Ideias não faltam a Bruno Caseiro (cozinha), Filipa Gonçalves (gestão) e Fábio Nobre (vinhos), há quatro verões na linha da frente deste que já é um clássico da Comporta. Não há melhor do que pessoas simples, que tão bem praticam a arte de saber receber. A importância que dão aos ingredientes, sempre sazonais, vê-se na ginástica que fazem para os recolher: todas as semanas vão a Setúbal comprar ostras do Sado (€26/12); em Grândola, a Rita d’A Cerquinha prepara-lhes um cabaz da horta com o melhor que a terra dá; do Torrão, vem o arroz.
Sem mãos a medir, se dantes os clientes eram 80% estrangeiros, agora são 90% portugueses a ocuparem os 37 lugares, a maior parte separados pelas divisórias das antigas manjedouras. Guardem-se as máscaras dentro da saqueta de papel de onde tiramos os talheres e esqueça-se o vírus por umas horas. Logo no couvert (€4,50) ficamos agradados com o pão de fermentação lenta e a manteiga envelhecida, daquela que “parece queijo” ou “sabe como antigamente”, dizem os clientes.
O maior desafio de Bruno Caseiro é acertar no ponto do pão, e encomendas não faltam. Em breve, quer ter uma padaria no centro da Comporta. Em Lisboa, no Chiado, já está tudo tratado para abrir um bistrô com forte oferta de vinhos.
Ninguém fica indiferente ao gaspacho verde (€9,50), de pepino e maçã com o sabor arabesco da salsicha picante caseira. O brioche grelhado com parfait de fígados de galinha, chutney de laranja e couve fermentada (€8), acompanhado por um vinho colheita tardia, é para comer à mão e acabar a lamber os dedos. A tempura de kale (€8), salgadinha e crocante, intercala com outra perdição: puré de beringela grelhada (€13). Diferente e intensa, outra explosão no palato é a salada de picanha nacional fumada, tomate biológico, rúcula selvagem e molho italiano tonnato (€13).
Reserve-se apetite para o gelado de pinho (€4): com as agulhas dos pinheiros fazem uma infusão de natas e leite, depois trituram-nas e segue-se a preparação de um gelado verde suave e muito saboroso. “Lembra a matcha, com a frescura do pinhal, a doçura do pinhão”, descreve Filipa. E comprovamos nós. Chá de menta biológica finaliza a refeição, ideal para a viagem de regresso a casa.
Cavalariça > R. do Secador, 9, Comporta > T. 93 045 1879 > qui 19h-23h, sex-dom 13h-15h30, 19h-23h