A pobreza e a desigualdade em Portugal voltaram a recuar em 2023, depois de 2022 ter sido um ano de interregno. A taxa de pobreza passou de 17% para 16,6% e a desigualdade, medida pelo coeficiente de Gini (um indicador da desigualdade na distribuição do rendimento), desceu de 33,7% para 31,9%. Por entre avanços e retrocessos, à boleia do maior ou menor crescimento da economia e dos apoios sociais, esta nova redução nos indicadores confirma a tendência de decréscimo dos últimos 30 anos, embora nem sempre tenha acontecido de forma linear. A taxa de pobreza, que em 1994 era de 23%, diminuiu 6,4 pontos percentuais desde essa altura. Há três décadas, viviam abaixo do limiar de pobreza 2,27 milhões de pessoas em Portugal; hoje são 1,78 milhões os que subsistem com menos de 632 euros mensais.
Uma análise da evolução da pobreza ao longo dos últimos 30 anos mostra que as alterações foram substanciais, a começar pelos grupos etários. Na recente atualização de dados do projeto Portugal Desigual, da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), elaborada com base nos resultados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (ICOR) do INE, o economista e especialista em pobreza Carlos Farinha Rodrigues ressalva que “ao longo de todos os anos deste século, a taxa de pobreza das crianças e jovens foi sempre superior à do conjunto da população”. A partir de 2007, ultrapassou mesmo a incidência nos idosos. Mas 2023 foi um ano de mudança. Caiu para 17,8%, o valor mais baixo dos últimos 20 anos, acompanhada pela diminuição em 2,5 pontos percentuais da pobreza das famílias com crianças, que se reduziu de 18,9% para 16,4%.