Para quem está habituado a tomos históricos dominados por descrições amplas, demonstrando investigação exaustiva, este volume guarda surpresas: abre-se o livro de capa dura e a sua estrutura revela pequenas entradas de texto, ordenadas alfabeticamente, que podem ser consultadas avulsamente, de forma simples. Fica a sensação de adaptação à realidade atual em que os leitores comunicam por mensagens curtas e conteúdos sintéticos. A informação está organizada em dois tipos diferentes: artigos mais curtos com informação específica sobre um certo tipo de navio, uma cidade, a biografia de uma personagem; e cerca de 50 textos maiores, abordando temas como “a arte, a guerra, a sociedade, a universidade, as moedas, a gastronomia ou a medicina.” Explica Francisco Contente Domingues, especialista em história marítima, que já participara no Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses (lançado em 1994), que “o leitor não encontrará entradas sobre o astrolábio, o quadrante ou a balestilha, porque o artigo sobre os instrumentos de navegação versa todos eles”. O estilo é diversificado nas quase 400 entradas escritas por 37 especialistas de nove países. “A História não é consensual no depurar e na interpretação das informações que nos chegam”, lembra, na introdução, Contente Domingues.
Essa liberdade estende-se ao sacudir de conceções vigentes: na entrada dedicada à Escola de Sagres, defende-se que é “seguramente o mito mais enraizado e duradouro da expansão ultramarina portuguesa: a ideia de que o infante D. Henrique teria fundado em Sagres uma academia dedicada aos estudos náuticos, geográficos e astronómicos, na qual se teriam alegadamente instalado os maiores sábios europeus da época e onde as viagens de exploração do Atlântico teriam sido cientificamente preparadas e validadas”.
Dicionário da Expansão Portuguesa, de Francisco Contente Domingues (Círculo de Leitores, 528 págs., €19,90) é um primeiro volume de dois, e reporta o período de 1415 a 1600, compreendendo as entradas de A a H. O próximo tomo sairá ainda neste primeiro semestre de 2016.