Ouve-se falar em testes genéticos na área da nutrição e as dúvidas instalam-se. Será que têm mesmo vantagens, que vão ajudar-nos a perder peso, a fugirmos de certas doenças? Parecem tão bons que tendemos a questionar a sua seriedade e fiabilidade.
Por isso, fomos conversar com a professora Conceição Calhau, nutricionista e coordenadora do curso de Ciências da Nutrição da Nova Medical School, para que nos dissipasse as incertezas e provasse como são Ciência pura.
Logo à partida, esta profissional avisa que os testes não são uma exclusividade da nutrição nem sequer uma novidade – começaram a surgir depois da descoberta do genoma humano, no início deste século. E a grande vantagem deles é o conhecimento das nossas suscetibilidades para certas doenças mono ou poligénicas, como é o caso da obesidade, diabetes ou cancro. Sabendo quais as fragilidades do organismo, é depois mais fácil atuar sobre elas. “Devemos predizer os nossos riscos para podermos ter intervenções mais ajustadas a cada pessoa”, defende. “Conhecer as peças da máquina”, para usar uma linguagem mais comum.
Mais à frente, a investigadora integra estas ferramentas de diagnóstico na corrente que defende uma medicina de quatro Pês, em que se privilegia a predição, a prevenção a personalização e a participação. Neste último caso apela-se à responsabilização do indivíduo que, conhecendo-se melhor, deve optar pelo comportamento mais adequada ao seu caso. Tudo isto vai contribuir para um envelhecimento 3.0 – que sucede ao 1.0, quando não se envelhecia muito, e ao 2.0 quando a vida se prolonga, mas com muita doença associada – em que se dá mais vida aos anos.
Outro exemplo dado no decorrer desta conversa prende-se com a assimilação de vitaminas, como a D ou o ácido fólico. Por vezes, o facto de termos valores baixos no sangue pode querer dizer que existe um problema genético de base que causa essa deficiência na absorção. Nesses casos, a suplementação será sempre diferente do que as recomendações para a maioria da população. Em Portugal, por enquanto, são só as pessoas com mais de 65 anos que estão aconselhadas a tomar vitamina D em contexto de pandemia. Mas Conceição Calhau acredita que isso vá mudar em breve, tal como já aconteceu em outro países europeus.
Depois de as dúvidas iniciais terem desaparecido, aparecem outras. Se os testes genéticos são assim tão eficazes, porque não se tornaram ainda prática corrente na medicina?
Ressalve-se que em contexto privado já começam a ser, caso o nutricionista, o endocrinologista ou o médico de medicina interna os prescrevam. No sistema nacional de saúde a questão é mais complicada, porque estamos a falar de uma ferramenta cara e sem comparticipação. “Creio que isso irá mudar em breve”, aposta Conceição Calhau. Neste momento, os preços estão todos acima dos 100 euros, embora até já haja opções nacionais desenvolvidas em contexto universitário.
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