Rui Ochoa faz parte de uma geração privilegiada [é um privilegiado]. Não porque tenha recebido algum direito especial, por favor, mas por ter tido a sorte de ter presenciado, já como jornalista, um dos períodos mais extraordinários dos nossos quase 900 anos de História: o 25 de Abril e a “democracia”.
Jovem repórter fotográfico na altura da revolução, Ochoa iniciou no Jornal de Notícias uma brilhante carreira que o levaria a ocupar, inclusive, o mais importante cargo na área da fotografia alguma vez criado na Imprensa portuguesa, o de diretor de fotografia, no jornal Expresso, nos anos 90, quando a imagem ganhou um merecido (e, hoje, infelizmente desaparecido) protagonismo.
É o apelo e gosto de Rui Ochoa pela cobertura política que torna este livro especial, permitindo-nos reviver os momentos políticos marcantes, bem como os protagonistas, dos primeiros 25 anos da democracia portuguesa: o 25 de Abril, o 11 de Março, o PREC e a Reforma Agrária, o 25 de Novembro, a descolonização, a aprovação da Constituição, os líderes partidários, as campanhas eleitorais, as greves, os congressos partidários, as visitas oficiais e de chefes de Estado. As fotos são acompanhadas por legendas explicativas, que identificam o que estamos a ver.
Num texto escrito especialmente para esta obra, Marcelo Rebelo de Sousa recorda e analisa este período político. Mas, ao escolher as quase 250 imagens a preto e branco de 74/99 – Fotografia (Casa das Letras, 319 págs., €59), Ochoa incluiu na seleção final outros acontecimentos sobre os quais caiu o seu olhar de repórter, como o terramoto de 1980 nos Açores, o incêndio do Chiado em 1988 ou a Expo 98; retratos de personalidades dos meios económico, artístico e intelectual que marcaram estes 25 anos; e ainda alguns “instantes fotográficos”, que são também viagens no tempo, como uma aula numa escola de Alfragide, uma festa no bar Frágil ou o festival de Vilar de Mouros de 1982. Em todos os casos, felizmente, o repórter estava lá.
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