Bem pode dizer-se que uma das qualidades dos Tindersticks, atualmente, é a longevidade. Afinal, foi já em 1993 que se deram a conhecer num disco homónimo que, desde os primeiros segundos, afirmava uma identidade bem marcada. A mesma, que se reconhece ainda nas canções de No Treasure But Hope, o 12º álbum de estúdio da banda, editado no final do ano passado. Uma boa parte dessa identidade está intimamente ligada à incomparável voz e ao modo de cantar de Stuart Staples, que carrega, a cada verso, uma mistura irresistível de melancolia e romantismo.
Muitas das canções deste álbum foram escritas em Ítaca, ilha grega onde Staples tem passado uma boa parte dos seus dias – um excelente lugar para exercitar esse nervo da melancolia e do romantismo, diga-se. A inspiração passou por ali. Em No Treasure But Hope ouvem-se algumas das mais bem conseguidas canções da banda. Aqui e ali, até se sentem respirações mediterrânicas, uma musicalidade que também inspirou outro romântico, Leonard Cohen, numa outra ilha grega: Hydra.
A canção The Amputees, com aquela frase sucessivamente repetida (“I miss you so bad…”) na voz sofrida de Stuart Staples, transforma-se, ao fim de algumas audições, numa espécie de clássico com a marca sem tempo dos Tindersticks. O disco começa por evocar, em For the Beauty, a força da beleza – uma “beleza” associada a dores e a sofrimento, que mata aos poucos, mas que é o norte de todas as bússolas. Termina, com a faixa que dá título ao álbum, dizendo-nos que o único “tesouro” é a “esperança” neste mundo sem amor nas ruas e com medo nos nossos corações. Como tanta da melhor música popular das últimas décadas, isto é pop para adultos. Adultos melancólicos.

As canções de No Treasure But Hope estarão no centro dos cinco concertos que os Tindersticks, banda muito assídua nos palcos nacionais, têm marcados em Portugal: de 17 a 22 de fevereiro em Faro, Lisboa, Leiria, Coimbra e Porto.