1. O Mangusto
Joana Mosi
Eis um caso singular: uma novela gráfica de uma autora portuguesa, publicada primeiramente no Canadá e, agora, em edição nacional, dirigida a um público amplo. É a confirmação de Joana Mosi (n. 1994) como uma artista completa, no desenho e no argumento, muito na linha de outros trabalhos, como Altemente, Nem Todos os Cactos têm Picos, O Outro Lado de Z ou The Apartment. O Mangusto destaca-se, em primeiro lugar, pelo preto-e-branco, que se funde com a página, ora ampliando ora enclausurando o quadriculado. Nesta deambulação pelos terrenos da solidão e do luto, Mosi aborda com originalidade os desencontros familiares e, sobretudo, as falhas de comunicação. A Seita, 184 págs., €25
2. Aristóteles
Tassos Apostolidis e Alecos Papadatos
A centralidade da BD no presente panorama editorial, em Portugal e no estrangeiro, é cada vez mais indiscutível e explica-se pela capacidade que a Nona Arte tem demonstrado (e que sempre teve) para contar novas histórias, refazer as antigas e abordar temas complexos. A biografia de Aristóteles é um extraordinário exemplo desta última dimensão, ao nos conduzir pelos intrincados meandros do pensamento do filósofo grego. Aqui, a dificuldade está tanto do lado do argumentista como do desenhador, e ambos respondem admiravelmente ao desafio. Aristóteles interessou-se por tudo, desde a biologia à política, da ética à astronomia, da tragédia à comédia. No argumento, sempre que necessário, o grego Tassos Apostolidis não foge à abundância do texto, sem nunca se esquecer da ideia do enredo. No desenho, já experiente em outras matérias complexas (como a matemática, em Logicomix), Alecos Papadatos recorre às mais engenhosas soluções gráficas para destacar conceitos e abstrações. Gradiva, 216 págs., €26,50
3. Mau Género
Chloé Cruchaudet
Todas as guerras escondem infinitas histórias, algumas nobres, outras infames, umas de resistência, outras de sobrevivência – todas humanas, afinal. A de Paul Grappe distingue-se por, a seu tempo, ser rara e por ecoar na nossa contemporaneidade como um ato de liberdade. Desertor do Exército francês na I Guerra Mundial, Paul vestiu-se de mulher para não ser identificado. O que era, no início, um disfarce passa a ser uma identidade dupla, que o fascina e reinventa. A partir de uma investigação histórica de 2011 e com um desenho sóbrio e sugestivo, Chloé Cruchaudet recria as muitas viagens até ao fim da noite de Suzanne, nome de guerra adotado por Paul. Iguana, 192 págs., €22,95
4. O Árabe do Futuro 5
Riad Sattouf
São momentos decisivos os que Riad Sattouf viveu entre 1992 e 1994 e que relata no quinto volume d’O Árabe do Futuro, a autobiografia em BD. Com os ingredientes que tornaram esta saga familiar um dos projetos artísticos mais estimulantes (e inesquecíveis) das últimas décadas (com um traço, sobretudo, de contorno e um jogo muito hábil de poucas cores), registam-se a entrada na adolescência, a consciência mais aguda dos desafios do mundo árabe (saído da Guerra do Golfo) e a experiência das intermitências do amor. Com a radicalização do pai, que chega a raptar a irmã mais nova, Riad tem de refazer a sua identidade e abrir caminho para o percurso artístico. Teorema, 176 págs., €22,90