A propósito do Dia dos Namorados, 14 de Fevereiro, a edição Porto e Norte da Visão 7, convidou os leitores a fazerem, na companhia do jornalista e historiador do Porto Germano Silva, o percurso pela cidade “das paixões”, tema de capa da última edição do roteiro cultural e guia urbano da Visão.
O dia amanheceu soalheiro e, a partir das nove e meia da manhã, os 35 leitores (as inscrições estavam limitadas a 30, mas acabaram por alargar-se, tal o número de pedidos) começaram a concentrar-se em frente ao Jardim Botânico do Porto.
Germano quis que o passeio se iniciasse aí, na quinta que pertenceu à família Andresen e serviu de palco às brincadeiras de Sophia de Mello Breyner e à paixão de Ruben A. pela “inglesinha”, de que tanto fala nos seus livros.
Quem lê as crónicas semanais de Germano na V7, sabe por que razão Manuel António Pina, seu grande amigo, dizia “o Germano não faz história morta, faz história vivida”. Tendo-o como guia, a afirmação torna-se ainda mais clara. A História, os factos, as narrações dos sítios por onde leva os visitantes são coloridas por episódios e “estórias” dos protagonistas; dele próprio, Germano, que passou a infância por aquelas bandas; do enredo de livros de escritores que por ali recolheram inspiração, como Júlio Dinis ou Camilo Castelo Branco.
Da Quinta dos Andresen, com passagem pelo jardim onde o buxo tem a forma de jotas e pela estátua que inspirou Sophia a escrever “O Rapaz de Bronze”, a visita prosseguiu no século XVIII. Não apenas por ser esse o século do Romantismo, mas porque foi, também, nessa época que os ingleses ligados ao vinho do Porto, se começaram a instalar na zona do Campo Alegre, em quintas rodeadas de belos jardins, debruçadas sobre o Douro.
À medida que avançamos pela Rua do Campo Alegre e, já depois, pela Via Panorâmica, pela zona de Gólgota e de Vilar, as casas e os jardins vão fazendo Germano recordar outras famílias, com nomes sonantes (os Burmester, os Sandeman, os Van Zeller, os Niepoort…), histórias de festas e elegantes jantares, de paixões como já não há.
Acompanham-nos muros de granito construídos pedra a pedra, enfeitados por heras. E camélias, muitas camélias, que por agora começam a mostrar a sua graça: “Eram um símbolo de opulência, de riqueza”, explica Germano. Junto à casa de Agustina Bessa-Luís, que pertenceu também em tempos a uma família inglesa, é porém um bonito castanheiro a prender as atenções. E uma história que mete uma flor que não seria de camélias: “Um dia uma vizinha avisou Augustina que um ladrão lhe tinha roubado uma flor de uma das árvores da quinta e ela respondeu: ‘Se roubou uma flor não é um ladrão, é um poeta'”.
A visita terminaria duas horas e meia depois de começar, numa zona já mais conhecida da cidade: os jardins românticos do Palácio de Cristal, com algumas das melhores vistas sobre o Douro da cidade. Antes ainda, tempo para uma passagem pela vizinha Casa Tait e pelo Quinta da Macieirinha, que alberga o Museu Romântico (na casa onde viveu o Rei Carlos Alberto da Sardenha), com vegetação e vistas igualmente generosas.