Os mais distraídos (e antigos…) podem, ainda hoje, associar o nome de Neneh Cherry, sobretudo, a um êxito que, em 1994, tomou os tops de assalto: Seven Seconds, de Youssou N’Dour, que contava com a voz dela em dueto com o cantor senegalês. Foi um ponto de viragem, em termos de popularidade global, na sua carreira, muito ligada à cena musical que se desenvolveu em Inglaterra a partir do início dos anos 90 (falamos de Massive Attack, Tricky, Portishead…).
Ao ouvir as canções de Broken Politics ocorre-nos muitas vezes o nome desse género musical que, sem ser muito antigo, parece ter ficado perdido lá atrás, sem grande utilidade para o mundo de hoje: trip-hop. Já ninguém fala em trip-hop. Mas ao ouvirmos, por exemplo, a faixa Faster than the Truth (atualíssima, sobre a desinformação nesta era de poderosas mentiras e fake news), parece que recuamos ao disco de estreia de Tricky a solo (Maxinquaye, de 1995) e a essa revolucionária e elegante mistura de hip-hop e eletrónica, na senda do que já fazia nos Massive Attack. O novo disco de Neneh Cherry passa muito por essa simbiose permanente entre temas urgentes dos nossos dias (o título, Broken Politics, dá o mote) e uma linguagem musical herdeira de referências, que vêm da transição do século (entre o dub e o jazz, o hip-hop e a eletrónica, sem perder uma espécie de matriz de pop para gente crescida).
Tal como acontecia no disco anterior de Neneh Cherry (Blank Project, de 2014, o quarto da sua carreira), a sonoridade de todas as canções é muito devedora da visão como produtor e do trabalho como compositor do londrino Kieran Hebden (mais conhecido pelo seu nome artístico, Four Tet), exímio manipulador das subtilezas da maquinaria sonora, que produz uma boa parte da banda sonora dos nossos dias.
Veja aqui o vídeo do tema Kong