Julia San Millán e Olaya Mo conhecem bem o percurso do Elétrico 28. O trajeto levava-as da casa onde moravam, na Rua Angelina Vidal, na zona dos Anjos, a outros pontos de Lisboa, sobretudo à Rua Poiais de São Bento, onde descobriram as lojas que viriam a ser ocupadas, primeiro, em agosto do ano passado, pela Casa Angelita, depois, em outubro, pela Kintu Studio e, por fim, em novembro, pela Béhen. “São marcas criativas de mulheres empreendedoras e trabalhadoras, era o que queríamos para partilhar estas salas”, dizem.
No mesmo edifício, as lojas, com porta para a rua e ligação entre si, transformaram-se num polo criativo e local de compras para quem gosta de peças originais de design português, cerâmica, moda e tatuagens.
A música soa do lado de fora do número 58, com montra para o exterior. Lá dentro, a zona de loja pertence à Kintu Studio, da polaca Sylwia Cylwik, 31 anos, que começou em 2020 com um site para mostrar uma série de marcas de design nacionais e de artistas estrangeiros estabelecidos no País. Com destaque na sustentabilidade, aposta em peças únicas e originais, como os tapetes coloridos de Teresa Lucas, os têxteis de tingimento natural da Distinto Studio, as malhas de Susana Bettencourt, as ilustrações de Vanessa Santos, feitas em exclusivo para a loja, as esculturas em ferro e esponja de Margarida Lopes Pereira e as cerâmicas de cores vibrantes de Julia San Millán, uma das fundadoras da Casa Angelita, precisamente.
O seu atelier fica logo atrás do cortinado branco que ali se vê. De nacionalidade espanhola, Julia, 29 anos, é ilustradora, mas ganhou o gosto pela cerâmica. “Liga-nos mais ao público, e eu aprecio este lado funcional do objeto. Além disso, dar aulas e workshops faz-me feliz”, afirma. Já a galega Olaya Mo, a outra metade da Casa Angelita, é arquiteta, mas a paixão pelas tatuagens levou esta autodidata a abrir um estúdio na sala do cofre (da antiga joalharia que ali funcionou em tempos). A porta do número 54 há de dar entrada direta para o estúdio, e o pequeno corredor “transformar-se-á numa pequena galeria”, conta. Em breve, é ali que a veremos desenhar na pele casas, cidades, cadeiras, mesas e outros traços distintivos do seu trabalho.
Isto está tudo ligado
O número 52 é ocupado pela designer de moda Joana Duarte que, em novembro, abriu o atelier-loja da Béhen numa sala agora decorada com mobiliário da família, naperons e outros objetos que recordamos das casas dos nossos avós. Um objetivo concretizado quando Joana ganhou uma bolsa de empreendedorismo feminino atribuída pela Embaixada dos Estados Unidos da América. “Precisava de um lugar onde pudesse receber os clientes, fazer as provas e ter mais contacto com o público”, afirma a designer de 26 anos, natural de Santarém. Em março, volta à ModaLisboa para apresentar a nova coleção outono/inverno, inspirada em histórias de despedida. “Faz dois anos que apresentei oficialmente a marca na ModaLisboa.”
As suas peças distinguem-se por serem confecionadas a partir de enxovais tradicionais, feitos de colchas de seda e de cetim, toalhas de mesa de algodão ou organza, nas quais aplica bordados tradicionais portugueses, como os da Madeira, de Viana ou de Glória do Ribatejo, “que quase ninguém conhece”. “É importante preservar estas artes e dar-lhes continuidade, assim como aos processos tradicionais, registá-los e não cortar caminho; essa é também a missão da Béhen”, sublinha. Muitos dos materiais com que trabalha, incluindo o linho antigo, descobre-os através do passa-a-palavra e da ligação entre pessoas. Laços que também quer criar com quem lhe bate agora à porta, curioso com o que se passa por detrás das cortinas que decoram o número 52.
Casa Angelita > T. 21 390 2193 > seg-sáb 12h-19h > Kintu Studio > seg-sáb 12h-19h > Béhen > por marcação (info@behenstudio.com)
