É já o quarto longa-duração dos Minta & The Brook Trout, o projeto principal de Francisca Cortesão, e o tempo parece não ter passado. Neste caso, isso é bom, porque o que procuramos aqui, uma e outra vez, é o conforto conhecido de uma boa camisola. Podemos comprar outras, sermos por elas episodicamente conquistadas, mas voltamos sempre ao que, na verdade, nos faz sentir nós próprios.
As mudanças face ao que deles conhecemos existem, mas não são esmagadoras. Um pouco mais de sintetizadores (discretos, como convém) e menos de guitarra, nada do saudoso ukelele, temas ligeiramente mais longos do que o habitual. Demolition Derby não vive da mudança nem da rutura, da mesma forma que os Minta & The Brook Trout não foram feitos para gritaria nem para grandes revoluções. Felizmente.
O registo destas oito canções é intimista, discreto e de uma sensibilidade suave que chega a ser comovente. Temas construídos lentamente, com bom gosto, como uma caixinha-de-música, cujas pequenas engrenagens pressentimos, mas não conseguimos ver. Sobre esta cama acústica, as letras – em inglês – estão melhores do que nunca e contam-nos histórias de contemplação e de inadaptação, pelos olhos e pela voz de quem parte das coisas do dia a dia para abrir o ângulo para os temas universais que a todos assaltam. Mais uma vez, as dúvidas e o medo estão lá, numa adolescência fora de tempo que, na verdade, nunca vai totalmente embora. Mas os Minta têm este lado nerd e doce que nunca lhes permite resvalar para a zanga ou, pior ainda, para a lamechice. Se o ambiente geral é de um conforto que procuramos no interior, nos meses frios, as melodias prestam-se também ao tempo quente que estamos a viver. Mas sem boias de flamingo ou de geleira portátil. Isto é música para se ouvir à sombra e com bastante protetor solar, por via das dúvidas.
Demolition Derby é o primeiro disco de Minta, desde 2016, e não poderá deixar de figurar entre os melhores da música portuguesa de 2021. Que a sua elegante discrição não leve a que seja ignorado.