Socorro-me da memória de viagens últimas para vos falar de vinhos rosés. Amesterdão, final da tarde de um dia de agosto passado: repentinamente as esplanadas enchem-se de homens e mulheres que concluíram o seu dia de trabalho. Entre as 18 e as 20 horas sentam-se à volta de uma mesa em amena cavaqueira, aproveitando o sol raro e precioso.
Eles dividem-se entre uma cerveja e um copo de vinho branco. Elas, quase sem exceção, deliciam-se com um copo de vinho rosé. Um pouco mais atrás no tempo: talvez em 2006, quando em pleno verão se abateu sobre a França uma onda de calor: o vinho rosé esgotou nas adegas. No mesmo ano nos supermercados de Londres as mulheres preferiram os vinhos rosés importados do “novo mundo” e os stocks esgotaram igualmente. No início deste século, em 2002, a produção mundial de rosé rondava os 20 milhões de hectolitros/ ano correspondentes a pouco mais de 7% da produção total dos diferentes tipos de vinho.
A França dominava com 25% da produção de rosé, seguindo-se-lhe a Itália e a Espanha, cada um destes países com uma quota de 21 por cento. A Europa no seu conjunto produzia mais de 70% do rosé no Mundo. As Américas (do Sul e do Norte) vinificavam pelo seu lado 23% do rosé mundial.
Em 2009, a editora Féret de Bordéus, especializada em livros sobre vinhos, lançou uma obra monumental Le vin rosé (334 págs.) sob a direcção de Claude Flanzy, presidente do Conselho Científico do Centro de Investigação e Experimentação do Vinho Rosé. Este trabalho de grande envergadura científica e cultural consagra um outro olhar sobre um outro consumo mais conceituado do vinho rosé. E sobre o perfecionismo das sua vinificação.
E em Portugal? Há um preconceito instalado contra o vinho rosé desde que, em 1943, Fernando Van Zeller Guedes lançou o primeiro Mateus Rosé. Este vinho é uma marca global desde o pós-guerra quando chegaram a vender-se 40 milhões de garrafas/ano. Na actualidade o Mateus Rosé, da Sogrape, tem um perfil mais moderno e resistiu à concorrência estrangeira vinda de Itália, Espanha, França, das Américas, África do Sul e Austrália. O Lancers, o rosé mais vendido da José Maria da Fonseca, é outro exemplo de sucesso comercial e internacional.
São ambos vinhos tecnológicos, vinificados com um grande rigor enológico, despretensiosos e agradáveis para saborear numa esplanada frente ao mar. A José Maria da Fonseca lançou mesmo o Lancers sem álcool para conquistar novos consumidores. E o Mateus Rosé de hoje, assim como o Lancers, são muito melhores vinhos que há escassos anos. São, claramente, bons vinhos. Sem preconceitos: bons vinhos.
Isso deve-se às exigências do consumidor, à concorrência internacional e ao facto de no presente o vinho rosé não ser encarado como um subproduto. A vinificação de um vinho rosé de qualidade é tão exigente como a de qualquer outro tipo de vinho.
Provei mais de duas dezenas de vinhos rosés portugueses e estrangeiros, incluindo espumantes e vinhos do Porto, para proporcionar ao leitor uma mostra significativa e o mais diversificada possível desde a região dos Vinhos Verdes ao Alentejo. Aqui faço referência apenas aos vinhos que classifiquei como bons, muito bons e (ou) excepcionais.
Dos restantes por mim provados não dou notícia pela inutilidade da mesma. Proponho-vos esta viagem pelo mundo colorido e encantatório dos rosés, iniciando-a com os espumantes portugueses para concluí-la com alguns vinhos estrangeiros.
Permitam-me que lhes sugira que saboreie moderadamente um bom rosé como aperitivo, ou para acompanhar sardinhas assadas na brasa. A acidez dos rosés sublinha de forma exemplar o sabor gorduroso da bela sardinha. Talvez fique surpreendido com a experiência.
‘CHAMPAGNES’ E CAVA ROSÉS
![Freixenet, rosé, cava](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/11/6227706Freixenet-ros%C3%A9-cava.jpeg)
O vinho base dos champagnes rosés, posteriormente sujeito à segunda fermentação em garrafa, é elaborado através do loteamento de vinhos tranquilos brancos e tintos, e não através da vinificação de uvas tintas em branco, como sucede com a Cava de Espanha ou os espumantes em Portugal. Na gama de champagnes ‘standard’ os rosés são significativamente mais caros.
Deutz Champagne Rosé Brut ***** Cor de morango; espuma intensa fina e sedosa; muita frescura de sabores, elegante e extremamente delicado.
Mumm Champagne Rosé Brut ***** Os champagnes “correntes” da Mumm surgem sempre com elevadíssima qualidade. Este rosé não foge à regra: é de uma subtileza infindável na complexidade de aromas e sabores longos a framboesa e ameixa vermelha.
Freixenet Cordon Rosado Cava Seleccion Brut **** Simples, quase perfeito e barato, vinificado a partir das castas trepat e garnacha. A Freixenet é o principal concorrente dos champagnes em França.
VINHOS DO PORTO ROSÉS
![croft porto pink, rosé](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/11/6227705croft-porto-pink-ros%C3%A9.jpeg)
Croft Pink Porto ***** Aqui está a estreia de vinhos do Porto rosés com a assinatura de David Guimaraens. Quando a Croft lançou este vinho no mercado, o setor do Vinho do Porto torceu o nariz à novidade. Dois anos depois há uma série de casas a lançar produtos idênticos, mas em abono da verdade entre o quarteto de vinhos do Porto Rosés que provei este é o único de qualidade indiscutível e excecional.
ESPUMANTES ROSÉS
Quinta dos Carvalhais Espumante Rosé Bruto 2006 **** Um belo vinho no aspeto visual elaborado com uvas tintas de Touriga Nacional vinificadas em branco e Encruzado, a casta branca mais emblemática do Dão.
Quinta dos Abibes Baga Rosé Bruto 2007 **** Um rosé bairradino confecionado pelo método clássico. O vinho base decorre da vinificação de uvas tintas da casta Baga em branco, o que lhe confere grande frescura de sabores.
Campolargo Pinot Noir Rosé Bruto 2008 **** Está muito bom na sua cor de salmão, com espuma sedosa e sabores frutados.
Loridos Rosé Bruto 2006 *****
![lóridos, rosé](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/11/6227707l%C3%B3ridos-ros%C3%A9.jpeg)
VINHOS ROSÉS
Quinta da Falorca Touriga Nacional Dão Rosé 2009 ***** Claramente o melhor vinho deste painel de rosés da colheita de 2009. Após prensagem direta e suave das uvas da casta Touriga Nacional da vinha Falorca o mosto foi sujeito a fermentação prolongada a baixa temperatura. O resultado final é fantástico pela cor de framboesa, pelos aromas frutados, pelos sabores intensos e persistentes a morangos, framboesas, a uvas bem saborosas e equilibradas na sua maturação e acidez. A Touriga Nacional no seu esplendor rosado. Apenas 3607 garrafas, segundo o produtor Quinta das Escadinhas/Sociedade Agrícola de Silgueiros, que pratica uma agricultura sustentável. Enólogo autor desta obra-prima báquica: Carlos Figueiredo.
Fiúza Touriga Nacional-Cabernet Sauvignon Regional Tejo Rosé 2009 **** Este rosé do Ribatejo surge em boa forma na sua cor acentuada a morango e sabores correspondentes. O casamento luso-francês em termos de castas revelou-se harmonioso.
José Maria da Fonseca Colecção Privada DSF Moscatel Roxo 2009 ***** Domingos Soares Franco fez este rosé a partir da casta rara Moscatel Roxo. A sua excecionalidade deve-se à singularidade da proposta na sua cor salmão, em que predominam os aromas à casta e sabores de frescura intensa e prolongada.
José Maria da Fonseca Colecção Privada DSF Malbec 2009 ***** Varia de vindima para vindima, mas continua em nível excecional. Cor de cereja, vem designado como clarete. A casta Malbec, que os franceses durante décadas menosprezaram, foi “resgatada” pelos tintos famosos da Argentina. Este rosé confirma também a elevada qualidade da casta.
Serras de Azeitão Rosé Península de Setúbal 2009 **** É imbatível na relação qualidade/preço, sendo por isso a melhor compra. Vinificado a partir de uvas das castas Syrah, Cabernet Sauvignon e Moscatel Roxo. Cor de cereja, brilhante, muito frutado e fresco.
Fonte de Nico Castelão Rosé Regional Península de Setúbal 2009 **** Este rosé feito a partir da casta tinta Castelão dominante na área da Cooperativa Agrícola de Pegões revela, na sua cor de salmão, uma significativa riqueza aromática e frescura de sabores.
Monte da Ravasqueira Regional Alentejano Rosé 2009 **** A Touriga Franca, o Alfrocheiro e o Aragonês deram corpo e vida a este rosé muito bem confecionado: frutado nos aromas e na boca, apresenta-se muito equilibrado.
![pecegina, vinho rosé](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/11/6227704pecegina-vinho-ros%C3%A9.jpeg)
Quinta da Malhadinha Nova Rosé de Peceguina Regional Alentejano 2009 ****/***** De cor de morango, este rosé exprime-se com uma grande variedade de aromas (a morangos e framboesas) e sabores frutados intensos. Muito agradável.