São precisos poucos minutos e alguns petiscos, acrescente-se, para percebermos que estamos num lugar com boa onda, ideal para ir beber um copo e saborear uma boa refeição. Convém explicar que o novíssimo Canalha, no número 207 da Rua da Junqueira, não é uma tasca nem uma taberna, muito menos uma aposta no fine dining, é sim um “restaurante de bairro, com uma cozinha de produto, comida de tacho e de conforto”, diz João Rodrigues, visivelmente feliz.
“Em Lisboa, os restaurantes de bairro estão a desaparecer e fazem muita falta. São muito identitários”, sublinha o chefe de cozinha. E é isto que o Canalha pretende ser (o nome é uma homenagem à sua avó nortenha, que usava este termo para se referir às crianças).
No balcão com dez lugares ou numa das mesas com tampo de mármore, sentimo-nos em casa e a prova disso é a quantidade de vezes que não nos inibimos de molhar o pão no molho de manteiga das lulas grelhadas. Em breve, o restaurante será também um poiso para ver jogos de futebol, e terá cadeiras altas, junto ao postigo, para quem quiser ficar na rua.
Sem demoras nem formalismos, chegam os primeiros petiscos: uma fatia de pão de massa mãe, azeite Monte dos Fuzeiros, azeitonas temperadas (€4,50), presunto 100% bolota Maldonado (€13,10) e salada-russa (€4,50).
João Rodrigues deixou o restaurante Feitoria, em 2022, onde esteve durante 13 anos e foi distinguido com uma Estrela Michelin, para se dedicar a projetos que lhe dessem “gozo”. A partir do Matéria, o site que criou para divulgar e mapear pequenos produtores nacionais, lançou-se no projeto Residência, materializado ao longo de 2023 em almoços, jantares e visitas a produtores de norte a sul do País (termina na Madeira, em dezembro).
“A ser estendido, talvez só em 2025 ou mais para a frente, agora preciso de tempo para me dedicar ao Monda, restaurante que vai juntar 20 lugares à mesa e oito quartos, que abrirá no final de 2024, na Lourinhã [região Oeste]”, diz. Mas também para ver crescer o Canalha, desenhado pelo atelier de arquitetura Lado, inspirado num tipo de restaurantes que aprecia muito em Espanha, com “uma cozinha de produto, ambiente descontraído, barulhentos, ideais para ir beber uma cerveja, petiscar e ver a bola”. Na cozinha, tem ao seu lado a brasileira Lívia Orofino, com quem trabalhou durante quatro anos no Feitoria.
Na ementa de partilha, destacam-se o raspado de presa de vaca Simental Alex Castani (€16,10), a tortilha aberta de camarão e cebola (€17,90) e a lula de toneira grelhada e manteiga de ovelha (€25), qual deles o mais surpreendente.
Todos os dias, à hora de almoço, há também uma sugestão de sopa, uma de carne e outra de peixe. “Lembram a comida de casa e de todos os dias”, diz, enumerando os pitéus: filetes de pescada com arroz de tomate, ervilhas com ovos escalfados, favas com entrecosto ou, por exemplo, a alhada de raia (€14) e os panados com arroz de cenoura (€12), que provámos no dia da nossa visita.
Além destas duas ementas, pode-se sempre espreitar a montra logo à entrada, escolher um dos peixes, carnes ou mariscos (preço por quilo) e decidir como serão confecionados. “Podemos sugerir, mas se o cliente quiser um peixe simplesmente cozido, deixamos ao seu critério.”
A carta de vinhos, desenvolvida por Daniel Silva, aposta nos pequenos produtores portugueses e de outros países, como Espanha, Itália e França. As sobremesas não destoam deste Canalha: leite-creme (€4) e um marmelo assado e gelado de nata (€5). Imperdível.
Canalha > R. da Junqueira, 207, Lisboa > T. 96 215 2742 > ter-sáb 12h30-15h30, 19h-23h