Estima-se que atinja cerca de 700 mil portugueses e uma elevada percentagem é composta por crianças (cerca de 20%). A asma é uma inflamação dos brônquios e é uma doença crónica [a doença crónica mais frequente em idade pediátrica], mas tem tratamento. Por outro lado, existem desafios a combater, como alguns mitos que afastam as pessoas com asma do tratamento ou as barreiras de acesso.
“A maioria dos doentes tem uma base alérgica subjacente e uma das características da asma é a sua grande heterogeneidade”, explica João Gaspar Marques. Um doente com uma asma ligeira pode fazer medicação apenas em SOS e em alívio, mas, pelo contrário, os médicos definem a asma grave no “doente que precisa de muita medicação para estar controlado ou um doente que, mesmo fazendo muita medicação, continua a não ter a sua asma controlada”.
Ao contrário do que se possa pensar, esta doença pode surgir em qualquer faixa etária. Apesar de se ouvir falar muito do diagnóstico da asma em idade pediátrica – que é o mais frequente –, o também vice-presidente da SPAIC explica que pode haver uma diminuição dos sintomas na adolescência e “habitualmente, a partir dos 40 anos, os sintomas regressam”. E é possível haver um diagnóstico na fase adulta e nos seniores até com “maior gravidade do que quando a doença surge nas crianças”.
Mitos a combater
Existem muitos mitos a combater relativamente à asma porque originam atitudes e comportamentos errados. “Sabe-se que o próprio exercício físico acaba por ser uma arma terapêutica e promover alterações a nível pulmonar que vão permitir um maior controlo da doença”. Em parceria com o doente, os médicos devem estabelecer um plano terapêutico que permita que a pessoa consiga ter a doença controlada e um desempenho desportivo normal.
Outra ideia errada é a de que as grávidas não podem fazer medicação para a asma. “Sabe-se que a mulher grávida que não cumpre a medicação para a asma tem piores outcomes de gravidez e pode ter complicações associadas ao não controlo da doença”, refere João Gaspar Marques.
Há uma percentagem de mulheres em que a asma piora durante a gravidez, daí que seja imperativo um acompanhamento mais regular levando os médicos a escolher opções terapêuticas mais seguras. “Uma mulher grávida nunca deve parar a medicação para asma”, alerta.
Barreiras à adesão terapêutica
Em relação à medicação, o imunoalergologista partilha nesta conversa a necessidade de haver uma correta adesão à terapêutica e de se evitar a excessiva utilização da medicação de alívio / SOS. Foi apresentado recentemente o estudo Characteristics of Reliever Inhaler Users and Asthma Control: A Cross-Sectional Multicenter Study in Portuguese Community Pharmacies que conclui que um em cada quatro doentes usa o inalador diariamente, o que significa que algumas pessoas podem estar a usá-lo como forma de controlar a doença e 23% usam o inalador três ou mais vezes por dia. Por outro lado, o uso deste tipo de inalador três ou mais vezes por semana pode ser sinal de que a doença não está controlada e representa riscos acrescidos.
João Gaspar Marques corrobora este estudo e indica que “existe uma elevada percentagem de pessoas a recorrer à medicação de SOS em excesso, o que pode associar-se a consequências do foro cardíaco e até à morte”, o que é completamente diferente “da medicação que a pessoa faz preventivamente”.
O acompanhamento dos asmáticos deve ser regular, mas a periodicidade pode ser mais ou menos espaçada. “Idealmente, os doentes deveriam ter uma consulta a cada três, seis meses, mas a maior barreira é o acesso aos cuidados de saúde, o que dificulta o acompanhamento adequado.” A asma tem flutuações de intensidade e é particularmente importante ter acessibilidade a consultas até para prevenir estações do ano mais críticas.
João Gaspar Marques referiu ainda outro tipo de dificuldades. “Nos doentes com asma grave podem ser feitos medicamentos biológicos de uso exclusivo hospitalar nos hospitais públicos e não são passíveis de ser prescritos num hospital privado e há também aqui uma barreira de acesso.”
Estes medicamentos inovadores são específicos para uma franja de doentes, cerca de 5 a 10% que têm formas mais graves da doença às quais está associada uma maior mortalidade. Por outro lado, a frequência de consultas que se consegue manter num hospital privado “é muito maior do que as que se conseguem ter num hospital público, infelizmente”.
É essencial procurar ajuda
Acaba por ficar mais barato tratar a doença com a medicação de alívio do que fazer terapêutica de manutenção e, “por mais que expliquemos às pessoas que incorrem em problemas de saúde com alguns tipos de consequências, isto acontece, não por opção, mas por incapacidade económica de tratar a doença.”
A acessibilidade aos medicamentos pode então ser um entrave. “Muitos medicamentos não são assim tão baratos e vivemos num País com grandes restrições financeiras e sabemos que há doentes que não têm capacidade económica para comprar a medicação que prescrevemos”, refere o médico.
É importante assumir que se tem a doença, procurar ajuda médica e ter a certeza de que “seja qual for o grau de gravidade da asma, há esperança e armas terapêuticas”. Há que procurar ajuda e tentar encontrar algum especialista que trace um bom plano terapêutico para que seja possível ter uma vida normal.
O imunoalergologista defende que “as doenças não devem definir nem limitar as pessoas pois têm uma carga emocional associada que precisamos de desconstruir” e termina este episódio do Conversas Visão Saúde com a boa notícia de que, apesar das dificuldades, “em grande parte, dos doentes conseguimos atingir o controlo da doença”.
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