Há um ano, o Rio’s começou por mudar de nome. Agora, o dono Tiago Silva Carvalho quis levar o batismo do renovado Pure um pouco mais além e convidou João Cunha para regressar à casa onde chegou a chefe de cozinha há dez anos. Discípulo de António Boia, ali entrou como cozinheiro de terceira até alcançar o topo da hierarquia. Depois de oito anos no antigo Rio’s, João Cunha ainda passou outros três no JNcQuoi, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, liderado por Boia. É caso para dizer: O bom filho à casa torna, com mais experiência e ganas de criatividade. “Andei sempre a fazer os pratos dos outros chefes. Está na altura de abrir as asas e fazer os meus próprios pratos”, explica o cozinheiro, que não hesitou em aceitar o convite.
Como conhece bem os cantos à casa, o antes e o depois, João Cunha explica-nos as principais diferenças da remodelação. O bar está mais centralizado, puxado para o meio da ampla sala; o ambiente mais acolhedor; o serviço mais informal, mas deveras competente e agradável, comprovámos nós num jantar a meio da semana. A esplanada, em vez de ser toda corrida a mesas, tem agora uma zona de lounge para se estar, sem pressas.
Na comida, a mudança tem uma palavra-chave: simplificar. “Quis ir ao encontro do novo nome [Pure]. Fazer demais às vezes estraga”, justifica João Cunha. A cozinha mediterrânica, sem grandes extravagâncias, aposta numa carta mais ligada ao peixe, desde bacalhau assado com crosta de broa a cataplana de peixes e mariscos, sem esquecer o peixe ao sal, em que João Cunha leva a carapaça de sal em chamas para a mesa, numa encenação que não deixa ninguém indiferente.
Também o início da refeição tem algo surpreendente. O couvert inclui um paté cremoso de atum e duas manteigas, uma de ervas e outra de malagueta. É esta com o seu toque inovador e picante que não nos deixa parar de comer pão. Depois vem o camarão (carnudo e fresco) com gengibre, malagueta e alho, com um molho base a lembrar o Bulhão Pato e a pedir… mais pão para molhar. Simples, o carpaccio de novilho com rúcula, pesto, limão, alcaparras, anchovas e queijo também acerta no tempero.
Valeu a pena insistir nas gambas suculentas e pedir o risotto com salicórnia, apuradíssimo no sabor e na cremosidade. A carne do piano, cozinhado a baixa temperatura, solta-se do osso com facilidade e faz-se acompanhar de puré de maçã e cogumelos com um ligeiro toque arabesco no tempero. Guardemos apetite para o cheesecake cremoso com bolo de rúcula e coulis de alperce, de preferência na ampla esplanada de frente para o mar.
Para os que procuram um pouco de animação nas noites quentes de verão (em Oeiras, muitas vezes ventosas), num lugar elegante, mas descontraído, saiba que às sextas-feiras o jantar é acompanhado de música ao vivo e aos sábados o “sunset dinner” (€30/pax) inclui bebidas antes e durante a refeição, num menu previamente definido. É deixar-se levar pela boa onda deste clássico da Marina de Oeiras, que, em 2020, inicia uma sua segunda vida.
Pure > Marina de Oeiras > T. 91 253 3417 > ter-sáb 12h30-15h30, 19h30-23h, dom 12h30-15h30