A Direção-Geral da Saúde (DGS) está a avaliar a possibilidade de a vacinação contra a covid-19 ser alargada à faixa etária dos 12 aos 15 anos. Atualmente, em Portugal, apenas é permitida a inoculação dos adolescentes a partir dos 16 anos.
No entanto, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla inglesa) já aprovou a administração da vacina da Pfizer/BioNtech a crianças entre os 12 e os 15 anos, tal como a sua congénere norte-americana, a FDA. Nos Estados Unidos da América (EUA), a vacinação dos mais novos começou em maio.
O pediatra Mário Cordeiro defende que a decisão da DGS sobre a inoculação dos mais novos já deveria ter sido tomada. No seu entender, a ordem só pode ser “vacinar, vacinar, vacinar”.
“Estando a segurança comprovada, assim como a eficácia, e havendo vacinas, devíamos começar a inocular [as crianças] já hoje”, sustenta — uma posição que não é consensual entre os especialistas.
Apesar de a infeção pelo SARS-CoV-2 ser habitualmente benigna nos mais novos, o médico nota que também ocorrem alguns raros casos graves e que ainda não são claras as consequências da doença a médio e longo prazo nas crianças. Até agora, os estudos revelam que os impactos aparentam ser ligeiros.
A MIS-C ou PIMS, nas siglas anglo-saxónicas, também poderá justificar a vacinação. Esta síndrome é uma manifestação rara que resulta da reação exacerbada do sistema imunitário à infeção pelo vírus SARS-CoV-2. Contudo, a MIS-C não acontece durante a fase aguda da doença, mas cerca de duas a seis semanas depois.
O convidado desta edição das Conversas da VISÃO Saúde recorda que “nenhum medicamento é isento de efeitos colaterais”. Porém, está confiante que os benefícios da vacina superam os eventuais riscos, também ao nível das crianças e adolescentes.
Apesar de se terem registado alguns casos raros de miocardite e de pericardite entre os jovens vacinados nos EUA, a direção-geral da saúde norte-americana, o CDC, manteve a confiança na administração da vacina aos mais novos.
Mário Cordeiro também valoriza o papel que as crianças podem ter no sentido de contribuírem para a imunidade de grupo, que poderá exigir 85 a 90% da população vacinada, devido à elevada transmissibilidade da variante Delta, que já é dominante em Portugal e em vários outros países.
O pediatra deposita uma grande confiança na avaliação das agências do medicamento. E confessa não ter “paciência” para quem não confia nos benefícios da imunização. “Não perco um segundo a discutir com os movimentos anti vacinas. As vacinas são seguras, eficazes e necessárias”, afirma. “Basta olhar para a história de inúmeras doenças” que praticamente desapareceram ou foram controladas. Mário Cordeiro recusa-se a entrar na discussão: “Seria como gastar um neurónio a debater com quem acredita que a Terra é plana”.
Contudo, revela ser contra a vacinação obrigatória para a população em geral. Apenas admite a sua obrigatoriedade para os profissionais que prestam cuidados a terceiros, como os funcionários dos serviços de saúde ou dos lares.
Veja o vídeo ou ouça o podcast da entrevista em que o pediatra também aponta erros à estratégia do Governo, sublinhando que “demasiadas restrições apelam a transgressões”.
Para ouvir em Podcast: