O troco da Rua do Almada, que vai dos Clérigos até à Rua da Fábrica, teve, primitivamente, o nome de Rua das Hortas, por causa da sua proximidade com a Praça das Hortas, a atual Praça da Liberdade. As artísticas varandas de ferro forjado são o elemento mais curioso desta artéria. A parte superior, da Rua da Fábrica para cima, é do século XIX, obra de João de Almada e Melo. Daí o nome.
Antigamente caminho obrigatório para quem quisesse ir apanhar a estrada de Braga, lá em cima, na Lapa, a Rua do Almada, no século XIX, foi um mundo de pitoresco e guizalhante quando as mulas dos almocreves por ali estanciavam a carregar, à porta dos armazéns de ferro, seiras de pregos e verguinha em rolos. Desses armazéns ainda há vestígios às portas de alguns edifícios.
Onde agora funciona um hotel, existiu, na última metade do século XIX (1820–1880), um dos mais concorridos cafés da cidade daquele tempo – o Botequim das Hortas, que funcionava no rés-do-chão onde esta agora uma livraria. No primeiro andar era a sede da Sociedade Filarmónica Portuense onde se realizaram muitos e excelentes concertos musicais. Tudo muda.
O maior movimento na Rua do Almada, nos finais do século XIX e começos do seguinte, registava-se às terças, quando os lavradores e artesãos da província se deslocavam ao Porto por ser o dia em que se realizavam várias feiras na cidade. Uma grande percentagem dessa gente não sabia ler e para facilitar-lhes a vida os comerciantes colocavam a porta dos seus estabelecimentos o artigo que vendiam. Assim não havia que enganar.
Na fachada desta casa, uma placa em azulejo diz-nos que nela nasceu (1875) Joaquim Leitão, Académico, escritor, contista e historiógrafo. Joaquim Leitoa, hoje quase esquecido, foi, sobretudo, um historiador que nos deixou páginas admiráveis sobre os últimos tempos da Monarquia.
Este baixo-relevo à entrada de um dos estabelecimentos da Rua do Almada representa Gutenberg, o célebre alemão que, dizem, inventou a imprensa. Faz sentido a sua colocação nesta casa onde, em tempos, esteve um estabelecimento que comercializava artigos para as Artes Gráficas O género de comércio hoje é outro, mas o símbolo ficou.
Não foi, de certeza, nesta casa, que é de construção moderna, mas foi, com toda a certeza, na que existiu antes desta, que Camilo viu Ana Plácido pela primeira vez. Ela estava na varanda e o romancista nunca mais deixou de pensar nela, até que a encontrou, pessoalmente, como ele disse: “…num baile / ondulava de ouro e sedas o salão…” O resto da historia e por demais conhecida…