Como nada do que a seguir se dirá é opinião de crítico gastronómico encartado (salve Manuel Gonçalves da Silva), sinto-me à-vontade para confessar que não sou grande apreciadora de vinho do Porto. Mas a refeição que, no passado dia 19, Diego Muñoz e José Avillez prepararam no Mini Bar, no Chiado, em Lisboa, começou bem – um Porto tónico de que em nada desgostei. Muñoz e Avillez são bons amigos e conheceram-se, há que dizê-lo, em 2007, no restaurante El Bulli, em Girona. Avillez visitou Muñoz no Peru, agora foi a vez de Muñoz visitar Avillez em Lisboa. Sigamos para o almoço a quatro mãos.
Na cozinha estão as equipas de ambos os chefes. Explica Munõz que anda em tournée, esteve em Barcelona, prosseguirá para a Escandinávia, no final do ano andará por alguns países asiáticos. Ao mesmo tempo que promove o seu trabalho, faz pesquisa, recolhe receitas e ingredientes, partilha a cozinha e modos de fazer. O primeiro prato tem a cara de Avillez, não esqueçamos que o Teatro São Luiz fica na porta ao lado e que, na carta do Mini Bar (só aberto ao jantar), nem tudo aquilo que parece é: cornetto temaki de tártaro de carapau com sabores do Algarve. Segue-se um ceviche nikkei (culturas peruana e japonesa, tudo à mistura, incluindo na boca dos comensais), um lingueirão com sabores de Chifa (continua a boa misturada, peruano e chinesa) e um carabineiro com cinzas de alecrim de lamber os beiços (e os dedos dos convidados que fazem menos cerimónia – os outros, como eu, ficam a olhar, cheios de inveja).
Continuamos numa sucessão de pratos, alternados na autoria e, claro, nas tradições. Do Bulhão Pato (das coisas mais simples e saborosas da cozinha portuguesa, azeite, alho e coentros, e já está) e da sanduíche de leitão (o que menos agradou a esta reles comedora, que às vezes também lhe dá para ser esquisita e dispensar o leitão) para os anticuchos (espetadas típicas, uma marinada, diz o chefe peruano; faz lembrar bifanas, acrescenta alguém) e a causa de frango. Tudo “mui” bem casado com vinhos José Avillez, desenvolvidos numa parceria com José Bento dos Santos. A terminar, um globo lima-limão, um clássico da casa, e um arroz com leite mais do que cremoso e que em tudo me fez lembrar o arroz doce absolutamente divinal da minha avó. E com isto me calo, antes que a lágrima caia.