Anda pelas ruas da amargura a cotação dos chamados “designativos de qualidade” apostos nos nossos vinhos: Reserva, Grande Reserva, Reserva Especial, Colheita Selecionada, Premium, Garrafeira, Seleção do Enólogo, Private Selection, Winemakers Collection, Coleção de Família e outros – uma caterva deles que podem fazer algum sentido, mas carecem de rigor. Uns estão previstos na lei, outros são meras criações de quem produz ou comercializa os vinhos. A enumeração foi feita a esmo, propositadamente, pela singela razão de que a previsão da lei assenta em requisitos que têm que ver com “características organoléticas destacadas” ou com o teor alcoólico acima do limite mínimo da respetiva região; e se, para o Garrafeira, é exigido o envelhecimento mínimo de 30 meses, já nada semelhante se impõe, por exemplo, ao Reserva ou Grande Reserva; quer dizer: para o consumidor, na prática, os designativos previstos na lei valem mais ou o mesmo que os outros, que é nada.
Eis um tema raramente abordado, mas rico de implicações, sobretudo para o consumidor, que anda mais avisado se ignorar tais designativos do que se lhes der crédito. Em vez disso, opte por prestar atenção a quem faz vinhos com preocupações de qualidade e tem provas dadas. É o caso dos produtores dos três vinhos desta edição: Kompassus Reserva Bairrada Branco 2018, de João Póvoa; Manoella Douro Rosé 2020, do casal Sandra Tavares da Silva e Jorge Serôdio Borges; e Quinta do Monte d’Oiro Regional de Lisboa Rosé 2010, de José e Francisco Bento dos Santos, pai e filho. Curiosamente, estes não são os seus vinhos emblemáticos, mas, porventura, os mais simples. E reparem como são bem-feitos, como são bons, como engrandecem quem os faz.
Kompassus Reserva Bairrada DOC Branco 2018
Elaborado com uvas das castas Arinto e Bical, sob orientação dos enólogos Magda Costa e Anselmo Mendes. Tem cor citrina-limão brilhante; aroma muito fino e fresco com boas notas de fruta e de flores; paladar elegante com volume, frescura e sabor, tudo em harmonia perfeita, que é sublinhada no longo final. €13
Manoella Douro Rosé 2020
Só de uvas da casta Touriga-Nacional. Tudo é delicadeza, desde a cor rosada suave até ao aroma delicado com apontamentos de frutos e de flores silvestres, e ao paladar bem estruturado e cheio de fruta, de sabor e de frescura, prolongando-se num final muito convincente e agradável. É, sem dúvida, gastronómico. €11,50
Quinta do Monte d’Oiro Regional de Lisboa Rosé
Exclusivamente da casta Syrah, cultivada em modo de produção biológico com gestão parcelar, que vigora, aliás, em toda a vinha. Bela cor rosada leve e luminosa; aroma elegantemente frutado com leve toque floral; paladar fresco, seco, texturado, com muito boa fruta, mineralidade, salinidade e frescura. Versátil e, obviamente, gastronómico. €8