Vamos partir do princípio que chamar mágico a um livro não é uma redundância (pelo menos a um bom livro) e vamos dar como boa a descrição que é feita na contra capa deste de que aqui falamos: “mais um livro mágico de Hervé Tullet”. Confirma-se: o diretor de arte francês que um dia se tornou autor de livros infantis volta a fazer das suas. Vamos Jogar?, editado pela Presença, começa logo a conversar connosco na primeira dupla página: “Olá, até que enfim! Já estava a ficar aborrecido… Vamos Jogar?”, pergunta uma bolinha amarela empoleirada num traço preto.
E começa o jogo. “Carrega no canto em cima à direita e eu vou para lá.” E não é que a bolinha amarela vai mesmo para o canto em cima à direita, na página seguinte? “E agora carrega neste canto, aí, em baixo à direita.” E lá vai ela. Assim se vai jogando, com os nossos dedos a fazerem mexer, “como por magia”, a bola amarela e o traço preto que a acompanha, de página em página. Saltita, ondula, sobe e desce como num carrossel, quase se emaranha, multiplica-se, ganha novas cores. Não falta sequer um jogo de escondidas neste livro – nem um túnel escuro, por onde bola, traço e os nossos dedos se aventuram, corajosos. Há magia aqui e até existem palavras mágicas para dizer. E, quando damos por nós, já estamos de mãos inteiras dentro do livro, a falar com ele, a soprar-lhe em cima, a sacudir a cabeça, a contar até dez… E, sim, chegamos ao fim e queremos mesmo jogar outra vez.
Não é o primeiro livro em que Hervé Tullet nos conduz numa viagem assim. No ano passado, a Presença já tinha editado Mistura as Cores e, em Portugal, são vários os títulos disponíveis deste autor, graças à editora Gatafunho (Aí Vou Eu! e Pequeno ou Grande?) e sobretudo à Edicare, que tem no seu catálogo Um Livro, O Jogos dos Olhos Fechados, O Jogo do Circo, O Jogos das Sombras, Olá, Eu Sou o Blop, entre outros. Todos a convidar à interação entre leitor e livro, como se este fosse, de facto, um ser vivo (e saltitante e curioso, sempre).
Livres e divertidos são os adjetivos que melhor definem os livros de Hervé Tullet. E o autor, apesar de repetir algumas fórmulas, consegue sempre supreender-nos e deixar-nos de sorriso na cara à medida que passamos de página em página. Para os mais novos – afinal, é para eles que foram pensados – tornam-se jogos mágicos, que, ao mesmo tempo que os deslumbram (sim, os livros são mesmo mágicos), lhes desenvolvem capacidades psicomotoras e lhes estimulam a atenção e a criatividade. Para os mais velhos, os livros de Hervé Tullet são seguramente um regresso à infância e ao tempo em que acreditavam que tudo era possível.
Vamos Jogar? > de Hervé Tullet > Presença > 34 págs. > €10,90