No resultado final destes dois discos há um nome a fixar: o do pianista, músico e produtor Robert Glasper, 38 anos. Mas se não fosse o filme, de Don Cheadle, Miles Ahead (atualmente nos cinemas), provavelmente não estaríamos aqui a falar dele(s). Um destes discos é mesmo a edição da banda sonora de Miles Ahead, algo que ganha importância quando o filme em causa é dedicado a uma das mais originais e marcantes figuras da história do jazz.
Aqui se cruzam registos históricos da trompete de Miles acompanhada por músicos de topo (Max Roach, Ron Carter, Wayne Shorter, Herbie Hancock, Chick Corea ou Dave Holland, para citar só alguns nomes) com breves diálogos do filme e música composta para a banda sonora. Para coordenar todo o processo e acrescentar novos temas, Don Cheadle (também músico, além de realizador e ator) chamou Robert Glasper. Destaque, quase no fim, para o tema What’s Wrong With That?, onde encontramos, juntos e ao vivo, numa sessão feita para este disco, nada menos do que Herbie Hancock, Wayne Shorter, Garry Clark Jr., Esperanza Spalding… Cheadle chegou ao nome de Robert Glasper por sugestão de Vince Wilburn Jr. (sobrinho de Miles e ex-músico da sua banda), um dos responsáveis pelo projeto deste filme que demoraria cerca de oito anos a concretizar.
Glasper estava, afinal, envolvido na produção de um disco de homenagem a Miles Davis: Everything’s Beautiful. Não é o clássico disco de versões ou remixes, mas um estimulante registo de músicas novas que podem partir de um excerto gravado por Miles ou apenas da sua inspiração. Glasper fez questão de incluir estilos (hip-hop, soul, r’n’b…) e músicos muito diferentes, única maneira de verdadeiramente homenagear, em 2016, a herança de Miles Davis. Assim, podemos ouvir aqui Erykah Badu, as KING, Bilal, Phonte ou Stevie Wonder. Glasper estava já, afinal, no mesmo comprimento de onda de Don Cheadle que, no booklet, da banda sonora escreveria: “Se o Miles ainda estivesse por cá, com quem estaria a colaborar? Kendrick Lamar, Kamasi Washington, D’Angelo, Jack White…”
Veja aqui um pequeno documentário sobre Everything’s Beautiful