Não são irmãos nem sequer casados, avisam logo. O apelido Silva é apenas uma das coisas que Sónia e Bruno partilham. Outra, já bem antiga, era a vontade de terem uma livraria. Atrás do pequeno balcão da Distopia, aberta desde o dia 31 de outubro na Rua da Escola Politécnica, em Lisboa, Sónia Silva, 37 anos, e Bruno Silva, 38, contam como se conheceram no curso de Antropologia da Universidade Nova de Lisboa e como, curiosamente, ambos acabaram a trabalhar em livrarias da cidade. “A verdade é que sempre tivemos aquela ideia de ter uma livraria nossa. E 14 anos depois, aqui estamos”, diz Sónia. A Distopia, dizem, quer fugir à lógica das grandes livrarias do mercando, apostando nos fundos dos catálogos, sem deixar de ter as novidades editoriais. Ali se encontram edições recentes e antigas, livros nas línguas originais, e títulos de pequenas editoras, como a açoriana Companhia das Ilhas ou a Barca do Inferno, de Leiria.
Não é por acaso que a livraria foi batizada de Distopia, já se vê. “Além de ser um género literário que nos diz muito, as distopias da literatura têm um fator de resistência e de alerta para questões políticas e sociais”, nota Sónia, apontando para três dos livros em destaque numa das estantes da livraria: 1984, de George Orwell, O Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, e Fahrenheit 451, de Ray Bradbury. Três exemplos de literatura distópica, três universos ficcionais totalitários e desumanos, de anti-utopia, usados como crítica social e política. “Seguindo as pisadas desses autores, na livraria Distopia, numa aparente contradição, acredita-se que a Literatura, a Música, a Cultura e as Artes de uma forma geral, são fundamentais para uma sociedade mais livre, onde conhecimento, entretenimento e imaginação andam a par”, é esse o manifesto de Sónia Silva e Bruno Silva.
Nem só de livros vive esta Distopia, diga-se. Aproveitando a experiência de Bruno na área da música (foi responsável por essa secção na livraria Barata e também trabalhou na discoteca Carbono), aqui vendem-se cds e vinis escolhidos a dedo, sobretudo de música clássica, jazz e indie. Há ainda um cantinho, logo à entrada, para produtos de papelaria, como os cadernos da Um Barra Um e da Beija-Flor, e para publicações e objetos sobre Lisboa, mais a piscar o olho aos turistas que ali passam a caminho do Príncipe Real. Ao fundo da livraria é o espaço para os mais novos, com livros, jogos, puzzles, e também algumas escolhas de banda desenhada. Será por aqui que, no próximo ano, se farão os clubes de leituras e outras iniciativas em torno dos livros. Até lá, é entrar e descobrir as muitas páginas que se arrumam nas estantes brancas e pretas deste espaço sóbrio onde, aqui e ali, ainda se vê a pedra original das paredes. E, para Sónia e Bruno, é acreditar nos muitos que lhes têm dito que fazia falta uma livraria por estes lados. Fazia mesmo.
Distopia > R. da Escola Politécnica, 181, Lisboa > T. 21 093 8746 > seg-sáb 10h-20h