![CHARLES BUKOWSKI.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/13593035CHARLES-BUKOWSKI.jpg)
D.R.
Há íman na poesia de Charles Bukowski. A uns atrai, a outros afasta, sem lugar para meios-termos. Basta abrir ao acaso um livro de poemas seus, ou a antologia que agora se publica em Portugal, Os Cães Ladram Facas, com organização e seleção de Valério Romão, e o campo em que o leitor se situa ficará definido. Ama-me ou odeia-me, parecem dizer-nos estes versos, o que não andará longe da intenção do escritor norte-americano (nascido na Alemanha) e um dos ícones da liberdade pessoal e criativa do século XX.
Há íman nesta poesia porque há vida, transgressão, tragédia e redenção. Tudo em excesso e em estilo aparentemente simples, ou fundado (nos poemas mais antigos) em metáforas de irrepetível grandeza. Reverso do “sonho americano”, Charles Bukowski é paradoxalmente a confirmação desse ideal construído no pós-guerra, embora alcançado através dos subterrâneos e catacumbas da existência. De uma infância violenta e brutal a mito vivido em vida, tem uma obra que rasga convenções, quer no estilo quer no tema quer ainda na interpretação. Como na prosa, vida e poema confundem-se.
Com estes ingredientes, poderia supor-se que a composição desta antologia seria empreitada fácil para o organizador. Não se trata, porém, de caminho sem obstáculos. A obra poética é vastíssima, uma dezena de livros foi publicada postumamente, há demasiados poemas sobre os mesmos temas (as mulheres, o álcool, a exploração, a escrita e a infância) e alguns oscilam entre a verdade íntima e a autoajuda. Valério Romão soube privilegiar a diversidade e o inesperado, sem fugir dos lugares louvados. Se se lamenta a ausência dos originais em inglês, que em alguns casos sublinhariam a força destes poemas e da tradução de Rosalina Marshall, saúda-se esta que é a maior recolha poética do autor publicada em Portugal.
![CãesLadramFacas.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/13666851C%C3%A3esLadramFacas.jpg)
“Os Cães Ladram Facas” (380 págs., €18,90) é o décimo título de Bukowski que a editora Alfaguara publica em Portugal, depois de obras, romances e contos tão famosos como “Mulheres, Pão com Fiambre” ou “A Sul de Nenhum Norte”