É certo e sabido que não há nada melhor que um coração destroçado para fazer um grande disco. É um dos bê-á-bás da música popular, tal como Ryan Adams volta a provar com este novo Prisoner, um trabalho feito na ressaca do fim do casamento de seis anos com a atriz Mandy Moore. Do You Still Love Me? questiona o músico e cantor de Jacksonville logo no tema de abertura, dizendo logo ao que vai com uma canção feita de guitarras elétricas e teclas ao melhor estilo de uns Whitesnake filtrados à luz desta segunda década do século XXI, quando já tudo pode ser fixe outra vez… Não é segredo para ninguém que o rock dos anos 80, aquele mais orelhudo e cantarolável, a que à época se convencionou chamar de FM, tem sido uma das grandes inspirações de Ryan Adams ao longo da sua profícua carreira, iniciada em 2000 com o aclamado Heartbreaker (corações partidos, lá está…).
A receita de Prisoner não é, portanto, nova: rock melódico com um quê de folk, letras nostálgicas a remeter para os-bons-velhos-tempos-em-que-tudo-eram-rosas-e-agora-é-só-deceção-e-tristeza como em To Be Without You, a melancolia transformada na pop mais que perfeita de Doomsday, o bater no fundo de Breakdown e por aí fora, ao longo de 12 temas que terminam na confessional We Disappear, reconhecimento de que, apesar de tudo, é finalmente tempo de seguir em frente. À memória surgem amiúde os nomes de Tom Petty, John Mellencamp ou até de Bruce Springsteen (Outbond Train poderia facilmente ser uma das boas canções do Boss), mas, nesta reta final da segunda década do século XXI, esse é precisamente o maior elogio que se pode fazer a um músico chamado Ryan Adams.
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