A propósito da renovação do Bairro Alto Hotel, o arquiteto Eduardo Souto de Moura diz que não fez um estudo de cores, que apenas escolheu tons suaves: amarelo-ocre original, azul-claro, verde-claro e verde-acinzentado. Além da sobriedade na seleção dos tons, o que daqui há a destacar é o facto de os quatro edifícios, que agora compõem o hotel, manterem as suas cores, isto é, não terem sido pintados de uma só, respeitando, assim, a identidade de cada um.
Não por acaso, à porta do Bairro Alto Hotel, reinaugurado em agosto do ano passado e a funcionar em pleno desde o final de outubro, continua a estar o senhor Rui José. Permanece como porteiro desde a fundação do hotel, em 2005, e agora foi um dos 36 funcionários que se mantiveram da equipa anterior à renovação. Explica a administradora, Marta Tavares da Silva, que a principal preocupação foi a de que se continuasse a sentir o “espírito” do hotel. Acrescenta o diretor-geral, João Prista Von Bonhorst, que, em parte, o objetivo também era “devolver à cidade este quarteirão, com uma oferta que fizesse sentido para o hotel e para o bairro”. Já se escreveu, nestas páginas, que é justo falar-se no modo como todo este processo foi conduzido – sobretudo no que diz respeito aos idosos que ainda viviam nos edifícios entretanto comprados pelo hotel. Repeti-lo não é demais: a extensão do Bairro Alto Hotel para os edifícios adjacentes deveria ser um exemplo para todos os proprietários do centro histórico de Lisboa.
Arte no dia a dia
Contando com a compra de todo o quarteirão, o investimento envolveu cerca de 30 milhões de euros. Não é o único número que impressiona: as obras duraram dois anos e a área do hotel duplicou, de 4 500 para nove mil metros quadrados. Agora, dispõe de um total de 87 quartos (dos quais 22 são suítes), mantendo–se a responsabilidade dos interiores a cargo do Atelier Bastir, de José Pedro Vieira e de Diogo Rosa Lã. Convém ainda realçar que, apesar da ampliação, o Bairro Alto Hotel não perdeu aquela filosofia de small is beautiful que sempre teve, da beleza das pequenas coisas, do cuidado com que se olha para o sofazinho e para a mesinha de apoio. Da janela de onde se vê o Tejo amanhecer às secretárias em que, só de olhar, já apetece ali estar a trabalhar, os pormenores continuam, portanto, a ter toda a importância.
Dizem José Pedro Vieira e Diogo Rosa Lã que o grande desafio é “o de renovar o hotel sem perder o charme e personalidade originais”, mantendo “o estilo intemporal e despretensioso, mas sofisticado”. Fazia, por isso, todo o sentido que, no dia a dia do hotel, se integrassem as peças de arte contemporânea da “casa”: as fotografias de Rui Calçada Bastos e, na entrada, as esculturas de Rui Chafes
Propositadamente para a ocasião, foi feita uma obra de Vasco Araújo e, para a renovação, encomendou-se também uma tapeçaria, com base de macramé, assinada por Oficina 166 (Diana Menezes Cunha). O desenho lembra as colinas da cidade e as cores remetem para as fachadas dos prédios lisboetas. E de como, sem querer, fomos dar ao que ainda faltava dizer neste artigo: em boa medida, o charme do hotel deve-se ao facto de Lisboa acontecer aos seus pés. Discretamente, como quem não quer a coisa.
Os três restaurantes do Bairro Alto Hotel
BAHR Restaurante & Bar Se se puder escolher, escolha-se uma das mesas mesmo em frente ao balcão em mármore que separa a sala da cozinha aberta. Ver trabalhar os artistas (toda a equipa liderada pelos chefes Nuno Mendes e Bruno Rocha, seu braço-direito) é um espetáculo que antecede outro espetáculo ainda maior: quem disse que a excelência está no fine dining? 13h-15h (almoço), 19h30-23h30 (jantar)
Terraço BAHRN No quinto andar, há um novo terraço, aberto ao público em geral (ao contrário do antigo, no sexto piso, agora apenas disponível para os hóspedes do hotel). Servem-se pequenos–almoços (recomendamos muitíssimo!), a carta do restaurante (no horário do almoço e do jantar) e, durante todo o dia, uma carta de refeições ligeiras. 7h-11h (pequeno-almoço), 12h30-1h (bar e refeições ligeiras)
18.68 Situado no rés do chão do hotel, virado para o Largo Barão de Quintela, no local onde funcionava o quartel dos bombeiros voluntários, o novo bar de cocktails do hotel abrirá no final de janeiro. A decoração fará lembrar uma brasserie parisiense e a carta apostará nos petiscos contemporâneos. ter-sáb 10h-18h
Bairro Alto Hotel > Pç. Luís de Camões, 2, Lisboa > T. 21 340 8288 a partir de €345 (época baixa), €415 (época alta)