Se antes – e por antes entenda-se desde dezembro – ir ao Refeitório do Senhor Abel podia significar comer uma pizza preta (carvão vegetal), outra mais amarelada (de curcuma), uma super nutritiva de sete cereais e ainda aquela famosa com base em cânhamo (sem efeitos psicotrópicos, diga-se de antemão), agora a coisa tornou-se mais colorida.
Na coleção outono-inverno, a contar a partir do início de novembro, entrarão na lista mais duas opções a que o chefe chama de saudáveis (há que somar sempre 3 euros à massa tradicional de trigo): uma esverdeada, de espinafres, e outra a atirar para o castanho, de alfarroba. Na época estival já a lista tinha crescido com a base de beterraba e a gengibre, bem rosada, todas com a assinatura de Roberto Mezzapelle, 36 anos. Na ementa, junto a cada massa inovadora aparecem as respetivas alegações de saúde. Leva o seu tempo a decidir de entre a cor, o sabor e as propriedades de cada uma das oito opções (também há sem glúten, quando reservado com antecedência).
As misturas, que depois levedam por cerca de 48 horas, são quase todas da responsabilidade deste pizzaiolo que deixou Berlim no ano passado para abrir o Refeitório, depois de desafiado pelo chefe Chakall – o mentor deste projeto em Marvila. “Aqui é tudo tradicional, com um twist. As massas levam apenas água, fermento, azeite, sal e as farinhas”, garante Roberto. Mas, à base de espinafres, por exemplo, junta-lhe sementes de sésamo preto e de papoila. Provámos esta novidade e adorámos o facto de ela vir enrolada. Agora, vemo-la na carta em versão rollé pizza e ficamos contentes por toda a gente poder experimentar estes rolinhos verdes, recheados de legumes assados, mozzarella e ricotta (€6,95).
A massa de alfarroba (com gengibre e aveia) vai mesmo bem com burrata, queijos ricotta e pecorino, um pedaço de speck tirolese (um enchido, parente do presunto), pesto de pistachio, creme de amêndoa, tomate seco e a sua versão fresca e amarela. De notar que todas estas massas podem servir também para fazer focaccias (provámos uma de carvão vegetal e foi surpreendente).
Na parte dos crus (o restaurante não tem cozinha, apenas o forno a lenha de onde saem as pizzas), a oferta mantém-se centrada nos carpaccios, como o de boi ou bacalhau (este é novidade). Mas o chefe Roberto Mezzapelle gosta de lhes acrescentar uns miminhos, como as esferificações de balsâmico e gengibre que rematam um dos pratos com um toque de inovação molecular.
Resta ainda acrescentar, e é informação importante para quem não gostas de pizzas, carpaccios ou saladas, que a carta de inverno passou a ter massas no forno. Destacamos, mesmo sem as termos provado, as duas lasanhas (tradicional e vegetariana), a oito euros cada.
E não pudemos deixar de reparar que há muito mais burrata para escolher. Só na ementa podemos escolher de entre quatro (€7-€11,50), da mais simples à guarnecida com cogumelos porcini. Mas depois ainda há as invenções, chamemos-lhe assim, da semana. Essas estão escritas num quadro pendurado na parede e quando lá fomos, toda a oferta levava esse queijo italiano que anda a cair no goto dos portugueses. Nós por aqui só podemos aplaudir, pois apostamos que, no inverno, o aconchego desse alimento – que se desfaz magistralmente na boca – ainda vai saber melhor.
Refeitório do Senhor Abel > Praça David Leandro da Silva, 4-6, Lisboa > T. 21 868 8023 > ter-sáb 12h-15h, 19h30-24h, dom 12h-15h30