Manda o ofício de jornalista que se reporte o que vê. E, num restaurante, também o que se prova. Mas há (raras) situações em que o melhor será mesmo não revelar todos os pormenores. É o caso do novo Beco – Cabaret Gourmet, aberto discretamente há duas semanas no interior do Bairro do Avillez, no Chiado. Só a descrição de como aqui se entra pode ser meio caminho andado para estragar a surpresa neste novo canto do chefe José Avillez. Espere-se, por isso, perto do balcão do Páteo, que, quando chegar a hora de entrar, alguém nos encaminhará até à porta deste Beco. Um porteiro de casaco comprido, laço e cartola, há de questionar-nos: “O que vem aqui fazer?”, brinca, disfarçando. “Entre rapidamente para que ninguém perceba.”
Segue-se mais uma espera, numa espécie de antessala, onde se confirma a reserva (obrigatória) e depois, sim, se entra finalmente numa sala inspirada nos clubes dos anos 20 e dos anos 50, onde ficava a antiga capela do Convento da Trindade. “Em 1908, o meu trisavô José Ereira abriu o Maxim’s no Palácio Foz. Segundo sei, o Maxim’s era o clube mais elegante de Lisboa. Além de restaurante e bar, era um espaço de entretenimento, com música, dança e jogo”, conta José Avillez, justificando a inspiração para este Beco.
Atrás do balcão, salta à vista o enorme desenho de uma pin-up, da artista Henriette Arcelin, pintado aqui por Patrícia Braga. Do lado oposto fica um pequeno palco, deixando adivinhar o que se vai ali passar nas próximas horas: um jantar-espetáculo para maiores de 18 anos. “Conjugando a alta- cozinha com o bar e com o espetáculo, queremos oferecer momentos de surpresa e de encanto e criar noites memoráveis”, descreve Avillez.
A ementa terá 12 momentos, a começar por A Minha Rosa 2017, a saber a margarita de maçã, rosa e líchia. Pelo meio, servem-se pedras de fígado de bacalhau, o clássico corneto de sapateira e algas, e um carabineiro com cinzas de alecrim (prato do Belcanto). A acompanhar, há curtos espetáculos de bailarinas- -cantoras, vestidas com muitas franjas e espartilhos, a lembrar os tempos de cabaret. Para o final, está reservado um verdadeiro e saboroso xeque-mate e, ainda, um batom comestível.
E, na hora de pagar a conta, chegará à mesa um sapato vermelho de salto alto. Fetiches à parte, neste Beco despertam- -se os cinco sentidos – e apela-se ao sigilo de quem já por ali passou. Algum mistério deve sempre permanecer.
Antes de se dar início à refeição, sugere-se uma vista de olhos na carta de cocktails, criada com o aconselhamento de Dave Palethorpe, do Cinco Lounge. Nela, destacam-se o Smoking Gun, feito com whisky, chocolate, fumo e laranja, e o Miss Saigon, com tequila, estragão e maracujá (ambos €12).
Beco – Cabaret Gourmet > R. Nova da Trindade, 18, Lisboa > T. 21 093 9234 > qui, dom-seg 20h30-22h45, sex-sáb 19h30-21h45 (1º turno) e 22h-24h (2º turno) > €100 (balcão), €120 (qui-seg), €130 (sex-sáb)