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O ingrediente secreto de Uma Pastelaria em Tóquio é uma deliciosa pasta de feijão azuki que os japoneses usam numas pequenas panquecas chamadas dorayaki
Todos se lembram da história do rato Remy que, apesar de ser rato, e por isso repugnante aos olhos dos homens (não das crianças), se transformou num chefe de cozinha de um dos mais finos restaurantes parisienses. Uma Pastelaria em Tóquio, da japonesa Naomi Kawase, conta uma história parecida, só que engajada na realidade, acabando por se tornar num grito mudo de alerta contra a discriminação, num país em que as pessoas têm a paranoia das doenças e a fobia dos contágios.
Descobre-se vulgarmente nos cineastas japoneses duas valências diametralmente opostas: fazer com que tudo se assemelhe a um jogo de computador, com intriga acelerada e montagem de ritmo alucinante; ou parar o mundo e escrever um poema. Este filme, com toda a sua ingenuidade e simplicidade, enquadra-se, claro, no segundo grupo. Uma Pastelaria em Tóquio é um poema social com requintes gastronómicos, uma fábula de crianças contada aos adultos.
A intriga estabelece-se num triângulo dinâmico entre Sentaro, o gerente de uma casa de Dirayaki; Wakana, uma estudante sem recursos que Sentaro “adota”; e Tokue, uma septuagenária ex-leprosa com um talento divino para fazer pasta de feijão. O filme onírico, em que a natureza quase se converte numa personagem, não vive do conflito entre estas três personagens, que quase encontram a harmonia, mas sim da incompreensão do mundo exterior. Contudo, não há qualquer grito de revolta: à insensibilidade do mundo responde-se com poesia… e doce de feijão.
Uma Pastelaria em Tóquio > de Naomi Kawase, com Kirin Kiki, Masatoshi Nagase e Kyara Uchida > 113 min