Se nos perdermos, também não vem daí grande mal. O que é preciso é não nos atrapalharmos, entre os corredores, as esquinas, as escadas, as muitas salas e as portas que lhes dão acesso. A pousada da Flor da Rosa, que oficialmente de há uns tempos para cá passou a chamar-se Pousada do Crato, parece um labirinto, mas na verdade não o é. Mais tarde ou mais cedo, tudo há de ir dar a uma das janelas que Carrilho da Graça rasgou no mosteiro fundado pelos monges-cavaleiros da Ordem do Hospital.
A transformação levada a cabo pelo arquiteto foi (continua a ser) extraordinária. O claustro, a torre, o mosteiro-acastelado, as hortas que o circundam, as casas da aldeia que para ele estão viradas como que a adorá-lo. “Um enigma”, chamou-lhe o próprio Carrilho da Graça. Tanto que poderia ter desajudado à recuperação… E, mais de 20 anos depois da obra, há a certeza de que o traço do arquiteto não só não grita como não se impõe, nada do que aqui foi acrescentado anula o que já existia. Uma ala nova, com 13 dos 24 quartos que a pousada tem, na qual mesmo sem sermos especialistas se reconhece a volumetria dos edifícios projetados por Carrilho da Graça. É lá que também fica o novo spa, onde até o mais tagarela pensará na hipótese de se converter em eremita. Acaba por ser uma cápsula, uma caixa negra e pequena (sala de tratamentos, sauna, banho turco e zona de relaxamento com uma piscininha muitíssimo recomendável), apenas iluminada pela luz natural das janelas abertas (retangulares, que outra forma poderiam ter?) junto ao chão.
Ao domingo de manhã, não se vê vivalma na Flor da Rosa. Duas ou três pessoas tratam da horta, ouvem-se as rolas, mas nem a cegonha da torre sineira se dispõe a aparecer. Vem aí dia de calor, de muito calor, dia de verão na planície alentejana com vista para a serra de São Mamede. É seguir a tradição, ver como faziam os antigos, aproveitar a sombra de um sobreiro. E, de vez em quando, ir bebendo água fresca vinda do pote de barro. A propósito, notícia igualmente fresquinha: a escola de olaria da Flor da Rosa continua a funcionar e o senhor Rui (número 90 da rua principal da aldeia) agradece a visita.
Pousada do Crato > R. do Mosteiro, Flor da Rosa, Crato > T. 245 997 210 > €172 a €272, consoante a época