Passado pouco mais de um ano do último registo, Star Wars, os Wilco regressam com Schmilco, um disco que surpreende tanto pelo seu despojamento acústico como pelo desassombro das letras de Jeff Tweedy. Aliás, mais que um álbum dos Wilco, este trabalho bem poderia ser uma continuação do disco gravado por Jeff com o seu filho Spencer há um par de anos, sob o nome de Tweedy. O mesmo registo acústico e autobiográfico de então, está agora de volta, como se percebe mal se ouvem os primeiros versos do tema de abertura, no qual o músico recorda, com ironia e alguma amargura à mistura, os seus anos de adolescência e o quanto se sentia deslocado entre os “normal american kids” que tanto odiava. Uma nuvem que se dissipa logo a seguir, na luminosa nostalgia pop de If I Ever Was a Child, talvez uma das canções mais à Wilco de todo o disco, a par de Cry All Day e de Someone to Loose.
Mas mais que este ou aquele tema – e nos discos desta banda há sempre um par deles que se destaca acima dos outros, quase como uma marca de água –, Schmilco vale pelo todo, pela forma concisa e direta como se apresenta. Ao mesmo tempo, está lá tudo o que fez dos Wilco um dos mais aclamados nomes do rock alternativo americano, mas de uma forma mais contida, com o experimentalismo, por vezes levado ao limite em álbuns anteriores, a dar lugar a uma sonoridade acústica com reminiscências, aqui e ali, dos mestres Bruce Springsteen e Neil Young (de quem Jeff Tweedy é fã confesso) ou até dos Beatles mais baladeiros. Sim, este poderá não ser o disco que os fãs esperavam, mas é sem dúvida uma boa surpresa e é sempre bom quando, passados mais de 20 anos, uma banda ainda consegue surpreender.
Ouça If I Ever Was A Child