
Por enquanto, o que está a funcionar é um edifício adjacente à casa original (do século XIX), com 22 quartos distribuídos por dois pisos, loja e restaurante no rés do chão
Isto pode parecer comentário de quem gosta de palavras e sobretudo de quem gosta, uma vez por outra, de brincar com elas. Mas uma coisa que fica entre a muralha de Lagos e a Rua do Jogo da Bola só pode ser coisa boa. Porque ele há nomes que, de tão bonitos, davam um poema. É dizer Rua do Jogo da Bola e vê-la logo a rebolar por ali fora. E é dizer Casa Mãe – o hotel (palavra eficaz, mas vulgar e, por isso, absolutamente desnecessária neste contexto) de que aqui se trata – e pensar que casa e mãe são substantivos quase sinónimos.
Pelo jogo da bola, entremos, então, por esta Casa Mãe adentro. Portas e janelas rasgadas a abrir-nos os horizontes muito para lá da muralha dos descobridores portugueses no Quatrocentos. A arquitetura do ateliê Can Ran que não se impõe, mesmo que isso signifique deixar a vista para o quintal do vizinho. Branco, branco, branco. E também alguns azuis (o dos tecidos e almofadas da Lona, por exemplo), alguns avermelhados (o chão com a terracota de Santa Catarina, no Barrocal algarvio). Há pouco falava-se de poesia e, porque estamos no centro histórico de Lagos, tudo isto podia ser um poema de Sophia. A Casa Mãe não é um hotel, é uma casa – onde se dorme e come maravilhosamente bem, mas uma casa que quer fazer parte da região. Do local, melhor dizendo.

No restaurante Orta, dominam os sabores saudáveis. Todas as sextas-feiras, um chefe prepara um menu especial de sete pratos sobre um tema específico
A Casa Mãe ainda não está completa, as obras na casa original (do século XIX) só deverão terminar em fevereiro. Aí ficarão cinco quartos, mais três cabanas-estúdio do lado de baixo da piscina, por cima do jardim e da horta. Por enquanto, o que está a funcionar é um edifício adjacente, com 22 quartos distribuídos por dois pisos, loja e restaurante no rés do chão. E, para entender o espírito do lugar, já é muito. Devagarinho, dando atenção a tudo: às reixas das varandas, à cerâmica da Círculo e à de Ricardo Lopes, à forma abaulada do bar que faz lembrar os barcos dos pescadores…

Véronique Polaert, uma parisiense de 32 anos que trabalhava na Morgan Stanley e que se apaixonou por Lagos: “Aqui tudo é feito à mão e eu venho de um mundo onde tudo é manufaturado”
A alma de tudo isto é Véronique Polaert, uma parisiense de 32 anos que deixou o emprego num banco de investimento para se dedicar à Casa Mãe. Conta ela que, quando conheceu Portugal, achou que estava no paraíso: “Tudo é feito à mão e eu venho de um mundo, o da finança, onde tudo é manufaturado.” Véronique gaba-se (e faz ela muito bem) de, dos produtores aos artesãos, saber os nomes das pessoas que fizeram tudo o que aqui está. É ela quem, quando está feliz, diz a palavra que está escrita num dos néons: “tududu”. Brincadeira de palavras.

Na loja da Casa Mãe, estão à venda revistas e livros, peças de roupa, chás e pequenos objetos de marcas nacionais. Algumas das marcas são associadas do próprio projeto Casa Mãe (como a Lona, por exemplo)
Casa Mãe > R. do Jogo da Bola, Lagos > T. 96 836 9732 > info@casa-mae.com > a partir de €95