e que nos apresenta duas personagens excecionais. É verdade que este Emídio e Ermelinda começou por ser um monólogo de teatro, que o próprio Sandro William Junqueira interpretou, mas a incerteza no género deve-se mais ao jogo da memória em que o escritor se lança. Emídio e Ermelinda são os seus avós maternos e muitos dos episódios que aqui relata chegaram-lhe por histórias que se contavam em família ou por relatos já muito destilados pelo tempo. Ainda assim, procurou reconstituir a vida de duas pessoas que amaram, que criaram e que viajaram, cada uma à sua maneira. Um outro retrato do século XX português. Caminho, 160 págs., €14,90

7. Faina
Marta Pais Oliveira

Depois de um primeiro romance, A Escavadora, distinguido com o Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís, e de alguns contos publicados autonomamente, Marta Pais Oliveira regressa com uma narrativa sobre uma comunidade piscatória que podemos situar no Norte do País. A Faina surpreende pelas suas personagens fantásticas, próprias de uma revisitação pessoal do realismo mágico, e sobretudo por uma ladainha que se reinventa a cada novo capítulo, começando da mesma maneira, mas sendo sempre diferente. Na semana da “grande pesca”, as redes trazem não só peixe mas muitos objetos. E com eles aproximam-se personagens igualmente diversas. Gradiva, 368 págs., €19,50

8. Não Há Pássaros Aqui
Victor Vidal

A comprovar o bom momento que a literatura brasileira atravessa, chega às livrarias este vencedor do Prémio Leya (o terceiro brasileiro distinguido em quatro anos). É uma história de violência na infância que se prolonga pela idade adulta, centrada na ideia de ausência: uma mãe que desaparece no início da narrativa, um pai que desapareceu há muito tempo, e uma filha entregue aos seus fantasmas. A partir deste vazio, Victor Vidal conduz, neste seu primeiro romance, a sua protagonista a uma viagem pela memória e pelos seus desejos – como ver o mar. Com a ajuda de um amigo, Ana talvez consiga encontrar a sua verdadeira casa. Leya, 248 págs., €16,60

9. Canção do Profeta
Paul Lynch

Vivemos tempos concorrentes das literaturas distópicas, mas este romance, Prémio Booker 2023, tornou-se um clássico instantâneo. A premissa é simples e petrifica-nos pela familiaridade:a Irlanda acorda subjugada por um regime totalitário apoiado na ascensão de um partido de extrema-direita. Uma nova realidade vive-se num microcosmos familiar: o sindicalista Larry desapareceu, procurado pela polícia secreta que reprime os protestos por aumentos salariais dos professores. Eilish, mãe de quatro filhos, cientista, enfrenta uma decisão difícil: fugir e deixar marido, filho, e pai demente na casa que este não quer abandonar e que ela visita sob a mira de snipers? Relógio d’Água, 248 págs., €21

10. O Acumulador
João Melo

O conto é um género literário que combina bem com férias de verão. Neste volume, estão sete do escritor angolano João Melo. Os títulos conseguem torná-los imediatamente apetecíveis: Quatro Recordações da Infância, O Acumulador, Uma Combinação Espúria, Breve História do Doutor Cunha, Uma Simples História de amor, A Encruzilhada e Os Pesadelos do Grande Muata. Aqui se fala da angola contemporânea, com humor e ironia – ou seja, muito a sério. O acumulador que dá título ao livro, por exemplo, é alguém que acredita firmemente na “acumulação primitiva do capital” com a ajuda do Estado para a criação de uma muito necessária e poderosa burguesia angolana… Histórias, já se sabe, não faltam a João, até porque no seu país cheio de “makas”, “tudo se sabe e, quando não se sabe, inventa-se.” Cenário perfeito para escritores. Caminho, 136 págs., €16,90

11. Ruína Azul
Hari Kunzru

Este volume pode ser lido como um romance-Covid, mas isso seria reduzir a praia a um charco. Sempre elegante e inteligente, o britânico Hari Kunzru aproveita a boleia da epidemia para oferecer uma versão do anjo caído: Jay, um artista plástico que integrava a geração dourada dos anos 1990 (olá Tracey Emin e Damien Hirst), perdeu a oportunidade, vive num carro, faz biscates ocasionais, sofre com Covid prolongado, e reencontra em condições periclitantes a antiga namorada que o trocou pelo rival mais bem-sucedido e por uma vida burguesinha de ioga, tédio e mordomias. O leitor vai gostar de ver retratados os excessos e utopias do mundo da arte e dos processos criativos, aqui apresentados em pinceladas expressivas nos flashbacks. Quetzal, 320 págs., €18,80

12. Morro da Pena Ventosa
Rui Couceiro

É oficial: o editor fez-se escritor. Depois do sucesso, de crítica e de público, do romance de estreia (Baiôa sem Data Para Morrer, de 2022), Rui Couceiro, responsável pela chancela Contraponto, regressa à ficção com Morro da Pena Ventosa. Mas há muita realidade dentro desta “ficção”, e isso começa logo no título do livro, que pode soar estranho, e poético, à maioria dos leitores, mas é familiar a quem conhece bem a geografia de um Porto antigo. “Aqui, na Sé, ainda moram alguns dos de cá”, lê-se num início de capítulo. Quem fala connosco é Beta, que, depois da morte da avó, se comprometeu a continuar a passar para a escrita os seus dias e reflexões – como fazia antes, para contar (quase…) tudo à avó, analfabeta, ajudando-a a ligar-se ao mundo. Este mecanismo permite ao escritor falar-nos de um Porto, e suas personagens, que vai deixando de existir e do atual (até porque a protagonista é guia turística, influenciada pela energia e o saber de Germano Silva). Contas feitas, este romance tem todos os ingredientes da grande literatura: amor e morte, e o absurdo das nossas vidas, entre pequenas e grandes histórias. Porto Editora, 384 págs., €19,99

NÃO FICÇÃO

13. A Última Lição de Manuel Sobrinho Simões
Luís Osório

Esta coleção, A Última Lição, dá voz a figuras que se afirmaram na sociedade a partir do seu percurso no mundo académico e do conhecimento. Ao longo destas páginas, ouve-se a voz de Manuel Sobrinho Simões, patologista de renome mundial, Prémio Pessoa, e grande especialista no tema do cancro. O livro apresenta-nos a sua sabedoria em discurso direto, respondendo às perguntas de Luís Osório – que dividiu o volume em seis capítulos, como “o provocador”, “o médico”, “o homem de família”… “Irrito toda a gente por ser muito catártico, digo tudo”, afirma Sobrinho Simões a páginas tantas. Vamos lá, então. Contraponto, 184 págs., €16,60

14. Sobre as Mulheres
Susan Sontag

Associamos esta intelectual norte-americana, muito influenciada pela cultura francesa (está, aliás, sepultada em Paris, apesar de ter morrido, em 2004, aos 71 anos, na cidade onde nasceu, Nova Iorque), a temas como a fotografia, sida/doenças, literatura e guerras, num percurso em que cruzou academismo e ativismo. Nestas páginas, encontram-se sete ensaios e entrevistas de Susan Sontag em que, de várias formas, se fala da questão da mulher – que lhe era cara, até por se afirmar como bissexual (a fotógrafa Annie Leibovitz foi sua companheira ao longo dos últimos 15 anos de vida). Aqui, fala-se de beleza (“fonte de descrédito ou fonte de poder?”), poder, envelhecimento, fascismo, feminismo e cinema. Quetzal, 192 págs., €17,70

15. Por Enquanto, o Povo Unido ainda não Foi Vencido
Manuel Vázquez Montalbán

Além da revisitação dos acontecimentos, em texto e fotografia, a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril de 1974 permitiu recuperar a forma como a Revolução dos Cravos foi vista de fora. Este volume de crónicas inéditas em Portugal de Manuel Vázquez Montalbán insere-se nessa linha em que a Tinta-da-china apostou. Neste caso, oferecendo-nos a prosa de um dos grandes romancistas espanhóis do século XX, autor da mítica personagem Pepe Carvalho. O que se destaca nestes textos é o entusiasmo e a identificação ideológica do autor e a forma como conseguiu, ainda durante a ditadura de Franco, fazer a ponte para a realidade do seu país. Um documento único. Tinta-da-china, 176 págs., €16,90

16. À Descoberta das Ilhas Selvagens
José Pedro Castanheira

Haverá alguma coisa digna de registo para descobrir nestes pedaços de terra desabitada no meio do Atlântico a que, apropriadamente, chamamos ilhas Selvagens? Claro que há. E, pela pena de um jornalista experiente e rigoroso como José Pedro Castanheira, a aventura da descoberta é bem cativante – até inclui uma mensagem numa garrafa atirada ao mar. Mesmo sendo o destino da viagem tão inóspito e deserto, este texto é habitado pelas emoções e experiências bem humanas do autor e demais tripulação do São Jorge. O subtítulo deste pequeno livro (cabe bem num bolso grande) descreve bem o seu conteúdo: “Diário de Bordo de uma Viagem à Madeira a Fugir das Tempestades e das Orcas.” Tinta-da-china, 168 págs., €14,90

17. A Quem Pertence a Lua?
A.C. Grayling

O anunciado ressuscitamento da corrida espacial e o discurso crescente do Espaço como território em que as futuras guerras vão travar-se voltaram a concentrar as atenções no único satélite natural da Terra. Este surpreendente ensaio questiona algumas perspetivas inquietantes, como as dos potenciais perigos para a Terra de se considerar a fotogénica Lua como um recurso natural que os humanos têm legitimidade para explorar. Isto é, explorá-la dentro da lógica capitalista de aproveitamento económico, esgotamento das matérias valiosas e generalizado “mau comportamento humano” – à semelhança, sublinha o filósofo britânico A.C. Grayling, do que aconteceu com a Antártida ou os oceanos. Uma boa leitura para nos fazer refletir em noites de lua cheia… Edições 70, 166 págs., €20,90

18. O Futuro Recordado
Irene Vallejo

Graças a O Infinito num Junco, passámos a incluir a filóloga espanhola na estante favorita. Desta vez, temos Vallejo em formato amuse-bouche: a reunião de mais de uma centena de curtíssimos ensaios, despachados numa solitária página, que têm como ponto de partida os textos jornalísticos publicados no Heraldo de Aragón. A desordem temática vigora, percorrendo tanto paisagens filosóficas e afetos literários como cenários quotidianos, rituais desportivos, acidentes geográficos, apontamentos sobre a invenção da beleza ou a importância de não correr constantemente atrás, ou à frente, da vida. Bertrand, 144 págs., €16,60

19. Diário Incontínuo
Mário Cláudio

Para quem acompanha a página de Facebook de Mário Cláudio não surpreenderá que o escritor esteja prestes a lançar o seu diário, iniciado em 1958 e mantido até à atualidade (os últimos textos são de 2019) com algumas interrupções, mas sempre retomado. O autor de Amadeo tem a rara capacidade de conjugar o quotidiano e o literário, o pequeno episódio e os grandes acontecimentos, o que se vê de fora e o retrato psicológico. E é tudo isso que se descobre em Diário Incontínuo, não fosse Mário Cláudio, com 55 anos de percurso literário, um dos grandes nomes das letras portuguesas. Páginas sobre livros, amizades e acidentes do dia a dia. Dom Quixote, 512 págs., €25,90

20. Liberdade e Igualdade
Daniel Chandler

Para os que veem o mundo sociopolítico dividido entre esquerda e direita e para os que acreditam que essa divisão já não faz sentido, este livro é uma excelente leitura, em nome do futuro, sobre o mais nobre objetivo da política (e também dessa ciência social chamada economia): responder, da maneira mais efetiva possível, à pergunta “o que será uma sociedade justa?”. Esse é o subtítulo desta obra do jovem economista e filósofo, ligado à London School of Economics, Daniel Chandler. Nestas páginas, propõe uma “utopia realista” que passa por sugestões concretas para tornar o mundo um lugar menos desigual e mais justo para todos. Exemplos? A criação de um rendimento básico universal ou um fundo de riqueza que investiria dinheiro público em empresas privadas, para, depois, distribuir dividendos pelos cidadãos. Presença, 464 págs., €24,90

21. Lisboa Africana
Sérgio Luís de Carvalho

É outra forma de mostrar a Lisboa desaparecida, explicando, ao mesmo tempo, as suas características contemporâneas. Romancista e historiador, Sérgio Luís de Carvalho tem mostrado os vários passados da capital portuguesa, numa série que já passou pela Lisboa judaica, árabe, maldita e nazi. Chega agora um olhar para a dimensão africana, iniciada nos primeiros contactos com o Norte de África, no século VIII. Não surpreende que a escravatura ocupe grande parte do relato, mostrando o lado português do terrível comércio de pessoas. Mas o autor sublinha também a presença africana na cultura lisboeta e a enorme influência que esta continua a ter. Parsifal, 228 págs., €17,50

22. O Homem mais Rico de Sempre
Greg Steinmetz

O ex-editor do The Wall Street Journal Greg Steinmetz conta-nos, aqui, a vida do alemão Jakob Fugger (1459-1525) que foi banqueiro de Papas, imperadores e outros figurões da sua época, conseguindo assim ficar com o estatuto de “primeiro bilionário da História.” Neto de um camponês, Fugger fez da acumulação de capital um objetivo e um modo de vida, e quando morreu a sua fortuna equivalia a 2% de toda a riqueza produzida, então, na Europa. O autor desta biografia olha para o banqueiro alemão como “o primeiro capitalista de sempre” e acredita que o seu exemplo tem algo a dizer-nos sobre o presente e o modo como hoje vivemos as nossas vidas. Casa das Letras, 280 págs., €16,90

23. Espelho Mágico – Uma História do Cinema
Francisco Valente

Cada história revela sempre o historiador, por mais imparcial que ele tente ser, sendo justamente esse lado mais pessoal o que fascina em muitas obras que tentam abarcar as raízes de qualquer área. E é esse o esforço e o interesse deste volume de Francisco Valente, que nos propõe uma história do cinema centrada na experiência do espectador. O atual curador do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e membro do Plano Nacional de Cinema revisita alguns momentos marcantes (mais ou menos conhecidos) da sétima arte. Em cada capítulo há uma lista de filmes que nas páginas seguintes são visitados em notas históricas e pessoais. Um guia para ampliar o universo visual de qualquer cinéfilo. Orfeu Negro, 628 págs., €21

24. Vou Dizer-te o que Penso
Joan Didion

Último livro publicado em vida pela autora, esta coleção de 12 ensaios, redigidos entre 1968 e 2000, tem uma qualidade intimista. Não porque Joan Didion explore um registo confessional fácil, embora factos biográficos sejam aqui descritos (como a experiência de ter frequentado uma seleta oficina de escrita, em Berkeley, com 19 anos, ou a referência à sombra protetora do marido John Gregory Dunne), mas sobretudo porque há aqui um gesto de entomologista, de argúcia, de escalpelo, que não permite um distanciamento sobre o que escreve. O autor e crítico de teatro Hilton Als di-lo assim no prefácio: “É evidente que parte da natureza notável do trabalho de Didion se relaciona com a sua recusa em fingir que não existe.” Há um “eu” sempre presente, ainda que os textos possam ser habitados por nomes como Mapplethorpe, Hemingway, Toni Morrison ou Martha Stewart. Cultura, 144 págs., €15,95

25. O Ocidente
Naoíse Mac Sweeney

Num planeta geometricamente esférico, e em permanente movimento de rotação, convenhamos que os conceitos de “ocidente” e “oriente” são, na sua base, bastante misteriosos e aleatórios. Oriental em relação a quê? Ocidental porquê? Mais força ganhou, ainda, a expressão “cultura/civilização ocidental”, que associamos a distantes raízes na Grécia e no Império Romano. A autora deste livro, historiadora e arqueóloga doutorada em Cambridge e professora na Universidade de Viena, leva-nos a refletir sobre estes conceitos numa viagem, com várias paragens (no tempo e no espaço), alicerçada nas vidas de 14 personalidades – de Heródoto (séc. V a.C.) até Carrie Lam (líder do governo de Hong Kong entre 2017 e 2022). Num momento em que grandes potências como a China e a Índia se impõem globalmente, é ainda mais pertinente pensar no que define a identidade “ocidental”, destruindo alguns mitos e lugares-comuns pelo caminho. Desassossego, 352 págs., €21,10

POESIA

26. Camões, uma Antologia
Textos escolhidos e anotados por Frederico Lourenço

Ser convidado para um passeio por bosques literários, tendo como companhia um guia extraordinário, é um prazer que não se recusa. Esta bela edição, com uma boa portabilidade, apesar das mais de 600 páginas, atempadamente lançada durante as comemorações dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões, é, sobretudo, um convite lançado aos leitores por Frederico Lourenço. Aqui, reúnem-se os trechos camonianos preferidos do escritor, tradutor e autor classicista, que incluem Os Lusíadas, assim como uma seleção de sonetos, odes, canções, elegias e éclogas, e uma coleção de anotações pontuadas por uma erudição acessível. E é por aí que Lourenço adverte que “nunca entenderemos o poeta d’Os Lusíadas se o divorciarmos dos autores da Roma Antiga que ele próprio lia e a quem fez questão de aludir.” Quetzal, 632 págs., €24,90

27. A Luz que Eu Buscava Intensa
Luís Amorim de Sousa

Ao fim de muitos anos de poesia, escreve o autor, numa breve nota introdutória, que sentiu a necessidade de reunir num só livro alguns dos poemas que lhe foram ficando. Neles, sublinha Pedro Mexia, encontram-se cidades, museus, amigos, outros escritores e expatriados em Inglaterra, o “frémito” e a “fugacidade”, o maravilhamento estético e íntimo – emanando até das coisas mais simples, como no poema Homenagem a Yannis Ritsos: “As casas descem pela encosta leste/ sempre ávidas de sol/ todas viradas para o mar/ o declive é suave sem limos nem falésias/ o sol preguiça por aquelas partes/ o mar fundíssimo é pródigo e sereno (…).” Tinta-da-china, 180 págs., €15,90

28. Prado do Repouso
Jorge Reis-Sá

Com um pé na edição, no romance e no conto, Jorge Reis-Sá assinala 25 anos de percurso literário, revelando onde tudo começou. Prado do Repouso recolhe duas décadas e meia de poesia, com uma generosa secção de inéditos e com uma nova arrumação de livros e textos, incluindo de prosa poética, o que faz deste volume muito mais do que uma poesia reunida. Numa nota final, o escritor oferece alguns guias de leitura para a sua própria produção poética, marcando algumas mudanças, do lirismo da juventude, devedor de Eugénio de Andrade, a um olhar para o quotidiano, passando pela figura do pai. A Casa dos Ceifeiros, 320 págs., €19,95

29. Tal Como És
Ryokan

Estes breves poemas são perfeitos para horas de modorra, lidos sem pressas ao sabor de um tempo que não nos escraviza. Ryokan (1758-1831) foi um monge budista zen japonês, e estes versos transportam-nos para um universo peculiar, distante dos nossos dias. Marta Morais, responsável pela seleção, organização e tradução do japonês, fala-nos de uma “poesia do silêncio”, escrita por alguém que “não conseguia deixar de cantar e compor poemas.” As mais simples rotinas de um quotidiano longe da vida mundana – como “ir buscar água fresca entre os musgos” – percorrem estas páginas. Assírio & Alvim, 392 págs., €22,20

Biografias: Vidas…

Carmen Posadas permite um voyeurismo estival, aplicando o seu talento de boa contadora de históricas em Hoje Caviar, Amanhã Sardinhas (Casa das Letras, 336 págs., €19,90), em que mistura memórias e viagens da sua família, comandada por patriarca diplomata, episódios pícaros e até receitas de lasanha por ela inventadas. Outro registo e fôlego é o de Zami: Assim Reescrevo O Meu Nome (Orfeu Negro, 432 págs., €22,01), “biomitografia” de Audre Lorde, ícone do feminismo negro e do ativismo antirracista, narrando as suas experiências enquanto poeta negra e lésbica nos anos 1950 e as descrições frontais das relações amorosas, solidárias ou familiares entre mulheres. Outro tipo de woman power é o descrito em Taylor Swift – A História Completa (Contraponto, 264 págs., €18,80) por Chas Newkey-Burden, em que se passa em revista uma das carreiras musicais mais escrutinadas no planeta, e se descobre que até era suposto que ela seguisse a carreira de corretora da Bolsa e não a música. Para rematar, há que colocar leituras em dia com três grandes biografias dedicadas a figuras nacionais: Fortuna, Caso, Tempo e Sorte (Contraponto, 728 págs., €24,90) da romancista Isabel Rio-Novo, sobre Camões; e as reedições de Sophia (A Esfera dos Livros, 336 págs., €22), da jornalista e ensaísta Isabel Nery, e Alexandre O’Neill – uma Biografia Literária (Assírio & Alvim, 376 págs., €19,99) de Maria Antónia Oliveira.

BD: Manga e história

Acompanhando outros mercados editoriais e a explosão da oferta, as editoras portuguesas apostam cada vez mais em BD, de todos os géneros e feitios. O segmento que mais cresce é o da manga (e não só a japonesa). O grupo Penguin, por exemplo, acaba de lançar uma chancela específica, a que designou Distrito Manga. Começa com duas séries, que mostram um pouco da história do género. Um título famoso, já completado, em 34 volumes, Ataque dos Titãs, com uma batalha épica num mundo distópico, e Edens Zero, ainda em curso, com jovens que vivem num reino de sonhos e bots (já disponíveis dois volumes de cada série, a €9,95 cada). Ainda no universo manga, na Presença, o 8.º volume de Solo Leveling, um dos grandes êxitos vindos da Coreia do Sul (272 págs., €16,90). Na Asa, primeiros volumes das séries UnOrdinary e A Teoria do KO (a €18,90 e a €10,90, respetivamente). A mesma editora lança Tananarive (116 págs., €20,90), uma novela gráfica sobre um reformado que fará a sua primeira viagem para descobrir o outro e a si próprio. Na Gradiva, o último volume da adaptação da Ilíada, de Homero, em mais um exemplo da expressividade da nona arte, e uma biografia de Mussolini com as principais etapas do seu percurso (ambos 64 págs., €20,99). Na Ala dos Livros, Laurent Hopman conta, em BD, As Guerras de Lucas, os bastidores da produção e filmagens do primeiro episódio de A Guerra das Estrelas (208 págs., €31).

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