A melhor maneira de chegar à Companhia das Culturas é de comboio, saindo em Castro Marim e percorrendo depois 300 metros a pé. Já foi tarde, o aviso de um amigo e, quando vimos que se tratava de uma estação-apeadeiro de outros tempos, ficámos ainda com mais pena. Olhando para o calendário das atividades agrícolas, também nos apercebemos que, se a estada tivesse ocorrido agora, teríamos figos para apanhar. Há que aceitar o que a vida nos dá, e a verdade é que, há dois meses, a nossa visita também deu frutos a rodos – o superlativo absoluto sintético não chega para classificar os saborosíssimos albricoques (de sequeiro!) da Companhia das Culturas no passado mês de maio.
Até agora só se falou de agricultura, mas, sim, a Companhia das Culturas é um turismo rural. Foi construído a partir das ruínas de uma propriedade de 40 hectares, segundo um projeto de Pedro Ressano Garcia. Abriu há nove anos, foi crescendo e, hoje, engloba nove quartos e quatro apartamentos (três duplex e um térreo, aproveitando o antigo lagar). “Assumimos sempre as preexistências e, provavelmente, havia umas de que não gostava e que agora são as minhas preferidas”, explica o arquiteto.
Francisco Palma-Dias, 71 anos, o herdeiro-proprietário, chama-lhe fazenda. Sem ele, nada disto teria sido preservado: é ele que se lembra de, em pequeno, ir de burro buscar água à Praia Verde (1,5 quilómetro), é ele que tenta interpretar o cruzamento de ecossistemas entre o Guadiana e o Barrocal, é ele que sabe que houve aqui cinco gerações de agricultores sem água, é ele que mantém “a memória do lugar”. E é dele a arte da petiscaria Tal Qual, honra seja feita à dieta mediterrânica: provámos açorda de fava rica, laranja fatiada com azeite e mel e salada sulitana, tudo coisas que não se esquecem.
A seu lado está Eglantina Monteiro, 61 anos, Tina, mulher e companheira neste projeto que também tem a ver com “uma certa conceção do mundo”. “O que é que eu posso fazer com aquilo que tenho? É um lugar de afirmação”, diz Tina. No núcleo principal, o arquiteto criou um pátio interior que, originalmente, não existia. Acabou por ajudar a deixar passar a luz para os quartos, cada um decorado de sua maneira, todos com um pormenor em comum: uma cadeira à entrada. Uma forma de estar.
A antiga garagem da debulhadora da Companhia das Culturas está agora forrada a cortiça. É nessa Cork-Box que decorrem aulas de ioga duas vezes por semana.
Companhia das Culturas > Fazenda S. Bartolomeu, R. do Monte Grande, Castro Marim > T. 281 957 062/ 96 036 2927 > a partir de €90 (época baixa) e de €110 (época alta)