Os britânicos The XX conseguiram, em 2009, um feito que não é assim tão comum na música pop rock deste século: criar um som próprio, uma identidade sonora que permitia identificá-los ao fim de poucos segundos. Não inventaram a roda, que isso já não é mesmo possível, mas a sua combinação de linhas de baixo fortes, ritmos downtempo viciantes, arranjos descarnados de uma pop minimalista e a mistura das vozes de Romy Madley-Croft e Oliver Sim, quase sempre envoltas numa melancolia very british, criou, muito rapidamente, o estilo “xx” – o que, certamente, muito contribuiu para o assinalável êxito global do disco de estreia que se destacou num oceano de mesmices. Seguiu-se, em 2012, Coexist e chega agora o terceiro álbum da banda, I See You. A identidade está toda lá, intacta, mas eles já não são os mesmos. Há mais complexidade e, aqui e ali, mais sentido de festa (como em Dangerous, logo a abrir) e extroversão. Continuam a soar como uma espécie de trip-hop 2.0 trazendo para o século XXI esse som do final do século passado (não nos espanta encontrar o nome dos Portishead na lista dos músicos que ouviram enquanto preparavam este álbum). E mais uma vez demonstram que, mesmo sendo ainda muito jovens, têm a lição bem estudada sobre tudo o que os antecede. O título do novo disco é, por exemplo, uma referência e citação direta de I’ll Be Your Mirror, do histórico álbum de estreia dos Velvet Underground que cumpre este ano meio século de vida – “Please put down your hands, ‘Cause I see you…”. O minimalismo da música dos The xx (agora um pouco menos óbvio) tem-se estendido ao grafismo das suas capas, sóbrias, sempre dominadas por um grande X. Desta vez, jogam graficamente com essa ideia de espelho, um reflexo que os aproxima, mais do que nunca, de quem os ouve. Somos o que ouvimos?
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