Desde 1965 que Portugal tem um Programa Nacional de Vacinação de “sucesso”. A expressão é de José Manuel Aparício, pediatra e coordenador da Urgência Pediátrica do Hospital Lusíadas Porto.
“A vacinação é um marco fundamental na evolução do ser Humano. Se há 200 ou 300 anos as populações tivessem tido acesso às vacinas provavelmente hoje o mundo seria diferente”, refere.
Fezendo um paralelismo com o momento pandémico que vivemos, o médico nota que “a par da higiene das mãos, a vacinação é o mais importante para que consigamos minimizar a passagem de micro-organismos para dentro do nosso corpo”. As vacinas são “aquilo que nos ajuda a combater doenças” que, se não fosse desta maneira, teríamos “menos gente no Planeta”.
O especialista explica que “uma vacina é um componente biológico preparado laboratorialmente cujo objetivo é informar o nosso organismo de que pode, um dia, vir a contactar com esse estímulo que lhe é colocado no corpo – através de vacinas que podem ser inaladas, ingeridas ou injetadas”. Assim, prossegue, o corpo “passa a ter essa informação e prepara-se para essa informação que recebeu para, mais tarde, agir quando for confrontado com o agente para o qual foi preparado”.
As doenças infecciosas, que mataram milhares de crianças antes de surgirem as vacinas, “são das causas mais aterrorizadoras para a medicina e para a população.”
Aquele “bichinho” (micro-organismo) invisível a olho nu que nos apanha se não estivermos precavidos. As doenças, diz o pediatra, “muitas vezes apanham-se de modo quase invisível, e a Covid-19 veio mais uma vez trazer isto para a população: do nada ficamos doentes, do nada temos a complicação da doença, do nada podemos ficar com mazelas ou do nada podemos morrer.”
Por outro lado, e num mundo global cuja informação corre quase à velocidade da luz, a desinformação e as fake news passaram a ter um papel prejudicial também nesta área.
“Algumas doenças que já estavam controladas estão a voltar. É sempre bom questionar, mas temos alguns grupos da população que, além de questionar, colocam em causa aquilo que a ciência e a medicina já provaram ser eficazes”, nota.
Os grupos “anti-vacina têm alguma expressão nalguns países” e o que se verificou foi que “doenças que estavam controladas” começaram a aparecer de novo, “como foi o caso do sarampo”.
José Manuel Aparício lembra o caso de um “conceituado médico inglês, que veio depois a saber-se estar ligado a uma farmacêutica”, que pôs a circular uma “ligação entre o autismo e a vacina do sarampo”. O sarampo, que é uma doença que pode colocar uma pessoa na cama, completamente dependente, para o resto da vida, ressurgiu em “França e Inglaterra devido à queda da vacinação”.
O médico aponta o dedo às fake news: “São um perigo. As pessoas não se apercebem, mas se fizerem uma pesquisa na internet sobre vacinas, se calhar os primeiros quatro ou cinco assuntos (links) poderão ser de grupos anti-vacinas”.
O alerta em forma de mensagem é que as “vacinas trazem qualidade de vida, saúde e esperança de vida”.
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