O local secreto só é revelado aos comensais 24 horas antes do jantar Silver Spoon começar – o primeiro estava agendado para a passada quinta-feira, 17. Até esse dia chegar, fazem-se apostas, pensam-se em lugares inusitados (são sempre em sítios surpreendentes) e tenta-se descobrir alguma informação – sempre sem êxito, confessamos. Por fim, espera-se a mensagem com a morada e hora.
Desta vez, a mensagem leva-nos a um terceiro andar de um prédio de traça pombalina ali para os lados do bairro de Santos. À porta, recebe-nos Tiffany NG, a mentora dos jantares com assinatura Silver Spoon que começaram em Copenhaga e chegaram a Lisboa em março de 2014.
À hora marcada, às 19 e 30, ainda estavam poucos convidados – esperavam-se cerca de meia centena. Na primeira salinha, ocupada por um dj, recebe-se um pequeno embrulho com açúcar polvilhado com ouro e um copo de espumante da região da Bairrada. Começa-se bem.
Antes de sentar numa das três mesas postas para o jantar, há tempo para espreitar as várias assoalhadas deste grande apartamento no centro de Lisboa. E de apreciar a vista de Tejo, com a Ponte 25 de Abril bem visível.
Da ementa dos jantares organizados pela Silver Spoon, em parceria com o Four Seasons Hotel Ritz Lisbon, sabia-se o seu tema: Os Filhos do Capitalismo. Sabia-se também que seria preparado pelo chefe executivo Pascal Meynard (responsável pelo restaurante Varanda, no Ritz), em conjunto a chefe Aija Pedersen, da Letónia (já passou por restaurantes como o Sortebro Kro, Grønbech & Churchill, Almanak, na Dinamarca).
A refeição começa com o lançamento de dados no jogo Monopólio. A ideia é que os comensais disputem as 40 casas espalhadas por quatro margens do tabuleiro. Mas antes dos dados rolarem, cada um dos participantes é convidado a rebentar um balão (que assinala a bolha imobiliária de 2008). O primeiro prato servido sobre um tijolo (serve de individual), chama-se Real Estate e tem três alternativas que são servidas mediante o número que saiu do balão. Há terrina de cabeça de porco, salmão fumado e um género de almôndegas de fígado de galinha. Por solidariedade, e para que todos provassem um pouco de tudo, partilharam-se todos os ingredientes.
Mais uma jogada, mais um prato, este a representar as Energias Renováveis. A cavala, os micro-camarões e os feijões do mar são alguns dos sabores que se provam. Ao lado, vê-se uma gota em plástico, cujo líquido deve ser distribuído por todo o prato, simbolizando o óleo derramado nos oceanos. Nesta tragédia ambiental encenada, para lá da poluição, também se vê o verde da natureza, represetado por um bolo em forma de esponja.
Ao quarto quarto momento do jantar, dá-se atenção às Finanças, com uma falsa maçaroca de milho, puré de aipo e molho de frutos vermelhos. Para comer a maçaroca, é preciso tirar as primeiras folhas. Uma primeira dentada revela o sabor a frango – como se tivessem crescido juntos. Remete-nos para o problema dos alimentos transgénicos e para a fome do mundo. Pensa-se, mas também se aprecia esta combinação estranha.
Segue-se mais um lançamento de dados, os participantes que vencem mais dinheiro, entusiasmam-se com a jogatana. Eu fico mais animada com o prato Transportation, servido numa embalagem preta em plástico.
Por fim, chegam à mesa vários exemplares de jornais e revistas. Tal como os tijolos, The New York Times, Público e Diário de Notícias servem de individual à iguaria Media. ”Os Media estão em todo o lado, na televisão, nos jornais, na internet. Dizem-nos o que devemos vestir, comer, para onde sdevemos viajar. Têm o poder”, diz a chefe Aija Pedersen.
A bochecha de porco preto mergulhada num molho de romã e o sapo de chocolate são alguns apontamentos. “Há um elemento que não é comestível. Usem o vosso senso comum”, finaliza a apresentação. Com cuidado, para não haver enganos, toca-se, experimenta-se a medo tudo o que ali está e constata-se que uma fina camada de chocolate esconde uma pedra.
A refeição já ia longa, mas espera-se pela sobremesa feita com iogurte, maçã, chocolate e baunilha. Faltava apenas fazer a contagem do dinheiro amealhado por todas as equipas que fizeram parte do jantar Silver Spoon para se conhecer o vencedor. Antes de ser revelado o resultado, despedi-me com um sorriso nos lábios e o estômago a abarrotar.
Jantares SilverSpoon > 18-19 nov, sex-sáb 19h30 > €100 por pessoa > inscrições na página da Silver Spoon